sábado, 24 de março de 2018

PARA GERTRUDES, IRONICAMENTE


Telefone tocando. Meu vizinho Tadeu, tão reclamão quanto eu, já me tinha avisado. “Alô, Dimitri? Aqui é Gertrudes do jornal Meu ídolo! Tudo bem? Você mora no Santo Antônio, né? Então, me diga... O que que não vai bem no seu bairro?” Pego a primeira ideia que passa por minha cabecinha oca: “O problema constante é o Plano Inclinado do Pilar que vive fechando” / “Foi reaberto ontem!“ / “Sim, e pode fechar de novo amanhã. Mas isso você não vai poder colocar no seu jornal” / “Por favor! Não comece com ironias porque desta forma não há conversa possível. Melhor acabar logo! ” / “Como quiser...”  Sem mais rodeio a moça me desliga o telefone. Assim, na cara. Nem obrigadinha nem com licença!
O nome desta educada donzela talvez não seja Gertrudes. Nem Maria, nem Marta, nem Madalena. Esqueci. Também esqueci o nome do jornal. Alzheimer chegando. O que não dá para esquecer é esta droga de plano inclinado que vive fechando/abrindo/fechando. Sem nunca avisar que vai fechar, nem que vai abrir. E muito menos o porquê de tanta irregularidade. O Gonçalves idem, deixando os comerciantes da redondeza na agonia para pagar IPTU sem desconto. Como também nunca se sabe quantas cabines do elevador Lacerda estarão funcionando.
Agora sem ironia e com muita irritação. Os transportes públicos de Salvador são um desastre. Um khaos de tragédia grega. Velhos, imundos, calorentos, os ônibus param onde e quando o motorista bem entende. Onde já se viu serviço essencial a população depender de empresários movidos a lucro? O único micro-ônibus que ia, de caju em caju, do Largo de Santo Antônio até o Campo Grande, agora encolheu a rota, regressando logo na Piedade. Quer saber mais, Dona Gertrudes? A arquivista Cecília, que vem me ajudar três manhãs por semana, levava do fim de linha de Brotas ao Aquidabã uns 45 minutos. Agora são 70.
Desde a gestão do prefeito Imbassahy, que acabou com a Praça da Sé e deslocou o terminal de ônibus para bem longe, aproveitando para cortar 50% do transporte público no centro de Salvador, quantos comerciantes foram obrigados a fechar seus estabelecimentos? Em 1974, na Baixa dos Sapateiros passavam 200 ônibus por hora. Hoje não chegam a 40! E aí, secretário Fábio Mota, não vai fazer nada? Afinal, qual é o projeto maquiavélico que pretende varrer do mapa o centro de Salvador? Meu gostoso bairro de Santo Antônio está sujo, com descaraterizações assustadoras. Não entendo como permanece Patrimônio da Humanidade. Onde estão os fiscais da Sucom para impedir o vandalismo permanente? Por que estranhas razões se omitem? Esperando ter respondido a algumas de suas perguntas, minha cara Gertrudes, ou seja qual for seu nome, subscrevo-me atenciosamente...
Dimitri Ganzelevitch
A Tarde 
Sábado 24 de março 2018



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