Paulo Ormindo de Azevedo
Nosso Centro Histórico está caindo aos pedaços e sua vizinhança também. Andei recentemente no Comércio e me dei conta que não só a Rua da Preguiça, a Pr. Cairu e as Ruas do Corpo Santo, Julião e Pilar e as ladeiras do Tabuão, da Montanha e da Preguiça são só ruínas, como a maioria das lojas nas Ruas Miguel Calmon, Portugal, Conselheiro Dantas e Santos Dumont estão fechadas com seus andares superiores se arruinando.
Coincidentemente recebi pela internet uma coleção de postais de Salvador da primeira metade do século XX. Que beleza era a cidade com seus chalés e praças bem cuidadas, que ainda conheci. Que contraste, hoje, com os bairros da Sé, do Tororó, Itapagipe, da Lapa, dos Barris e da Barra, decadentes, que não são mais bairros, porque seus moradores perderam o sentimento de pertencimento. É constrangedor andar nas Ruas Chile, da Independência, e Avs. Sete de Setembro e Oceânica, outrora tão elegantes.
Até a década de 1960, havia, bem ou mal, um projeto de cidade humanizada. A partir de sua metade, Salvador foi dominada pela especulação imobiliária e a indústria do IPTU para fazer viadutos. No lugar de uma padaria é licenciado um edifício de 20 andares e o IPTU multiplicado por 40, não importa se a rua tem ou não condições de circular mais 80 carros e seus moradores têm que rodar 3km para comprar um pão no supermercado mais próximo.
Isto não aconteceu por acaso. Mudou-se o centro da cidade com as melhores intenções, de que o inferno está cheio. Se lembram? “Construindo a nova Salvador sem destruir seu passado”. Em 1933, a Igreja com as mesmas boas intenções vendeu por 30 moedas a tricentenária Igreja da Sé para a criação de um terminal de bondes.
Em 2024, a Igreja baiana está arrendando por 30 patacas o Palácio Arquiepiscopal, restaurado pela lei Rouanet por 9 milhões, para a instalação do Gabinete do Prefeito de Salvador. O museu e arquivo da história da Igreja no Brasil deverão ser acomodados nas pequenas enxovias que restaram na antiga Capela do Colégio de Jesus.
A praça Tomé de Sousa, centro do Poder Civil da primeira capital do país, vem sendo sistematicamente destruída. Primeiro com a construção do Cemitério do Sucupira, depois com a transformação do 1º Palácio de Governo do Brasil em hospedaria e agora com a transferência do Governo Municipal para a Praça da Sé, centro do poder religioso.
A Prefeitura, em vez de criar um centro administrativo da Praça Municipal e Rua Chile, resolveu dispersá-lo em dois níveis, na ilusão que seus funcionários vão morar no Comércio, sem escolas, postos de saúde, lazer e cultura.
É o que se poderia chamar de morte assistida do Centro Antigo, ou tecnicamente eutanásia, morte executada por terceiros. Somos todos culpados pela omissão, que como dizia o Pe. Vieira é aquele pecado que não se comete, se deixa acontecer.FOTOS ANTIGAS DE SALVADOR
SSA: A Tarde, 10/11/2024
É uma tristeza ver todo o nosso patrimônio cultural em ruínas. É uma tristeza ver a nossa cidade suja, mal cuidada, mal utilizada, como se o cidadão que nela habita não tivesse a menor importância. O problema é que, infelizmente, ao menos as cidades históricas que conheço, nossas cidades estão perdendo a sua identidade, perdendo o seu passado. O problema é que nada é feito para sanar o problema, pelo contrário. Assistimos à construção de prédios horrorosos, aliás, a arquitetura que hoje se pratica na Bahia me deixa com uma enorme saudade de arquitetos como Assis Reis, Diógenes Rebouças...
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