quarta-feira, 7 de agosto de 2019

A DOENÇA DO MOMENTO

BRASILOSE, A DOENÇA DO MOMENTO (POLÍTICO)

Os estudos indicam que qualquer tipo de exposição ao noticiário político está diretamente relacionado com o contágio por brasilose. Mais especificamente, com as reportagens que tratam da situação atual do Brasil. Viu, pegou.
Cientistas estudam células de câncer em televisão, 1958 Foto: Walter Sanders / The LIFE Picture Collection via
Cientistas estudam células de câncer em televisão, 1958 
Foto: Walter Sanders / The LIFE Picture Collection via

A sala de espera do consultório está cheia. Os pacientes mexem no celular, rolando as timelines como se elas tivessem fim. Todos menos um homem, abatido, com a vista perdida nas paredes lisas e brancas, vazias. Mal escuta quando chamam seu nome. Levanta-se devagar e caminha mais devagar ainda até se sentar diante do médico.

– Alguma queixa, seu José?
– Várias, doutor... Por onde eu começo? Tem esse enjoo, que não passa.
– Certo.
– Muita dor de cabeça. Esses dois são os piores. Às vezes acontece também que eu fico sem ar, sabe? E não tenho dormido direito...
– Acorda no meio da noite? Ou nem chega a dormir?
– Deito e fico virando de um lado pro outro. Se cochilo, é por cinco minutos, no máximo. Daí não fecho mais os olhos, fico encarando o teto, como se estivesse morto.
– Certo.
– Por causa do enjoo, também não consigo comer. Ponho cada vez menos comida no prato, e cada vez sobra mais. Fico com dó de jogar fora, ainda mais com essa crise, mas não tem jeito. Não desce.
– Certo. Uma pergunta, seu José: o senhor acompanha o noticiário?
– Um pouco, sim.
O médico termina de digitar no seu laptop. Entrelaça os dedos e olha pela primeira vez para o homem.
– Náusea, cefaleia, fôlego curto, distúrbio de sono... Seu José, esses são os sintomas típicos de um caso de brasilose.
– Brasilose?
– Brasilose, sim. É um nome informal, por ora, para essa doença que o Brasil tem causado, esse mal-estar. Saiu até uma reportagem da Eliane Brum sobre isso, talvez o senhor tenha visto. Não é o primeiro paciente que me vem aqui com um quadro clínico de brasilose. Não é nem o primeiro de hoje.

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