“Caravaggio – A alma e o sangue” / “Caravaggio: The Soul and the Blood” (2018)
De muitas maneiras o filme “Caravaggio – A alma e o sangue” é perturbador: a obra é forte e mostra que a escuridão aponta para a luz, a intensifica – o que é já uma coisa perturbadora se a gente imagina que na escuridão não se vê nada. A gente sonha com a luz, busca a luz – a nossa evolução parte da treva, em busca dela. E em termos biográficos, o filme também é perturbador – Caravaggio era totalmente desestruturado, selvagem mesmo – numa busca violenta de quem era e de espaço ocupava na vida.
A crise dele desequilibrava tudo ao redor e gerava beleza ao mesmo tempo. Uma beleza ousada e deslocada sob a análise dos padrões existentes – coerente com a pressão que os diferentes sentem quando ousam desafiar normas vigentes. Muitos sofrem, mas Caravaggio ataca.
Há momentos do filme onde ele se perde da narrativa mágica e fica lento. Há momentos em que os especialistas em sua obra são apaixonados e por isso apaixonantes. Infelizmente nem todos são apaixonados ao falar, o que lentifica.
De todo modo é maravilhoso termos dois filmes de artistas clássicos italianos em dois dias e com a sala de cinema lotada. Falta muita informação em Salvador sobre gênios, sobre outras culturas, sobre a nossa própria e receber arte é maravilhoso.
Para todos os que dizem que a plateia baiana não gosta de drama, os cinemas estão apontando claramente que a plateia gosta mesmo de qualidade. As outras artes que se cuidem!
A trilha totalmente pertinente, muitas vezes desalinhadamente pertinente e a mistura de traços modernistas na narração da personalidade de Caravaggio foi talvez a coisa mais perturbadora de todas.
O cinema lotado demonstra que todos os que não foram, deveriam ter ido. Se você ainda não foi, vai perder!
Ana Ribeiro, diretora de cinema, teatro e TV
Um filme documentário sobre a obra de Caravaggio e sua vida polêmica. Um gênio cheio de guerras interiores e comportamentos ilegais, em busca da liberdade e da felicidade. Um sofrimento interno enorme e uma falta de adaptação ao mundo como todos os outros viviam. Desafiou leis, regras, comportamentos, e a si próprio. Muita dor, muito sofrimento e uma genialidade estrondosa exposta para sempre nas suas obras.
Tanto em Michelangelo/ Miguel Ângelo como em Caravaggio, assistir ao filme é ter a sorte de fazer uma visita guiada às obras de uma forma que seria impossível viajando e visitando pessoalmente. As imagens captam detalhes e aproximam tanto das obras que parece que fazemos parte. Extraordinário.
Senti mais dificuldade em acompanhar o ritmo demasiado lento e com pouca ação do filme. Mas para quem ama arte, é um filme a ver.
Ana Santos, professora, jornalista
Informações sobre o filme
8 ½ Festa do Cinema Italiano
Espaço Itaú de Cinema - Glauber Rocha
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