Telefone tocando. Meu vizinho
Tadeu, tão reclamão quanto eu, já me tinha avisado. “Alô, Dimitri? Aqui é
Gertrudes do jornal Meu ídolo! Tudo bem? Você mora no Santo Antônio, né? Então,
me diga... O que que não vai bem no seu bairro?” Pego a primeira ideia que
passa por minha cabecinha oca: “O problema constante é o Plano Inclinado do
Pilar que vive fechando” / “Foi reaberto ontem!“ / “Sim, e pode fechar de novo
amanhã. Mas isso você não vai poder colocar no seu jornal” / “Por favor! Não
comece com ironias porque desta forma não há conversa possível. Melhor acabar
logo! ” / “Como quiser...” Sem mais
rodeio a moça me desliga o telefone. Assim, na cara. Nem obrigadinha nem com
licença!
O nome desta educada donzela
talvez não seja Gertrudes. Nem Maria, nem Marta, nem Madalena. Esqueci. Também
esqueci o nome do jornal. Alzheimer chegando. O que não dá para esquecer é esta
droga de plano inclinado que vive fechando/abrindo/fechando. Sem nunca avisar
que vai fechar, nem que vai abrir. E muito menos o porquê de tanta
irregularidade. O Gonçalves idem, deixando os comerciantes da redondeza na
agonia para pagar IPTU sem desconto. Como também nunca se sabe quantas cabines
do elevador Lacerda estarão funcionando.
Agora sem ironia e com muita
irritação. Os transportes públicos de Salvador são um desastre. Um khaos de tragédia grega. Velhos,
imundos, calorentos, os ônibus param onde e quando o motorista bem entende.
Onde já se viu serviço essencial a população depender de empresários movidos a
lucro? O único micro-ônibus que ia, de caju em caju, do Largo de Santo Antônio
até o Campo Grande, agora encolheu a rota, regressando logo na Piedade. Quer
saber mais, Dona Gertrudes? A arquivista Cecília, que vem me ajudar três manhãs
por semana, levava do fim de linha de Brotas ao Aquidabã uns 45 minutos. Agora
são 70.
Desde a gestão do prefeito
Imbassahy, que acabou com a Praça da Sé e deslocou o terminal de ônibus para
bem longe, aproveitando para cortar 50% do transporte público no centro de
Salvador, quantos comerciantes foram obrigados a fechar seus estabelecimentos? Em
1974, na Baixa dos Sapateiros passavam 200 ônibus por hora. Hoje não chegam a
40! E aí, secretário Fábio Mota, não vai fazer nada? Afinal, qual é o projeto
maquiavélico que pretende varrer do mapa o centro de Salvador? Meu gostoso
bairro de Santo Antônio está sujo, com descaraterizações assustadoras. Não
entendo como permanece Patrimônio da Humanidade. Onde estão os fiscais da Sucom
para impedir o vandalismo permanente? Por que estranhas razões se omitem?
Esperando ter respondido a algumas de suas perguntas, minha cara Gertrudes, ou
seja qual for seu nome, subscrevo-me atenciosamente...
Dimitri Ganzelevitch
A Tarde
Sábado 24 de março 2018
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