segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

FELIZ CHEIRO NOVO!

Resultado de imagem para FOTOS DE FLOR DE JASMIM

Retrospectivas de fim de ano – quem aguenta o ritmo meio alucinado das imagens, ou a fúria desconexa dos sons que as acompanham? Quantas vezes já vi as torres gêmeas desabarem?
Parece que a vida do planeta está sendo vasculhada de ponta a
ponta, mas nem de longe – só aparecem as bolhas que vieram à superfície, e assim mesmo sem tato, sem gosto e sem cheiro.
Fico pensando numa retrospectiva do olfato: quais foram os
cheiros marcantes de 2017? Pense com carinho: num piscar de olhos vai surgir em sua mente a representação inesquecível.
Talvez tenha sido simplesmente a camisola de sua amada, porque, sabia?, as mulheres mantêm a família unida através do cheiro (quem me disse isso foi um ilustre pesquisador de hormônios).
E, além disso, o nariz é só um promontório – quem cheira mesmo é o cérebro. É contato imediato com a catinga ou com a alfazema.
O olfato merece. Não foi globalizado como a imagem, é apenas
local. Se em cada cena de violência minha sala cheirasse a sangue, teríamos uma televisão melhor.
Deve haver celebridades com mau hálito, mas nem temos a
chance de descobrir. Fora da rede, o olfato, que é tão real e impactante, funciona como peça do imaginário – sempre alimentou a magia do perfume e da gastronomia.
Pode a garota de Ipanema cheirar mal? Nem pensar. Osama Bin Laden tinha cheiro de bode ou de sândalo? Ah, meu
Deus, como será que cheirava a Lady Di? E Ernesto Che Guevara, como traduzia revolução em aroma?
E os nossos cheiros históricos? Deodoro, Getúlio e o peixe vivo do Juscelino? Maria Quitéria (heroína da independência) e a Princesa Isabel? O cheiro juvenil de Castro Alves. O cheiro da fumaça do charuto de Villa-Lobos?
O cheiro de Julia Roberts, Richard Gere, Tom Cruise (sei não, viu?), Madonna, Chico, Roberto e Rita Lee... Tenho certeza que Rita Lee tem cheiro dos mais agradáveis, mas como posso ter certeza se nem a conheço?! Questão de fé (lança perfume!)...
Não posso deixar de registrar a emoção inesquecível daquele arroz com manteiga que comi certo dia. Pois não é um fato?: menos (é) mais...
Somos uma cultura que transformou o cheirar em carinho.
Quem poderia esquecer de Jackson do Pandeiro ou Gilberto Gil:
Vem morena, vem, vem, vem, me beijar...
Dá um cheiro ô, pra esse medo se acabar... a Ema...
Mas tudo isso vai mudar muito em breve. Tendo ficado na borda da revolução digital, agora o olfato é a bola da vez. Vem aí um celular que transmite cheiros, aproximando do seu nariz o cangote da amada, ou o bafo daquele contraventor no presídio...
Além dos toques, será necessário escolher cheiros:
canela, maçã verde, incenso, maresia
cheiro de mato, de chuva, de alecrim,
cheiro de mofo, de barata (só pros meninos ficarem dando trote)
de café, de baunilha, de papel americano
de éter, de molho de pimenta (com limão), de pólvora
cheiro de moqueca, de dendê, pãozinho de queijo, churrasco
esmalte de unha, borracha queimando, gasolina de avião...
A julgar pelos sabores artificiais – tão pesquisados e não conheço um que preste –, já estou ficando com medo desse novo mundo digital dos olfatos.
2018, por favor, cheire a jasmim natural e pegue leve.

PAULO COSTA LIMA

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