terça-feira, 30 de janeiro de 2018

UM ATO LAMENTÁVEL

Seg , 03/11/2008 às 22:15

Espólio de Jorge Amado vai a leilão no Rio de Janeiro

Liana Rocha, do A TARDE

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Agora dá para ter um Jorge Amado na parede, além dos muitos das estantes. Quem quiser garantir uma das 578 peças que fizeram parte da coleção particular do autor e de sua esposa, Zélia Gattai, pode participar do leilão que vai ser promovido pela família do dia 18 a 21 de novembro, através de Soraia Cals Escritório de Arte, no Rio de Janeiro.

O número de obras a ser negociado corresponderia a cerca de um terço do acervo deixado em herança. Segundo a escritora Paloma Amado, filha do casal, o acervo total seria de cerca de 1.500 peças. O restante delas continua com a família. Muitas das obras em leilão foram presenteadas pelos próprios artistas ao casal – e quase todas têm dedicatória. É o caso de um retrato de Jorge pintado por Flávio de Carvalho, cujo lance mínimo é de R$ 750 mil.

As peças de maior destaque serão leiloadas no primeiro dia, segundo informa a relações públicas Marcella Cals. Há obras de Djanira, Floriano Teixeira, Segall, Carybé, Carlos Scliar, Volpi, Anita Malfatti, Pancetti, Antonio Bandeira, Diego Rivera e até Picasso, dentre outros. Os itens mais baratos, entretanto, são decorativos: um conjunto com seis potinhos de cristal, cujo lance mínimo é de R$ 125.

PROPRIEDADE – “As pessoas nos julgam como se estivéssemos usurpando um bem público para benefício próprio, mas se esquecem que estamos fazendo isso com o que é de nossa propriedade”, diz a escritora Paloma Amado, filha dos escritores.

Consciente do direito da família de dispor de seus bens particulares como melhor lhes aprouver, Paloma explica que uma parte do dinheiro arrecadado com o leilão será revertida para a Fundação Casa de Jorge Amado.

Outra parte será utilizada para reformas na casa onde seus pais viveram, no Rio Vermelho. “Mas que fique bem claro que não tomamos a decisão de vender as obras em função da casa. Foi por vários motivos e um deles foi poder recuperar nossa casa. Não o memorial, mas a casa do Rio Vermelho, que está se acabando”.

TOMBAMENTO – A idéia de transformar a casa em Memorial, está temporariamente arquivada pela família. Tanto que o tombamento da casa, que no início do mês passado acabara de receber finalmente a aprovação da Câmara de Patrimônio do Conselho de Cultura, não foi levado adiante, a pedido da própria família ao governador Jacques Wagner, que acatou a vontade dos Amado.

Paloma, que se mostra um pouco desgostosa com o assunto, diz que o tombamento não seria mais do interesse da família por agora. “O que achávamos que seria simples, em função do acervo e do que implica o memorial, não foi simples, nem factível”, lamenta.

Sem tombamento, entretanto, ela aponta ser muito mais fácil reformar a casa. “Com o resultado do leilão, vamos poder consertar. Se ela fosse tombada, provavelmente cairia”, considera, afirmando que a prioridade é deixar a casa em ordem.

O projeto do memorial, por ora engavetado, não impede, entretanto, que o espaço possa ser conhecido pelos amantes da literatura amadiana. “A gente vai arranjar uma maneira para quem quiser fazer uma visita, visitar”, antecipa Paloma.

Muito além das considerações de bom tom – afinal, será que fica feio vender o que amigos presentearam a seus pais? – o leilão da coleção de Jorge Amado e Zélia Gattai, produz polêmica pela grande associação do escritor com a Bahia.

PALPITES – A sensação de “posse” é tão forte que, segundo Paloma Amado, ela está escutando críticas e palpites sobre algo que só diz respeito à família mesmo. Mas se desconhecidos se indignam com a decisão tomada, quem tem laços emocionais com algumas das peças que vão a leilão tem visão mais equilibrada.

“Acho que é uma pena não ficar com a família mas, se é para ser aplicado na Fundação Casa de Jorge Amado, a finalidade é útil”, acredita Alice Teixeira, viúva de Floriano Teixeira, cuja aquarela original para capa de A morte e a morte de Quincas Berro D’Água, vai a leilão.

Já Nancy Bernabó, viúva de Carybé, só lamenta não ter dinheiro suficiente para arrematar alguma obra do marido. “Se eu pudesse, comprava. Soube que há muita coisa que Carybé deu a Jorge que eu gostaria de levar para o instituto que estou criando para preservar a memória dele”, afirma a viúva.

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