Mario Vitor Rodrigues
A imagem de alguém com problemas de sobrepeso manifestando júbilo ao descer de um helicóptero é especialmente cara a fluminenses e cariocas de meia-idade. Remete a uma época em que o Maracanã ainda era o Maracanã; as crianças ainda acreditavam em Papai Noel; o Rio, apesar de perigoso, não era tão violento. Pois na manhã desta terça outro paralelo assaz deprimente com o passado se impôs: em que pese a vista grossa de inúmeras gestões em relação ao crime organizado, jamais fomos governados por um sádico.
A cena de Wilson Witzel celebrando com os punhos cerrados a morte do sequestrador que pôs em risco 37 vidas após desajeitadamente saltar do helicóptero em plena Ponte Rio-Niterói é sintomática. Não se trata apenas de um reflexo do atual momento em que vivemos, tendo em vista um presidente da República dedicado a estimular diariamente a polarização e o desdém para com os parâmetros mais básicos de civilidade. Trata-se de barbárie. Transige com a psicopatia.
Sei bem, ao ler estas linhas muitos devem questionar se estou sugerindo que o desfecho do trágico episódio não foi razoável. Inclusive se busco defender o sequestrador. Sinal dos tempos. Hoje em dia o óbvio não apenas precisa ser dito como revelado às pressas, sob pena de logo escantearem o mensageiro para a última ponta da arquibancada rival.
Não, não estou defendendo o criminoso que ameaçou a vida de quase meia centena de inocentes. Quanto ao desfecho, embora eu não seja especialista para avaliar situações do tipo, pareceu-me adequado. Ao contrário da matança desenfreada de jovens inocentes nas favelas do Rio pelas forças do Estado — matança, diga-se, rigorosamente menosprezada pelo governador —, desta vez não havia outro caminho.
A questão não passa por avaliar a atuação da Polícia Militar ou mesmo do Bope. O cidadão comum jamais terá condição de determinar qual seria a melhor conduta em operações de risco. Tanto no Rio e em São Paulo quanto nas capitais do Nordeste, onde o problema da violência consegue ser ainda pior, o cidadão já faz o possível: esconde-se. Evita saídas noturnas desnecessárias. Mora em condomínios gradeados e, quando não há outra alternativa, reza.
O ponto é que estamos sendo liderados por pessoas que claramente se regozijam com a atual situação. E tanto faz se a euforia tem fundo político ou psicológico, ainda que no caso do Rio as duas hipóteses não sejam excludentes.
No fim das contas, se Witzel demonstra total falta de empatia, e mais do que isso se celebra corpos que caem, isso diz mais sobre nós do que sobre ele.
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