sábado, 10 de fevereiro de 2018

O PREFEITO DE MEUS SONHOS


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Com cabeçalho do Bahia-Notícias, jornal on-line do muito respeitado Samuel Celestino, a falsa informação abriu uma fresta de esperança no quotidiano angustiado de muitos baianos. Na aprazível cidade de Rio de Contas – tenho um especial carinho por esta pérola da Chapada Diamantina -  o prefeito teria confiscado todos os paredões, caixas de som e outros infernais produtores de violência sonora. Uma fotografia, que alguns afirmam ser simples montagem, ilustra dois rolos-compressores esmagando os malditos. Impiedosamente, as redes sociais desmentiram a informação, inclusive o Bahia-Notícias. 
Meu domingo ficou mais sombrio.

Sempre no Facebook, a fotocópia de um artigo anuncia “Por causa da fiscalização dura, ocorrências registram queda”. Lindo título que não irá satisfazer ninguém. Você já tentou ligar para o 156? Eu, várias vezes. Em vão. 

São 43 fiscais para 3 milhões de soteropolitanos. Um fiscal para cada 70 mil moradores. Suponhamos que 1% ultrapasse os decibéis permitidos, ainda serão 700 focos de violência sonora para serem controlados por cada fiscal e por 24 horas. E ainda teremos que dividir as 24 horas por 3 turnos. Controle matematicamente impossível. 200 fiscais ainda seriam insuficientes para Salvador se transformar numa cidade normal.

O direito ao silêncio dentro de sua residência é inalienável. O município é responsável. Velho morador de meu bairro, sou com frequência chamado a opinar sobre excessos cometidos por empresas de entretenimento ou comerciantes que perturbam o descanso de parte da área. 
O problema é que, quando algum eventual infrator se dispõe a dialogar, os que afirmam ser incomodados não se dão ao trabalho de comparecer.

Quais são os poluidores mais agressivos? O leque é amplo e irrestrito. 

A vizinha do andar de cima que anda de salto alto no meio da noite. Adolescentes que berram no play-ground. 

O carro que chega no condomínio de madrugada com o som na beira da explosão. 

O vizinho que adora uma AM bem brega de Batista de Morais para baixo, e desde as 8 da manhã invade meio bairro com o som mais deprimente que o homem inventou nos últimos cem anos, fumaça gordurosa da calabresa assada entrando até o seu banheiro. 

A igreja pentecostal que grita que Jesus precisa de seu dinheiro. 

A Coelba, ou a Conder, ou a Embasa, que resolve abrir uma cratera antes das 7 bem debaixo de sua janela com duas britadeiras porque uma é pouco. 

O motoqueiro que o desperta assustado com uma petardada provando que a sucata montada nada tem de Harley-Davidson.

Então, caso este prefeito não existir, sonharei com um aparelho revolucionário que possa filtrar os ruídos, eliminando os agressores. Algo como uma bolha individual. 

Merecerá o Prêmio Nobel da Paz.
Dimitri Ganzelevitch
Jornal a Tarde
Sábado, 10 de Fevereiro 2018

Um comentário:

  1. É a pura verdade,meu caro Dimitri.No Sto. Antonio, onde V. mora, as casas ainda não se organizaram em condomínio, o que seria difícil pela própria natureza do tecido urbano de origem lusitana. Em quase toda a cidade, vertical ou horizontalmente, essas estruturas burocráticas inescapáveis, os condomínios, seja qual for a faixa de renda, do AP na Mansão Costa Pinto, na Vitoria, à casa de João Bispo dos Santos, na Engomadeira, reinam...E mesmo nelas, os senhores síndicos não controlam bem os seus pequeninos feudos. Seu aparato 'revolucionário' poderia ser a educação domestica coletiva ou o treinamento profissional dos próprios síndicos...

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