sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

SAY A LITTLE PRAYER

FRIO, CHOCOLATE E A TORRE EIFFEL

Foto: Dimitri Ganzelevitch 

Quase!!! Mas eu sabia que não iria aguentar o inverno parisiense.........Vontade não faltou de curtir um natal e um reveillon no grande estilo francês! Só que já íamos entrando em novembro e eu mal estava suportando o vento cortante e úmido quando deixei o hotel e me enfiei numa pequena cafeteria da rue Saint Dominique.....Sim, estava por demais elegante dentro de um casaco 7/8 todinho acolchoado que tinha achado meio escondidinho num brechó de
Montparnasse. Um gorro branco protegia minhas orelhas e o marido estava bastante sem jeito enfiado num chapéu felpudo que mais lembrava o estilo Daniel Boone. Naquele café tomamos um chocolate quente, aliás o mais fantástico que já provei, ( mas acho que era só por causa do frio ). Nós tínhamos feito planos de ver a iluminação da tour Eiffel bem de perto, mas a coragem de chegar até ela começava a me faltar. Só pensava mesmo na hora santa de me meter debaixo do acolchoado de minha cama macia e quentinha.......

Ah! Paris estava ficando mais linda ainda.......Muitos lugares ganhavam uma iluminação indescritível. Para onde quer que se olhasse uma combinação de luzes e cores tinha mergulhado a cidade num mundo irreal e meio fictício. Com alguma dificuldade fui saindo da cafeteria já com mais ânimo para caminhar os poucos metros que faltavam para atingirmos o Champ de Mars onde pretendia degustar algumas besteirinhas gostosas naquelas barraquinhas cheias de novidades com temperos franceses deliciosos.

Quando ali chegamos tive a certeza de que tudo valera à pena.......A magia da tour Eiffel voltou a me dominar intensamente e eu me vi brilhando por completo sob as luzes multicores refletidas em meu casaco e minha face. Obviamente neste momento eu nem sentia mais o meu nariz e bochechas totalmente gelados e amortecidos. Creio que ficamos ali bem defronte à torre por uns bons 15 minutos.

Em seguida eu me lembro perfeitamente que comi uma variedade de petiscos cujos cheiros guardo na mente até hoje. Meu Deus......comi demais mesmo........o marido foi bem mais moderado..........mas me perguntem se eu faria tudo de novo! Hein?? Hein??

Waldizia Moniz

A MÃE DE JULIAN ASSANGE

 

"Uma declaração de Christine Assange, mãe de Julian:

Há cinquenta anos atrás, ao dar à luz pela primeira vez como uma jovem mãe, pensei que não poderia haver dor maior. Mas logo foi esquecido quando segurei o meu lindo menino nos meus braços. Eu dei-lhe o nome de Julian.
Agora percebo que estava errada. Há uma dor maior.
A dor sem fim de ser a mãe de um jornalista multi-premiado que teve a coragem de publicar a verdade sobre altos crimes governamentais e corrupção.
A dor de ver meu filho que procurou publicar verdades importantes, sendo infinitamente lambuzado globalmente.
A dor de ver o meu filho que arriscou a sua vida para expor a injustiça, a ser entusiasmado e negado um processo legal justo, repetidas vezes.
A dor de ver o meu filho saudável a desperdiçar lentamente de ser negado a saúde e cuidados médicos adequados durante anos de detenção.
A angústia de ver meu menino cruelmente torturado psicologicamente para tentar quebrar seu enorme espírito.
O pesadelo constante de ele ser extraditado para os EUA e ser enterrado vivo numa solitária extrema para o resto da vida.
O medo constante que a CIA execute os seus planos para assassiná-lo.
A pressa da tristeza quando vi o seu corpo frágil exausto a cair de um mini-AVC na última audiência devido ao stress crónico.
Muitas pessoas também ficam traumatizadas ao ver uma superpotência vingativa usando os seus recursos ilimitados para intimidar e destruir um único indivíduo indefeso.
Quero agradecer a todos os cidadãos carinhosos e decentes que protestam globalmente contra a brutal perseguição política de Julian.
Por favor, continuem a levantar as vossas vozes aos vossos políticos até que seja tudo o que eles possam ouvir.
A vida dele está nas tuas mãos."
Christine Assange

A FAMIGERADA TORRE EIFFEL



Dos símbolos de Paris, creio que a Torre Eiffel é o mais famoso. Quem vai a Paris pela primeira vez quer logo conhecê-la. Foi assim comigo, em 1964. E acontece com a maioria das pessoas. Pelo menos é o que demonstram as postagens neste site. Mesmo quem já visitou a torre uma ou duas vezes continua decantando seus encantos e poderes de fascinação. E é capaz de voltar outras tantas, se puder.

Não nego a importância histórica e arquitetônica da torre. Realmente é um dos símbolos mais fortes de Paris, ao lado do Arco do Triunfo. O entorno onde se situa é lindo. Todavia, confesso que de tanto vê-la, acabei entrando numa espécie de enfado, de sensação maçante de déjà vu. Muitas vezes procuro ficar longe dela, pois sua imagem é avassaladora, pode ser vista de qualquer lugar de Paris. Soa-me estranho que as pessoas queiram se hospedar em um hotel por perto, como declaram aqui, para namorá-la durante todo o tempo que vão passar na cidade.

Acontece que quando moramos em Paris e recebemos pessoas que não a conhecem, elas querem logo ser levadas à torre. Também quando viajamos com amigos ou parentes, somos igualmente obrigados a ciceroneá-los e levá-los ao mais famoso monumento francês. Fiz isso inúmeras vezes. Tanto que me cansei. E assim a torre vai ficando uma coisa tão comum que chega a perder a importância. E descobrimos que a maioria das pessoas que vão a Paris permanecem muito distantes de sua realidade quotidiana. Só imaginam a Paris do luxo, da fantasia, da riqueza, da ostentação, dos perfumes maravilhosos e dos monumentos inigualáveis.
Dos símbolos de Paris continuo preferindo suas ruas - muitas vezes simples - bairros, praças, espaços naturais, restaurantes e museus. No cancioneiro, estes símbolos são muto mais fortes e marcantes. Me emociono quando ouço Charles Trenet cantando “Ménilmontant”. Ou quando escuto “La Seine” de Vanessa Paradis ou, sobretudo, “La Seine” de Jacqueline François. Ou mesmo quando é o céu de Paris que se transforma em motivo da canção, como em “Sous le Ciel de Paris”, de Hubert Giraud e Jean Dréjac. Me emociono mais ainda quando ouço Jacques Brel traduzindo a Paris de sua época através de “Les Prénons de Paris”. Nessa canção Paris não é expressa em seus monumentos e ruas, mas em palavras-chave que traduzem o sentimento de nela viver, o seu verdadeiro espírito. Inicialmente, ela é “o dia”, “o sempre”, “o bom dia”, “o amor”, “o começo”, “a sorte”, “o romance”, “a França”. Em seguida, é “a esperança”, “o espelho”, “a noite”, “o boa noite”, “nós dois”, “teus olhos” e até “tudo o mais que quiseres”, já que ela é maravilhosa. Finalmente vem a síntese, e a paisagem se transforma, pois tudo tem a sua contraposição: Paris é “cinza”, “a chuva”, “o tédio”, “o fim”, “o suspiro”; e é também “o amanhã”, “o caminho”, “o recomeço de tudo”, o lugar que simboliza o retorno, posto que alguém sempre lhe espera. Enfim, existe uma Paris lírica, festiva, mágica, luminosa, a Paris de todos os amores. Por trás das imagens que a representam, no entanto, esconde-se uma Paris dura e sufocante. Esta é a minha Paris, que nunca foi a da Tour Eiffel. Por isso é que, quando escolho um restaurante para almoçar, prefiro os mais simples e festivos, como o “Chez Luizette”, que fica dentro do “Marché aux puces” de Clignancourt, regado por canções francesas dos velhos tempos.
Quando morei em Paris, ouvi uma historinha que me ficou gravada. Fala de um famoso escritor, cujo nome já não me recordo, que almoçava todos os dias num dos restaurantes da Tour Eiffel. Certa vez, um jornalista lhe entrevistou querendo saber do motivo de sua predileção. Ele respondeu, simplesmente: “É para não vê-la!”
Paulo Martins


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AVENIDA PASSOS, 36

 

Um dos imóveis históricos privados mais bonitos e celebrados do Centro do Rio vai voltar a ter utilização comercial, após um longo período sendo usado apenas como espaço de eventos. O casarão da Avenida Passos 36 está intimamente ligado à história do varejo na cidade, tendo funcionado nele dois grandes magazines que fizeram história no passado: a Casa Lucas e a Casa Esperança, esta última uma das maiores revendedoras de eletrodomésticos na sua época.

Depois, o lindo imóvel de três pavimentos, fachada detalhada com belos vitrais e detalhes art nouveau foi adquirido pela histórica – e que ainda trabalha pesado no ramo de cama, mesa e banho – Casas Franklin, mas a empresa acabou se mudando para um imóvel quase em frente há alguns anos. Neste ínterim, o imóvel se tornou símbolo do projeto do Corredor Cultural Carioca, que protege os imóveis coloniais e da belle époque que são em grande número na região central. Com a decadência do Centro durante a gestão de Marcelo Crivella e a pandemia, vários imóveis do tipo ficaram vazios.

No esteio dos projetos de revitalização do Centro do Rio levados a termo pela atual gestão da Prefeitura, e com o aparente sucesso do Projeto Reviver Centro, especialistas começam a dar conta de que as coisas começam a melhorar na região, com várias locações e vendas de lojas e sobrados começando a ocorrer, ainda que, segundo eles, as salas e escritórios ainda estejam sofrendo com altas taxas de vacância. Um grande exemplo desse momento de otimismo é a negociação do emblemático imóvel, fechada esta semana, com a Vivian Festas, que, no ano que vem, inaugurará um de seus imensos magazines especializados em celebrar a vida – tendência que começo a voltar com força. O negócio foi fechado pela Sergio Castro Imóveis, no apagar das luzes de 2021.

Temos um departamento dedicado exclusivamente em tratativas de venda e locação de imóveis históricos. Não é qualquer empresa que sabe lidar com as especificidades de propriedades assim. É preciso o cliente certo, que entenda e respeite a história e os usos possíveis para um casarão. Não é à toa que nós mesmos ocupamos 3 imóveis centenários em uso com algumas das filiais da empresa”, gaba-se Rodolfo Rique, coordenador executivo da imobiliária que foi responsável pela negociação de propriedades como o Largo do Boticário, o Teatro Riachuelo (antigo Cine Palácio) e o Hotel Santa Teresa. A empresa afirmou que não pode revelar detalhes da transação.

As grandes lojas da Vivian Festas são bastante procuradas e badaladas, inclusive no Youtube e outras redes sociais. Segundo uma reportagem do Jornal Extra, a empresa começou sua trajetória de sucesso com duas lojas em Caxias e Nova Iguaçu. Chegou com estardalhaço à Barra da Tijuca, onde sua mega-loja rivaliza com as lojinhas do shopping Uptown, do outro lado da Avenida Ayrton Senna; hoje, a empresa é uma grande referência na cidade. Além de artigos para festas e comemorações, vende também coisas para o lar. A inauguração da loja da Barra, há dois anos, teve grande destaque.

Para Marcio Roiter, presidente do Instituto Art Déco Brasil e especialista em design do século XX, “a originalidade e exuberância Art Nouveau da fachada com caracteristicas ecléticas se tornou o simbolo do Corredor Cultural, programa municipal de preservação arquitetônico-urbanistica do Centro do Rio, criado em 1984“. Roiter está finalizando a reforma da nova sede do Instituto que teve como presidente de honra o arquiteto e ex-prefeito Luiz Paulo Conde, no Jardim Botânico, e supervisionou diversas recuperações de imóveis no estilo eclético, como foi o caso das duas lindas casas que compõem a antiga Pensão Pick, onde Jacob do Bandolim aprendeu a tocar, na rua Joaquim Silva, 97 (hoje restaurante Bandolim). E finaliza, ensinando: “A águia luminária [Foto abaixo] nos faz lembrar as 5 águias esculpidas por Rodolpho Bernadelli, que em 1896 foram acrescentadas ao Palácio do Barão de Nova Friburgo à rua do Catete, e que nesta data se torna a residência oficial do Presidente do Brasil. Águias passaram a pousar em toda construção de luxo!“.

O SILÊNCIO É DE CONIVÊNCIA

 Bernard Attal para Carta Capital

Dezembro 2021



Nesse final de 2021, ligo para Seu Jurandy para me informar sobre o processo na Justiça contra os policiais indiciados pelo assassino de seu filho Geovane. Geovane foi levado por uma viatura da Polícia Militar da Bahia em agosto de 2014 e desapareceu. Por uma triste coincidência, na mesma semana, um policial na cidade de Saint Louis nos Estados Unidos matou o jovem Michael Brown, provocando uma onda de protestos que deram notoriedade mundial ao movimento Black Lives Matter. Duas semanas depois, o corpo de Geovane foi encontrado mutilado no matagal de um parque da periferia da cidade de Salvador. Porém a morte de Geovane não gerou onda de protestos no Brasil. No seu enterro no semiárido baiano de onde a família veio há décadas em busca de empregos e de uma vida melhor, somente estavam presentes os parentes, muitos amigos, dois ou três repórteres e nenhum representante do Estado, nenhum formador de opinião, ao contrário do funeral de Michael Brown que juntou políticos, intelectuais e artistas como Spike Lee.

 Mais uma vez, escuto de Jurandy que o caso não teve avanço nenhum na Justiça. A defesa dos policiais convocou dezenas de testemunhas e os depoimentos demoram para ser realizados. Em 2014, em menos de um mês, Jurandy elucidou o caso do assassino de seu filho, numa investigação que recebeu o apoio e ampla cobertura do jornal local O Correio. Mas, em sete anos, a Justiça não conseguiu julgar os policiais envolvidos. Eles respondem pelo crime em liberdade e voltaram a circular em viaturas nas ruas de Salvador. Durante esse tempo, o pai de Michael Brown recebeu indenização menos de um ano depois da morte do seu filho.  E o policial responsável pela asfixia fatal de George Floyd na cidade de Minneapolis em maio de 2020 está preso purgando uma pena de vinte dois anos na cadeia.

 Conheci Jurandy quando resolvi fazer um documentário sobre a investigação que ele conduzia para desvendar o caso de seu filho contra a inércia das autoridades públicas. A tranquilidade, a coragem e a teimosia desse homem, artesão especialista em manutenção de pisos, que se sabia encarregado de uma missão, me tocou profundamente. Decidi que o filme SEM DESCANSO não seria somente sobre a investigação, mas iria acompanhar o drama desse homem ao longo dos anos. Lançamos o filme em 2019 e viajamos pelo mundo para apresentar juntos em festivais e universidades a tragédia da violência policial no Brasil. Mesmo sabendo da lentidão da justiça brasileira, nunca imaginei que sete anos depois do drama, os responsáveis ainda não teriam sido julgados.

 Por ter um passado semelhante em relação à escravidão e por serem nações profundamente divididas pela discriminação racial, o Brasil e os Estados Unidos compartilham estatísticas pavorosas sobre a violência policial. Mais de mil homicídios são cometidos por policiais americanos cada ano. No Brasil, são quase sete mil pessoas que morrem em confrontos com a polícia, um número que cresceu vertiginosamente nos últimos dez anos. A grande maioria das vítimas, mais de 78%, são jovens negros, geralmente moradores das periferias das cidades. Esses números não contemplam os milhares de desaparecidos cujo destino, nas mãos de policiais em serviço ou fora de serviço, continua ignorado. Homicídios decorrentes de intervenção policial acontecem também na Europa e na Ásia, mas em números muito menores. O Brasil é recordista mundial desta triste realidade que se observa em estados governados tanto pela direita como pela esquerda. Rio de Janeiro tem a maior taxa de letalidade policial do país há muitos anos, mas a Bahia, governada pelo PT há quinze anos, segue logo depois. São Paulo completa o pódio e o estado do Pará chega em quarta posição, de acordo com os últimos dados publicados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Mesmo durante a pandemia da Covid-19, que causou uma redução da circulação de pessoas nas ruas, o número total de vítimas fatais da violência policial aumentou e alcançou 6416 em 2020, um crescimento da ordem de 190% comparado a 2013.

 Ao contrário do Brasil, o drama da letalidade policial gerou nos EUA um debate intenso a respeito do papel da polícia. O problema está longe de ser resolvido. Os números de homicídios continuam altos e policiais responsáveis pela morte de um cidadão não raramente são absolvidos pela justiça. No entanto, desde o assassinato de Michael Brown, vários estados e municípios americanos equiparam os policiais com câmeras durante o serviço. Nas últimas eleições, muitos candidatos propuseram um “defund” da polícia, ou seja, repensar e redimensionar o orçamento das suas forças. Aqui, o estado de São Paulo adotou a câmera na farda dos policiais e já se observa uma redução do número de homicídios. Porém a desmilitarização das forças policiais continua um tema tabu e por pouco, no Pacote Anticrime desenhado por Sergio Moro quando era Ministro da Justiça, o congresso não aprovou a famosa lei de “excludente de ilicitude” que, na prática, absolveria policiais de qualquer homicídio cometido em situação de “escusável medo, surpresa ou violenta emoção.” Na contramão de uma reflexão sobre a necessidade de reformar a polícia, se observa que os policiais envolvidos em atos de violência se tornam mais espertos, vigiando a presença de câmeras de segurança nos lugares de intervenção, as vezes apagando as provas, e até jogando sem piedade as vítimas gravemente feridas na frente do hospital em vez de chamar o SAMU. Jurandy elucidou a morte de seu filho depois de ter descoberto um vídeo de segurança onde estava registrado o encontro entre Geovane e a viatura policial. É provável que hoje em dia os policiais envolvidos seriam mais cautelosos.

 No final do documentário, Jurandy se pergunta se a justiça será feita: “Eles estão aqui para cumprir seu papel.” E conclui que como cidadão e pai, acha que cumpriu seu papel. E cumpriu mesmo, além do que muitos de nós teríamos feito. Mas até hoje, apesar das imagens do vídeo de segurança, apesar do inquérito da policial civil que revelou que Geovane foi assassinado dentro do quartel da Polícia Militar com a participação dos policiais indiciados, a Justiça não cumpriu seu papel. O Estado não procurou Jurandy para propor uma indenização. Nenhum governante ligou para Jurandy para dizer palavras de conforto. Sete anos sem julgamento dos responsáveis pela morte de seu filho. Sete anos de uma dor prolongada pela inércia das autoridades públicas. O avô de Geovane, Seu Getúlio, que ficava trancado no seu quarto desde o assassinato do neto, faleceu esse ano de tristeza e cansaço sem ter visto a justiça sendo feita.

 Além dos policiais envolvidos, do Estado e da Justiça, será que não somos todos responsáveis por tolerar tantos crimes contra a juventude negra desse país?  Por mostrar tanta indiferença à dor alheia? ONGs como as Mães de Maio, Reaja ou Justiça Global têm dificuldade em mobilizar a população para que a justiça seja feita e o direito de qualquer cidadão de ir e vir sem medo da polícia seja respeitado. A indignação pública quando Ágata, Micael, Amarildo, Geovane morrem por conta de uma intervenção policial não dura mais de alguns dias. Devemos ter consciência que esse silêncio quase geral tem seu preço, fomenta cada vez mais violência e um dia contribui para eleger na Presidência um Jair Bolsonaro. Certa vez, o escritor afro-americano James Baldwin escreveu que “As pessoas que fecham os olhos para a realidade simplesmente cavam sua própria destruição, e qualquer um que insiste em permanecer em estado de inocência muito tempo depois dessa inocência estar morta, se transforma em um monstro.” Sabemos que a destruição já começou. Mas ainda é reversível.

 Bernard Attal

Cineasta

O filme SEM DESCANSO pode ser assistido

nas plataformas NOW e VIVO Play.

Link do trailer: https://vimeo.com/396698973

 

 

quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

RETROSPECTIVA 2021




https://ms-my.facebook.com/brasildefato/videos/415035800305626/ 

DO-RE-MI

WHAT A WONDERFUL WORLD

JE NE REGRETTE RIEN

AH! SE NÃO FOSSE A COSTUMEIRA E IRRITANTE PALHAÇADA DOS JURADOS...

BANQUETE INDIGESTO



PAULO LEANDRO

Picanha, filé mignon, camarão, bacalhau e salmão seriam alimentos aprovados pelos nutricionistas para fortalecer o organismo, bem como o preparo das receitas por bons chefs teria a missão de alegrar os homens das Forças para melhor servir à pátria, mas tão apetitoso cardápio deixou dúvidas aos auditores do Tribunal de Contas da União (TCU).
O enredo aumenta o grau de inusitado, porque os recursos do banquete teriam sido aplicados em detrimento de ações de combate à covid-19, necessárias para salvar a vida de cidadãos, os mesmos contribuintes de cuja extração da renda é paga a conta pelo apurado paladar.
À submissão da saúde do povo às delícias da culinária, acresce outro (mau) exemplo de gestão, com o indicativo de benefício de sete empresas cujos sócios teriam como “comandante” um ex-capitão (expulso) do Exército, Márcio Vancler Augusto Geraldo.
O bem-sucedido “controller” detém a Mave Comércio e Serviços em Geral, a Phenix Comércio e Serviços em Geral e a Visionária Comércio e Serviços em Geral, revelando na repetição dos nomes das firmas não só uma coincidência, mas um indício, acrescentando-se a incompatibilidade entre o porte das companhias e os valores das contratações.
Também foi rastreado o fornecimento do mesmo e-mail para todos os concorrentes, nos pregões suspeitos de combinação, resultando no gasto de R$ 87 milhões do erário para encher as panças, fortalecendo a hipótese de escolha de competentes coordenadores na suposta rapina.
Por estes e outros apetites incontidos, pode-se entender a dificuldade de harmonizar o papel daqueles pagos para defender as fronteiras com o cumprimento do dever para com a pátria e a bandeira, estabelecendo, pela via da desfaçatez, a exposição da farda a tamanho vexame.
Seria demasiado inoportuno descartar a chance de prestar toda atenção às prováveis justificativas, considerando evitar o erro lógico de julgar o todo pela parte, pois a expectativa é de honradez e dignidade de quem se propõe a gerir áreas estratégicas para o bem-estar dos brasileiros.

ELE NÃO ACERTA UMA!

 Políticos criticam governo por negar ajuda argentina à Bahia: "Genocida"

O governador da Bahia, Rui Costa, disse que o Estado atravessa “o maior desastre natural da história”

Políticos de oposição criticaram a decisão do governo Jair Bolsonaro (PL) de negar a ajuda oferecida pela Argentina às vítimas das enchentes na Bahia. Ao menos 24 pessoas morreram por causa das chuvas, 434 feridas e mais de 90 mil desabrigadas ou desalojadas. Para além de 600 mil pessoas e 140 cidades foram afetadas. “Mesmo que não venham recursos federais, o Governo do Estado reconstruirá todas as casas e as cidades destruídas”, afirmou o governador baiano, Rui Costa (PT), na manhã desta 5ª feira (30.dez.2021). No dia anterior, ele havia comemorado o auxílio do país vizinho....

O Estado informou na noite de 4ª feira (29.dez) que a União dispensou a ajuda argentina. A nação pretendia enviar profissionais especializados em água, saneamento, logística e apoio psicossocial às vítimas do desastre. O ex-presidente Lula (PT) afirmou que “é lamentável ver um presidente que não ajuda recusar ajuda de outros pessoas”. O governador do Maranhão, Flávio Dino (PSB), disse que a negativa foi “absolutamente vil e repugnante”. Disse esperar que o Judiciário anule a decisão “imoral”. O ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT) afirma que a escolha de Bolsonaro se deu por capricho,...



CASA UM PÁTIO

 Descrição enviada pela equipe de projeto. A casa está localizada em Molco na base das encosta norte do vulcão Villarrica. Situado entre a cordilheira e o lago do mesmo nome, o terreno é caracterizado por sua vegetação densa e nova, onde a relação de perspectiva é quase nula e o acesso é difícil. Entre as principais espécies que se destacam na área estão as árvores e samambaias nativas que umedecem o ambiente.

© Marcos Zegers
© Marcos Zegers

Dadas as condições do terreno, um dos principais desafios do projeto foi sua localização. A densidade característica da floresta representa problemas complexos em relação às questões de proteção das espécies nativas, limpeza e acessibilidade; assim, as decisões do projeto foram propostas a partir de gestos simples e claros.

© Marcos Zegers
© Marcos Zegers

De acordo com estas ideias, a operação central da proposta é criar um vazio interno, com o objetivo de agregar valor a uma porção da floresta, que enquadra o contexto e integra a vegetação existente à casa. Desta forma, essa intenção elementar introduz o natural no projeto a partir do centro, e não apenas do perímetro, o que aconteceria em um volume fechado.

© Marcos Zegers
© Marcos Zegers
© Marcos Zegers
© Marcos Zegers

Com relação ao contraste entre o espaço construído e a natureza, são estabelecidos conceitos-chave para o projeto: "entre" e "continuidade". No caso das áreas comuns da casa (sala de estar, sala de jantar e cozinha), elas estão localizadas entre a floresta interna e externa. Ao mesmo tempo, a transparência do perímetro desses espaços gera continuidade com a floresta que está do lado de fora. 

© Marcos Zegers
© Marcos Zegers

Outro aspecto que o pátio interno resolve é o fornecimento de luz e calor ao projeto, dado que a exuberância da floresta produz uma atmosfera de sombra e fria. A luz do sol fornecida pelo pátio central acompanha a circulação interna dos espaços comuns (sala de estar, sala de jantar e cozinha).

© Marcos Zegers
© Marcos Zegers

Na fachada norte da casa fica a entrada, que se eleva três metros acima do solo e se projeta para fora da copa das árvores, permitindo captar a luz do norte. O lado sul se abre por uma grande janela, que liga a floresta com o interior da sala de estar, sala de jantar e cozinha. A face oeste é cega, e recebe a parte de trás da escada que liga o primeiro ao segundo pavimentos. Finalmente, a face leste acompanha o corredor de acesso, que é amplamente envidraçado, incorporando a floresta e a luz natural da manhã.

© Marcos Zegers
© Marcos Zegers
Cortes
Cortes
© Marcos Zegers
© Marcos Zegers

Casa Um Pátio é um projeto que responde a operações pontuais, que são acompanhadas de decisões claras. Esta forma de trabalho lembra princípios ou ferramentas de projeto típicas de um escritório de arquitetura, onde os problemas são fáceis de ler, principalmente quando associados ao contexto, de modo que as respostas são simples e claras, relacionadas a uma forma de habitar a paisagem.

© Marcos Zegers
© Marcos Zegers