Todos nós carregamos lembranças coloridas, sonoras e odoríferas de mercados semanais onde frutas, verduras e animais nos invadiam de vida e emoções, bem longe dos fastidiosos centros comerciais quando alguns se acham na obrigação de ostentar roupas e calçados de grife.
Imagens surgem-me de feiras nos arredores de Tanger. Mulheres de queixo tatuado, protegidas por amplos chapéus de palha enfeitados por tranças de lã, vendendo pães redondos, laranjas de umbigo e montanhas de tâmaras que atraiam nuvens de abelhas. Ou em Tafraout, ao pé dos últimos montes do Atlas antes do deserto. Lá comprei meia dúzia de peças de cerâmica tosca que iniciariam minha longa vida de colecionador de arte.
Quero voltar a frequentar feiras, agora do outro lado do Atlântico, no
meu bairro de Santo Antônio. Quem me ajudará? A prefeitura? Só se houver alguma
taxa polpuda como chave. Quando falo em feiras, penso logo em pilhas de abacaxis, pencas de
bananas, orgias de queijos, goiabadas de cascão, macaxeiras, galinhas, patos e
cabras.
Mas feira também poderia ser, no largo da igreja, de livros usados e
LPs. Outra feira poderia criar uma cachoeira de flores e plantas tropicais na
escadaria da Igreja do Passo. Ou de antiguidades à volta do correto. Você já
notou que têm mercados das pulgas em São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro e Recife,
mas na mais antiga capital do Brasil, não existe sombra de feira de objetos de
arte, curiosidades, velhos moveis, porcelanas, cerâmicas e santos?
Nos anos 90 se tentou algo no Cruzeiro de São Francisco, mas o
narcisismo desenfreado de um secretário de cultura acabou asfixiando a galinha
dos ovos de ouro.
Feiras agradam os turistas de todas as terras e, muito mais importante, os
próprios moradores. Quando no Rio, nunca deixo de perambular em Copacabana ao
sábado ou em Ipanema na terça-feira. Impossível resistir a comprar flores ou
mangas para o casal que me hospeda ou alguma curiosidade na Praça XV. Quantos
livros ou kilims não comprei a baixo preço na paulista Benedito Calixto?
Em Paris, não perco um sábado na Porte de Vanves e, em Lisboa, a antiga
– remonta ao século XIII - Feira da Ladra nas terças-feiras, com almoço básico
e prazeroso em plena rua.
Feiras também funcionam como veículos de informações e formação de
opinião. Nunca sairá de uma feira sem levar, no mínimo, algum tipo de
conhecimento.
Imagine, vir a nosso belo pedaço de memória urbana em datas regulares e
poder andar devagar, na rua Direita finalmente liberada da poluição ambiental
de carros e motos, entrar numa loja de gravuras ou beliscar um abará bebendo um
suco de caju ou fotografar aquela sacada sustentada por cariátides...
Vamos fazer um movimento para renovar a tradição das feiras?
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