Quem declara, de boa-fé, que Salvador possui o maior conjunto
barroco das Américas carece dramaticamente de informação.
Quito, Puebla, Arequipa, México, Lima, Cuzco e Ayacucho são
infinitamente mais ricos em igrejas, conventos e palácios dos séculos XVII e
XVIII. Em contrapartida, temos em Salvador o maior acervo de azulejos
portugueses do mundo lusitano fora de Portugal. E este mesmo patrimônio é abandonado
de forma criminosa pelos poderes que se dizem responsáveis. Aliás, a cultura,
como o turismo, são confiados a apadrinhados políticos que não têm o mínimo
preparo para tão pesadas tarefas.
Foi exatamente esta lamentável omissão que levou um pequeno,
mas entusiasta grupo a estruturar a II Semana Internacional do Azulejo nos
mesmos moldes que a primeira, realizada em 1999. Sempre no Museu de Arte Sacra,
o diretor Francisco Portugal, os professores das Belas Artes Zéila Machado,
Luiz Freire e eu temos trabalhado meses para que, na terceira semana de
setembro, aconteça um evento que deve atrair, como da primeira vez, pesos
pesados do mundo fascinante de uma arte nascida antes da era cristã pelos lados
da Mesopotâmia. Do México, de Portugal, da França e de vários estados
brasileiros virão conferencistas com currículos prestigiosos.
Vale ressaltar o apoio decisivo de empresas privadas para
gerar este evento, já que do Estado nem nos aproximamos, e da prefeitura de Salvador
recebemos um rotundo “Não”, mesmo com o empenho de uma prima carnal do atual
prefeito. Como poderia dedicar uns míseros R$30 mil para um seminário atraindo
arquitetos, historiadores e colecionadores -
gente que pensa e estuda – quando milhões são encontrados sem
dificuldade para Wesley Safadão, Cláudia Leitte e outros Kanários? Esta
inversão de valores tem um preço: a pauperização econômico/cultural dos
visitantes e o fechamento de dezenas de hotéis. Nossos edis continuam ignorando
uma verdade básica: a quantidade sempre dependerá da qualidade.
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