Capela da Pena: Preciosidade do Recôncavo baiano pedindo socorro
A Fazenda do Engenho Velho do Paraguaçu, de propriedade do Sr. Carlos Eduardo Diniz Gonçalves possui uma Capela de pequena área, importantíssima edificação religiosa tipicamente rural do século XVII, pertencente ao Recôncavo baiano, cuja situação geográfica é margeando o rio Paraguaçu no município de Cachoeira, Bahia.
Intitulada de Capela de Nossa Senhora da Pena, portanto, a Nossa Senhora da Pena é a patrona, que foi invocada no período renascentista devido aos artistas daquela época, tanto da área escrita quanto das artes plásticas, que, em busca de proteção e inspiração, solicitavam à Virgem Maria. Sendo assim, a Virgem passou a ser reverenciada como protetora e padroeira das artes, dos artistas, dos escritores, dos publicitários. Sua representação é segurando uma pena (caneta) na mão direita e um livro na mão esquerda. O manto azul simboliza que ela está no céu e, de lá, intercede pela inspiração dos que a pedem.
O frontão da capela assinala o ano de 1660, sua nave é quadrada encimada por cúpula e sobre a capela-mor, planta semicircular com teto em meia abobada, nas laterais, de um lado a sacristia e do outro a sala de apoio.
Nave, capela-mor, sacristia (lado direito), sala de apoio (lado esquerdo), piso da nave e meia cúpula que situada sobre altar mor, todas essas áreas são revestidas com azulejos portugueses, padrão massaroca, nas cores branca, azul e amarela, típico dos azulejos portugueses do século XVII que se encontram no Brasil, sendo que no piso os azulejos coloridos são alternados com azulejos brancos e tijoleiras formando o desenho do rebatimento da cúpula.
A meia cúpula do altar mor é a reprodução de uma concha invertida, também revestida de azulejos coloridos e brancos em linhas horizontais, alternando duas fiadas coloridas e uma branca, criando assim a ilusão de profundidade, como se fossem as nervuras da concha.
Santos Simões, grande especialista em azulejaria portuguesa, falecido no ano de 1972, relata em seu livro Azulejaria portuguesa no Brasil, 1500 -1822 (p. 63,1965) , que dentre as edificações civis e religiosas mais importantes do Brasil a capela da Pena é de extrema importância tanto na linguagem arquitetônica quanto no bem integrado - a azulejaria, e, por coincidência, no dia da sua visita - 20 de agosto de 1959 - a capela estava passando por processo de manutenção realizada pelo órgão responsável do patrimônio histórico brasileiro, o DPHAN, atual IPHAN.
O autor fez análise detalhada da Capela de Nossa Senhora da Pena, relatou cuidadosamente a sua localidade, a edificação e finalmente a azulejaria de forma significativa:
“Já pelas proporções e forma arquitectónica de grande singeleza e purismo já, principalmente, pela pitoresca localização de sopé da serra de São Francisco, sobranceira ao rio, a ermida do Engenho Velho é das mais agradáveis e fascinantes surpresas que se oferecem ao viajante que demanda Cachoeira pela via fluvial”.
De fato, a capela é uma pérola para o patrimônio brasileiro, pois é um exemplar arquitetônico único, simples e com raros elementos arquitetônicos e decorativos:
1. Azulejaria: Padrão 2X2 do tipo tapete e decoração massaroca, muito comum naquele período.
2. Meia cúpula sob o capela-mor: Com formato de uma concha vieira de desenho invertido acolhe toda área da capela-mor e seu revestimento é em azulejos do mesmo padrão das paredes, alternado com azulejos brancos em fiadas horizontais para que se crie a ilusão das nervuras da concha quando vista da nave conforme imagens abaixo.
ZÉLIA MARIA MACHADO
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