Vencedora do prêmio 'Educador Nota 10' é atacada a tiros em Rondônia
Além de ser uma dos 10 vencedores do prêmio, professora também ganhou na categoria Educador do Ano. Elisângela estava com marido a caminho de aldeia; ninguém se feriu.
Por Rogério Aderbal e Marco Bernardi, G1 Cacoal e Zona da Mata
Elisângela Dell-Armelina Suruí, de 38 anos, venceu o prêmio em outubro — Foto: Ana Carolina Moreno/G1
A vencedora do prêmio "Educador Nota 10" 2017, incluindo a categoria "Educador do Ano", Elisângela Dell-Armelina Suruí, foi atacada a tiros por bandidos em Cacoal (RO). A tentativa de homicídio ocorreu quando ela e o marido voltavam de moto para a Aldeia Paiter Suruí, entre a noite de quarta-feira (29) e esta quinta-feira (30). O casal não se feriu no ataque e fugiu a tempo para pedir ajuda.
Nesta quinta-feira, Elisângela foi até a Polícia Federal (PF) de Ji-Paraná para registrar uma ocorrência.
Naraymi Suruí, esposo da educadora, é cacique na aldeia Paiter Suruí da Linha 12 e acredita que o ato foi uma retaliação por parte de madeireiros que estavam derrubando castanheiras na terra indígena Sete de Setembro e foram expulsos pelos indígenas.
Conforme Elisângela, ela, o esposo e o cunhado dele foram à Cacoal na quarta-feira para despachar uma carga de castanha para ser beneficiada no Paraná.
Educadora ao lado do marido, após ser premiada como Educadora do Ano — Foto: Rogério Aderbal/G1
Quando retornavam de moto para a aldeia, à noite, foram seguidos por uma dupla que também estava em uma moto. Os suspeitos parearam com a moto do casal, apontaram uma arma de fogo e efetuaram vários disparos em direção ao casal.
“Quando deram o primeiro tiro a gente caiu e ficou por trás da moto e eles continuaram atirando. Quando estavam descendo do veículo para ir em nossa direção, o cunhando de meu marido, que estava para trás, se aproximou e eles se assustaram e correram”, conta.
Depois que os atiradores foram embora, as vítimas pediram ajuda a um morador às margens da estrada, que acionou a Polícia Militar (PM).
“Os policiais perguntaram se a gente tinha alguma desavença e nos orientou a não seguir viagem para aldeia, com isso, eles nos escoltaram até a cidade onde passamos a noite na casa de um amigo e hoje (quinta-feira), fomos prestar depoimento na Polícia Federal”, revela.
Ameaças
Há cerca de duas semanas, de acordo com a professora, os indígenas da aldeia foram recolher castanhas e se depararam com madeireiros cortando as árvores de castanheiras. Eles estavam tirando o material da floresta em caminhões, o que revoltou a população local.
Madeiras que estavam sendo retiradas por madeireiros — Foto: Arquivo Pessoal
"A comunidade pediu para eles se retirarem, falaram que iriam sair, mas na semana passada, quando os indígenas retornaram para colher castanha, encontraram quatro caminhões carregados com castanheiras e também tratores arrastando os caminhões pela mata. Meu sogro ficou revoltado e danificou um dos caminhões com facão. Depois disso, eles [madeireiros] passaram a ameaçar a comunidade. Falaram que iria matar principalmente meu marido, pois acham que ele que está à frente do movimento por ser o cacique”, revela Elisângela.
Cooperativa desagradou
Também, segundo a professora, outro ponto que tem desagradado os invasores das terras indígenas foi a criação da Cooperativa de Produção e Desenvolvimento Indígena Paiter (Coopaiter).
“Essa cooperativa foi criada na fim do mês de outubro com o objetivo de legalizar e facilitar a comercialização dos produtos extraídos nas aldeias, sem o intermédio de terceiros. E isso tem desagradado os invasores que entravam nas terras indígenas para comprar madeira ilegal e explorar garimpo, com a permissão de alguns índios, que acabavam permitindo a presença deles por não ter outra fonte de renda”, aponta.
Busca por justiça
Naraymi Suruí conta que nunca recebeu ameaças pessoalmente, apenas por terceiros.
“A gente sabia das ameaças, mas não acreditava que iriam fazer nada contra a nós, mas agora descobri que sou o alvo deles.
Segundo Elisângela Suruí, o clima na aldeia é de medo e espera que as autoridades se unam para garantir a segurança nas comunidades indígenas da região.
“A gente já havia falado das ameaças com a PF. Meu sogro já esteve duas vezes esta semana também com eles. Agora a gente espera que alguma coisa seja feita para garantir a nossa segurança e da comunidade, pois essas pessoas são da região e conhecem toda a área e a qualquer momento podem jogar gasolina e colocar fogo em todas as casas lá da aldeia”, conta.
O que dizem as autoridades
Ao G1, coordenador regional da Fundação Nacional do Índio (Funai), Paulo Ricardo Souza Prado, informou que está participando do um encontro em Brasília e não poderia falar sobre o assunto no momento.
A Polícia Federal também não se manifestou sobre o assunto.
O procurador Murilo Constantino disse que o Ministério Público Federal (MPF) recebeu a comunicação do fato junto com os órgãos e irá atuar para a apuração dos fatos. “O MPF protege os indígenas em relação aos seus direitos e atua para a responsabilização dos envolvidos".
Ainda de acordo com o procurador o MPF as ações irão se tomadas, mas não podem ser reveladas para não atrapalhar as investigações”, aponta.
Educadora do Ano
A professora Elisângela Dell-Armelina Suruí, de 38 anos, dá aulas na Escola Indígena Estadual de Ensino Fundamental e Médio Sertanista Francisco Meireles, na aldeia Paiter Suruí da Linha 12 em Cacoal. A professora foi uma dos dez vencedores do prêmio Educador Nota 10 e também ganhou na categoria Educador do Ano, no mês de outubro, por seu projeto de alfabetização na língua indígena Paiter Suruí.
O projeto de Elisângela, batizado de "Mamug Koe Ixo Tig", que significa "A fala e a escrita da criança", incluiu a elaboração de um material didático próprio em Paiter Suruí para os 15 alunos do 1º ao 5º ano do ensino fundamental, que estudam todos na mesma sala multisseriada.
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