Neste XIV
Panorama de Cinema que está se firmando como um dos mais sérios acontecimentos
da Sétima Arte no Brasil, assisti, e comigo mais umas 500 pessoas na mesma
sessão, a um documentário que naquela noite não me permitiu dormir de consciência
leve, mas que, estranhamente, não levou o prêmio Marielle Franco. “Sem
descanso”, do francês radicado na Bahia desde 2005 Bernard Attal, trata do tema
angustiante dos policiais que matam. Já sei: é de praxe afirmar que só se trata
de parcela ínfima dos profissionais pagos pelos contribuintes para nos
proteger. Mas como é ativa, esta parcela! Estatísticas da Anistia Internacional
revelam que mais de 30 mil jovens são executados no Brasil pela polícia a cada
ano. Na maioria, negros. Vivemos uma democracia onde ser negro é ser suspeito.
O Geovane
podia não ser um anjo imaculado, mas quem, dentre os leitores, quando
adolescente, trabalhado pela testosterona, nunca fez besteiras? O drama deste
garoto foi ter cruzado com uma viatura da PM. Além de lhe roubar a moto,
roubaram-lhe a vida. Preso, torturado, degolado vivo, queimado, esquartejado,
teve a cabeça, os testículos e as mãos jogados no mato do parque de São
Bartolomeu. Graças à câmera de uma casa vizinha da abordagem e ao GPS da
viatura, as investigações chegaram a 11 agentes!
Destes 30
mil jovens assassinados pela polícia, quantos casos foram resolvidos, culpados
punidos e expulsos da corporação?
A diferença,
no caso do Geovane, foi a teimosia do pai, o Jurandhy. Desafiou o real perigo
de ser ele também morto para não incomodar mais. Vendo a cidadela surda e cega
do Poder se omitir, foi até o jornalista Bruno Wendel que não hesitou em
mergulhar neste lamaçal.
Em 2015, a Rede Bahia informava: “Três policiais
militares suspeitos (...) no desaparecimento de Geovane Mascarenhas de
Santana, que foi encontrado morto em Salvador, chegaram a ser presos em de
agosto de 2014, no Batalhão de Choque da PM, em Lauro de Freitas (...).
Os três PMs (...) cumpriram 60 dias de prisão provisória.
O advogado dos policiais informou (...) que o delegado não requereu prisão
preventiva. (...) são Cláudio Bonfim Borges, Jailson Gomes de Oliveira e
Jesimiel da Silva Resende. Um deles é subtenente, com mais de 20 anos de
atuação, e era comandante da guarnição. Os demais têm 11 e 14 anos de polícia.
”
Não sendo crítico de cinema, não falarei de direção,
movimento de câmera ou montagem. O importante, neste caso, é o registro cinematográfico
de uma sociedade covarde que escolhe virar a cara, mesmo sabendo perfeitamente
que amanhã alguém de sua família pode ser a próxima vítima.
Onde estão hoje todos os PMs envolvidos? No bem-bom?
Na
penitenciária, com certeza não estão.
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