sábado, 30 de julho de 2016

TESOURO DESPREZADO



Quem declara, de boa-fé, que Salvador possui o maior conjunto barroco das Américas carece dramaticamente de informação.
Quito, Puebla, Arequipa, México, Lima, Cuzco e Ayacucho são infinitamente mais ricos em igrejas, conventos e palácios dos séculos XVII e XVIII. Em contrapartida, temos em Salvador o maior acervo de azulejos portugueses do mundo lusitano fora de Portugal. E este mesmo patrimônio é abandonado de forma criminosa pelos poderes que se dizem responsáveis. Aliás, a cultura, como o turismo, são confiados a apadrinhados políticos que não têm o mínimo preparo para tão pesadas tarefas.


Foi exatamente esta lamentável omissão que levou um pequeno, mas entusiasta grupo a estruturar a II Semana Internacional do Azulejo nos mesmos moldes que a primeira, realizada em 1999. Sempre no Museu de Arte Sacra, o diretor Francisco Portugal, os professores das Belas Artes Zéila Machado, Luiz Freire e eu temos trabalhado meses para que, na terceira semana de setembro, aconteça um evento que deve atrair, como da primeira vez, pesos pesados do mundo fascinante de uma arte nascida antes da era cristã pelos lados da Mesopotâmia. Do México, de Portugal, da França e de vários estados brasileiros virão conferencistas com currículos prestigiosos.

Vale ressaltar o apoio decisivo de empresas privadas para gerar este evento, já que do Estado nem nos aproximamos, e da prefeitura de Salvador recebemos um rotundo “Não”, mesmo com o empenho de uma prima carnal do atual prefeito. Como poderia dedicar uns míseros R$30 mil para um seminário atraindo arquitetos, historiadores e colecionadores -  gente que pensa e estuda – quando milhões são encontrados sem dificuldade para Wesley Safadão, Cláudia Leitte e outros Kanários? Esta inversão de valores tem um preço: a pauperização econômico/cultural dos visitantes e o fechamento de dezenas de hotéis. Nossos edis continuam ignorando uma verdade básica: a quantidade sempre dependerá da qualidade.

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