Meu bairro não é uma vila do interior. É uma ilha. Uma ilha
de memória e cultura hoje assediada por piratas que nunca entenderam que nossos
frágeis tesouros precisam ser preservados longe da cobiça de quem vem só para
extirpar lucro fácil e efêmero.
Durante décadas ninguém dos bairros ditos nobres nem ousaria
vir até a ponta da escarpa que começa na Ladeira do Taboão e termina na Ladeira
da Água Brusca. Evitou ser shopping center a céu aberto logo após a falência de
proposta parecida no Pelourinho. Apesar da especulação imobiliária, conseguiu
até agora evitar a gentrificação. Os anos 80 fora dos sírio-libaneses e dos
galegos. Depois apareceu uma gringada que ameaçou transformar o bairro numa
Ibiza tropical. Uma nova onda trouxe sonhadores cariocas, paulistas e mineiros.
E, finalmente, os baianos artistas e poetas redescobriram o Santo Antônio. Numa
área outrora tranquila até a sonolência começaram a pipocar barzinhos e
restaurantes. Populares ou sofisticados, nunca arrogantes.
E, numa bela noite de verão, a Rua Direita explodiu de
alegria e música com o aparecimento do bloco De Hoje a Oito. Abri todas minhas
janelas, liguei todas as luzes e fotografei até acabar a bateria. Poucos anos
depois foi a vez do D´veneta, o restaurante mais “cult” do bairro, inundar de
fantasia a Cruz do Pascoal e a Ladeira do Boqueirão. Meu bairro é uma festa! Não
tardaríamos em ver chegar as botas pesadas do poder impondo alegrias
político-mercantis. O amplo Largo virou metrô em hora de pique, nossas portas
servindo de mictório e uma muralha de isopores impedindo nossas rotinas. E a
gota d´água – sob o infeliz título de “Harém” -derramou um monte de
insatisfeitos numa memorável reunião no quintal da paróquia.
Eliana Pedroso, você sabe que simpatizo com sua energia, seu
pragmatismo e seu desejo de fazer bem. Mas não queremos aqui um desastre parecido
como o do Farol da Barra.
Nós, moradores jovens e velhos deste patrimônio maltratado
por todos os poderes públicos, exigimos a manutenção de nossa identidade. Sim
aos excelentes shows intimistas da Cruz do Pascoal. E um redondo “Não” às
mediocridades tipo Jammil ou outros eventuais Durvais. Isto não é, de forma
alguma, o perfil do bairro.
Carnaval no Santo Antônio? Com certeza, mas feito por nós,
artesanalmente, sem ninguém ficar rico nas costas de nosso casario e de nossa
qualidade de vida.
E, por favor: menos burocracia. Afinal carnaval é
transgressão, irreverência, contestação. Na quarta-feira de cinzas teremos todo
o tempo de arrepender-nos e mortificar-nos. Mea culpa, mea máxima culpa. Antes
de acabar, um pedido. Vamos tirar o magnífico Grupo Botequim de seu ostracismo?
Este pessoal é ouro puro!
Dimitri Ganzelevitch
Jornal A Tarde
26/01/19
Excelente texto... concordo com você que esta repleto de razões...verdades...analise perfeita...
ResponderExcluirExcelente. Urgente reflexão
ResponderExcluirAplausos mil
ResponderExcluirViva o Santo Antonio Além do Carmo🙏🙏🙏
Êhh Salvador de todos encantos, cantos e desencantos ! A prefeitura tem o dever em preservar a cultura que emana do povo do Sto Antônio e afastar os que so querem explorar o local sem ter identidade alguma com os nativos e o patrimônio do lugar.
ResponderExcluirConcordo plenamente , estamos juntos nesta luta
ResponderExcluirCabral Descobertas na luta . O Sto Antônio não está na prarey do supermercado
ResponderExcluirNeste canto de encantos que sonhamos, desnecessario se faz novos donos desse lugar.
ResponderExcluirPrecisamos preservar a nossa identidade, e o patromonio nesse aprazivel lugar.