Principais avenidas mostram como Salvador perdeu áreas verdes para construções, avalia ambientalista; confira antes e depois
Coordenador do Meio Ambiente da Ufba aponta impacto da supressão da vegetação na cidade. Qualidade de vida é prejudicada.
Por Ailma Teixeira
Av. Juracy Magalhães, em Salvador, em meio à implantação do BRT — Foto: Cedoc/TV Bahia
"Salvador vem perdendo área verde gradativamente". A avaliação compartilhada por ambientalistas é do professor do Instituto de Geociências da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e coordenador do Meio Ambiente da Superintendência de Meio Ambiente e Infraestrutura (Sumai-Ufba), Antonio Lobo.
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De acordo com ele, a capital baiana segue na direção contrária de cidades do Nordeste como Sergipe e Maceió, que têm conseguido até mesmo ampliar a vegetação. Em Salvador, empreendimentos privados construídos de forma inadequada e estratégias para o avanço da mobilidade adotadas pelo poder público estão entre as causas da supressão indevida de áreas verdes.
"Um dos motivos é a ocupação de áreas da cidade, seja através de obras do poder público, da prefeitura, do governo do estado", aponta o professor, antes de elencar alguns exemplos em entrevista ao g1.
"A ocupação de parte do canteiro verde da Paralela para a implantação do metrô, a ocupação de parte do canteiro verde em algumas avenidas, como a Vasco da Gama, para a implantação do BRT, que é a obra mais recente. Com a construção de viadutos, que não é o tipo de obra mais indicada nas cidades mais avançadas, mais desenvolvidas".
Neste Dia Mundial do Meio Ambiente, relembre como eram e como ficaram as avenidas Luís Viana (Paralela) e Juracy Magalhães (que abriga uma estação do BRT) antes e depois das obras de transporte:
- Av. Juracy Magalhães - antes e depois da implantação do BRT (deslize para ver a diferença)
- Av. Paralela - pré-implantação do metrô:
Av. Paralela, em Salvador, antes das obras do metro — Foto: Cedoc/TV Bahia
- Av. Paralela - pós implantação do metrô:
Av. Paralela, na região do Imbuí, em Salvador — Foto: Reprodução/CCR Metrô
Alternativas para o desenvolvimento sustentável
Procurado pelo portal, o presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo da Bahia, Tiago Brasileiro, concorda que há outras formas de pensar o desenvolvimento da cidade com menor impacto ambiental. Segundo ele, atualmente "há várias técnicas, materiais e concepções de infraestrutura urbana que visam simular o funcionamento dos elementos naturais".
Brasileiro listou algumas questões a serem consideradas no planejamento urbano:
- promover arborização e recomposição da vegetação natural em áreas ambientalmente sensíveis (margens de rios e lagoas, praias, dunas, manguezais, encostas, etc.), especialmente para minimizar enchentes, deslizamentos e outros impactos decorrentes de eventos climáticos extremos, cada vez mais frequentes;
- priorizar estruturas de drenagem e macrodrenagem, que possibilitem um escoamento mais difuso e bem distribuído no território, como jardins de chuva, bacias de retenção e valas de infiltração, evitando que as águas pluviais se acumulem rapidamente nas áreas mais baixas;
- definir, nos instrumentos de planejamento (principalmente o PDDU, Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano), altura e afastamento de edificações, adequados à manutenção da ventilação natural, evitando-se a formação de ilhas de calor;
- garantir, nos instrumentos de planejamento (principalmente o PDDU), que as áreas verdes da cidade sejam preservadas e consideradas como non edificandi, ou seja, áreas onde não podem haver construções.
No quesito mobilidade, o arquiteto e urbanista destaca ainda que há opções mais indicadas que o BRT, "hoje em dia considerado um modal de transporte que demanda grandes áreas para implantação e vias expressas que seccionam o território urbano".
"Os modais menos agressivos às áreas verdes são, sem dúvida, os meios de transporte sobre trilhos, como o VLT, que permite inclusive compartilhamento do espaço urbano, bem como o metrô, que, por sua vez, pode ser implantado em trechos subterrâneos, o que reduz significativamente o impacto nas áreas verdes", avalia.
A capital baiana ainda não tem VLT. A obra, que provocou a desativação dos trens do Subúrbio há três anos, ainda não saiu do papel.
Já o metrô tem a maioria de suas 21 estações no nível da rua — a única estação subterrânea é a Campo da Pólvora, na linha 1.
Efeitos climáticos
O cenário preocupa especialmente por conta do contexto de mudanças climáticas. Como o professor esclarece, a tendência é de cada vez mais chuvas torrenciais — "extremamente fortes, com muita pluviosidade" —, e o deflorestamento da cidade é um agravante.A consequência já é vivenciada por soteropolitanos. Dias de fortes chuvas culminam em ruas alagadas, deslizamentos de terra e risco à vida e moradia dos cidadãos.
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