sábado, 13 de janeiro de 2018

PERGUNTAS INÚTEIS

Resultado de imagem para FOTOS ANTIGAS DO CARNAVAL DE SALVADOR


Antes do carnaval de 1976, a universidade de Houston, no Texas, mandou uma equipe de pesquisadores para Salvador. Durante um mês, cada um foi incumbido de trabalhar com um dos blocos ativos naquela época. Na minha recém-aberta Galeria da Sereia no largo do Pelourinho, tive a oportunidade de me relacionar com Laverne Dutton, uma baixinha e dinâmica loira que soube enfrentar a desconfiança dos Filhos de Gandhi e acabou reunindo preciosíssimo material.
Assim, uma farta documentação sobre o carnaval de Salvador, incluindo êxitos do momento – partituras, letras, filmagens e gravações ao vivo – e fantasias completas de cada bloco, está hoje à disposição dos estudiosos americanos. Até elementos dos enfeites de rua estão em Houston, como, por exemplo, uma das cabeçonas criadas por Fernando Coelho e Tati Moreno. Uma delas, aliás, despencou, matando um folião na Praça Castro Alves.
Com exagerada frequência me queixei da amnésia dos governantes em qualquer assunto que envolvesse a cultura popular baiana. Que não exista nenhum centro de memória sobre as expressões de nosso povo é simplesmente vergonhoso. Homem do Nordeste? Dragão do Mar? Museu Edison Carneiro? SEMIG? Casa do Pontal? Pra quê?!




A Bahia merece um espaço especificamente dedicado à farta produção de seu gênio popular. Cadê a rica colcha dos mil retalhos que compõem a cultura baiana? Desde as procissões até o samba de roda passando pelos cantos e recantos do sertão, do Recôncavo e dos litorais. Do mar, dos rios e das lagoas. Dos rituais de passagem, da vida e da morte. Dos terreiros e dos quilombos. Dos ouros, das pratas e das esmeraldas. Dos vaqueiros e dos cortadores de cana. Dos couros, dos barros e das palhas.
Devemos, sim, parabenizar a prefeitura por algo que deveria ter sido feito há décadas. Mas não basta. Precisamos de um projeto muito mais amplo, mais abrangente, a nível do estado da Bahia. Infelizmente, o que esperar de governos que abandonam um cinema Jandaia, um museu Wanderlei Pinho e até deixam ruir o Solar do Unhão - Museu de Arte Moderna da Bahia – sonhado e realizado pela lendária Lina Bo Bardi na gestão do governador Juracy Magalhães?




Agora só se fala da megalomaníaca ponte chinesa sobre a baía, enquanto os hospitais não têm nem esparadrapo e, na entrada de Santo Amaro e São Tomé de Paripe, jazem dois enormes imóveis abandonados que um dia tiveram a pretensão de concretizar as promessas do projeto Minha Casa Minha Vida. 



E, por falar em Paripe, quem usa o embarcadoiro para a ilha de Maré arrisca sua vida, tal seu vergonhoso estado de conservação. A prefeitura de Salvador não chega até lá?

Voltando a memória da cultura popular, não passou da hora de dignificar a identidade baiana?
Dimitri Ganzelevitch
A Tarde 13/1/18

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