quinta-feira, 22 de agosto de 2019

FICA SÓ A DOR


Sequestrador desceu do ônibus armado e mostrou o rosto — Foto: Reprodução/GloboNews
Tenho visto muita gente fazendo proselitismo em relação à morte do sequestrador do ônibus no Rio. 
Lamento não pela morte dele, mas pela vida que teve e que certamente é a de muitos brasileiros pobres, sem educação e sem perspectivas, e que fazem qualquer coisa para sair da invisibilidade em que vivem.
Muita gente critica a polícia por tê- lo matado e não entendo isso.
Não é algo a se festejar, mas pior seria chorar a morte de 37 inocentes. 
Como saber o que poderia ter acontecido se ele não tivesse sido alvejado?
A Polícia, com toda certeza, teria sido acusada de não ter sido capaz de controlar a situação e culpada pela morte dos reféns.
   Quanto à dor da mãe é compreensível. Que mãe quer enterrar um filho? Ainda mais numa situação como essa , ameaçando a vida de outras pessoas, como um criminoso.
Ela vai precisar de apoio psicológico, como mães e filhos dos reféns precisariam e quem sabe ainda precisem.
Qual o refém que , por um longo tempo, não se sentirá temeroso em pegar um ônibus?
A entrevista dela e de familiares pedindo desculpas pelo ato do filho sim me deu pena. Coitada. Sente- se culpada por uma culpa que não é deles.
As famílias de assassinos em massa, em geral, se sentem culpadas pelos crimes dos filhos. Sentir pela morte das crias é um sentimento muito forte, porém ainda mais forte quando essa cria comete crimes hediondos.
Se ele tivesse matado essas pessoas ela e a família teriam que se mudar e até mudar de nome. Chorar seria pouco. Ficariam marcados pelo resto da vida e teriam que se esconder.
Vejam o caso dos crimes em massa nos EUA.
Chorar por um filho que é, ou pode ser agente de um massacre, é pior que chorar por uma morte natural .
Não sou chegada a proselitismos nem a teorias pouco reais, geradas quase sempre ao sabor de que lado estão os atores.
A minha não depende disso. Providências devem ser extremas para fatos extremos em que inocentes estejam em risco.
Há quem diga que o rapaz ia se render. Ia mesmo?
Cada um pode imaginar o que quiser. A palavra SE não cabe nesses casos. Inclusive porque ele deu a entender aos reféns que não pretendia sair vivo da empreitada.
Creio que essa mãe prefere, e está certa, em chorar a morte do filho , que a morte de 37 pessoas assassinadas por ele.
Fica só a dor. Sem culpa.

Aurora Vasconcelos

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