quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

NOTÍCIAS DO CENTRO HISTÓRICO

Você acha que "isso" pode ser permitido no centro histórico de Salvador, 
tombado pela UNESCO?


Com estatutos, CNPJ e uma diretoria altamente competente, o bairro de Santo Antônio acaba de ganhar uma associação de moradores, preenchendo uma lacuna de 30 anos. Vamos torcer para que os poderes públicos entendam que a comunidade tem hoje representatividade oficial e concreta. A AMSA chega em bom momento para que o bairro não continue terra de ninguém, onde quem tem padrinho tudo pode, como é o caso de certo restaurante indiferente às limitações do patrimônio tombado pela UNESCO. 

Em carta de 18/12/2024 à Prefeitura, ficou claro que os moradores discordam quando a gestão Bruno Reis se permite invadir o bairro com uma programação descabida. O Festival Som do Sabor pode ser benvindo em amplo espaço, como a Fonte Nova ou a Feira dos Municípios, mas não no reduzido Largo de Santo Antônio. Significa que, como na época quando o Forte era sede de grupo carnavalesco, teremos rios de mijo nas portas, depredações, xingamentos, engarrafamentos, isopores desordenados, excesso de lixo e gritaria quando não algo pior.                                                                                                       Sempre é bom lembrar que a palavra Democracia significa que o poder vem do povo.

O vizinho bairro do Pelourinho acaba de festejar a inauguração da Vila Nova Esperança, proposta imatura de recém-eleito secretário de Cultura em 2007. Ou seja: levou 17 anos para virar realidade. Minha opinião, se me permitirem, é que pouco tem a festejar. Com tantos imóveis abandonados, caindo aos pedaços, não havia razão nenhuma para gastar tanta grana – e tão mal -  ocupando um dos poucos espaços verdes do centro histórico. Podia abrigar uma bela creche, que tanta falta faz a comunidade, no meio de um paisagismo bem tropical. 

Porque demorou dezessete anos para se construir um conjunto tão desprovido de identidade com o patrimônio? Resposta: por puro e exclusivo desinteresse dos governantes. E mais: ao princípio, o projeto era para ser realizado pelo arquiteto Marcelo Ferraz, responsável pela adaptação do Palacete das Artes e discípulo de Lina Bô Bardi. Mesmo sem o gênio da italiana, teria feito algo menos desesperadamente medíocre que “isso”. Mesma safra que os deprimentes “Minha casa, minha vida” denunciados no filme “Central do Brasil”. Os bons arquitetos da Bahia continuam engavetados. Como o professor Pasqualino Magnavita, autor do projeto Palco Móvel do Largo do Pelourinho, amplamente divulgado em revistas especializadas pelo mundo afora. O projeto não foi executado nos anos 90 porque ACM recusou o “esquerdista”. Duas décadas depois, com outra opção política, Pasqualino permanece mofando na gaveta. Nossos governantes têm medo de qualidade. Mediocridade é mais confortável.

Dimitri Ganzelevitch

A Tarde, 4 janeiro 2025

 

Um comentário:

  1. Na realidade estes políticos de herança coronelesca pouco estudaram e sobretudo HISTORIA DA 1.A CAPITAL DO PAÍS!
    Não têm identidade histórica porque não leem, e se tornam donos do mundo que já sabe oque é e i que quer!
    O Bairro de Santo Antônio resistirá à violência da politicagem.

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