sábado, 24 de março de 2018

O ROUBO

Ygor da Silva Coelho

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  A coisa coisa anda difícil. Os maus exemplos que vêm dos altos escalões da política se multiplicam e diversificam como uma praga. São ladrões de colarinho branco, assaltantes de mão armada, batedores de carteiras, vigaristas, caloteiros de todas as espécies. Na fartura e diversidade de meliantes aparece até o ladrão relativamente bom. Raro, mas existe.

Foi um tipo deste que levou a bolsa de Dona Theresa Ribeiro Correia, minha vizinha do 601. O fato ocorreu na Rua do Forte de São Pedro. Ela não sabe como o gatuno lhe tirou a bolsa do ombro e desapareceu ligeiramente em meios aos pedestres, na direção do Politeama. Os gritos de DonaTheresa de nada adiantaram. Não houve solidariedade dos que passavam e a coisa foi muito rápida.
Lá se foram celular, documentos, cartões, chaves, agenda, cartela de vacinação das gatinhas Cláudia e Leitte, mil coisas que as mulheres colocam na bolsa. Até as pedrinhas, parecendo topázio, que tirou recentemente da vesícula no Hospital Santo Amaro Theresa carregava como talismã na bolsa!
Dia seguinte, depois de registrar um B.O. na Polícia e cancelar os cartões, já mais resignada, Theresa recebeu um telefonema. Deu para notar que era de um orelhão:
- Alô!
- Theresa Ribeiro Correia?
- Sim! Quem fala?
- Thales. Thales Ribeiro Correia.
- Thales! Thales... Que Thales?
- Eu roubei sua bolsa ontem. E achei que a senhora poderia ser minha parente.
- Eu não tenho parente ladrão! Seu mau elemento!
- Eu sou filho de Theobaldo, de Itaparica. Este nome diz alguma coisa para a senhora? Theobaldo com Th!
- Não diz nada não, seu meliante. Quero minha bolsa!
- Tia, estou lhe tratando com cortesia. Achei que era minha parente...
- Não conheço nenhum Theobaldo de Itaparica e não tenho parente ladrão!
- Pensei em devolver os documentos da senhora, sou gente fina. Queria só uma grana pra assistir o show de Zeca Pagodinho e Maria Bethânia, na Concha Acústica do Teatro Castro Alves, mas vejo que a senhora é grossa. Não é corrente!
- Devolva meus pertences, larápio! Sacizeiro! Vou lhe denunciar à Polícia!
- Denuncie! Eu nego! Todo político não nega tudo? Eu recorro ao STJ. Ligo pra Gilmar!
-Sem vergonha! Vagabundo!
- Se madame começar a me xingar jogo a bolsa na maré! E tem mais: graças a Deus não sou parente da senhora!
- Sim! Não somos parentes!
- Isto já estou ciente. A senhora deve me pedir desculpas! Me xingou!
- Você me rouba e eu peço desculpas! Ora veja! Se assunte! Desconjuro!
- Madame pede desculpas, eu deixo a bolsa num local seguro e telefono avisando.
- Você deixou intactos os meus documentos, cartões e celular?
- Sim, senhora! E o seu celular é peba! Quem quer celular peba? Levei taboca! Tinha uma merreca de R$190,00. Foi o que saquei. Vou comprar ingresso pro show de Zeca Pagodinho e Bethânia, só vai sobrar R$ 50,00 pro Uber.
- Descarado! Safado! Batedor de carteira!
- OK, madame! Madame é parente do Satanás, não minha! Vou tacar a bolsa na maré!
- Me desculpe! Me desculpe! Pronto! Plim... plim... plim...
Thales Ribeiro Correia, por certo e disfarçamente, deixou a bolsa de Theresa Ribeiro Correia num surmercado da Vasco da Gama. Theresa recuperou a bolsa, seu celular e os objetos, mas continua com uma raiva dos infernos! Nunca imaginou financiar malandro para assistir show!

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