Iphan tomba acervo de
Arthur Bispo do Rosário
Coleção principal é formada por 805 peças, entre estandartes, indumentárias e outros objetos
RIO - O Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) — órgão colegiado de decisão máxima do instituto para as questões relativas ao patrimônio material e imaterial do país — tombou nesta quarta-feira, por unanimidade, o acervo de Arthur Bispo do Rosário. A coleção principal é formada por 805 peças, entre elas estandartes, indumentárias, vitrines, fichários, móveis, objetos (recobertos com fio azul ou não) e vagões de espera. O acervo é composto por peças elaboradas em diversos materiais, como vidro, madeira, plástico, tecidos, linhas, botões, gesso, e diversos itens recolhidos do lixo e da sucata.
— Acho que falta ao nosso povo tomar o reconhecimento dessa obra que, inicialmente, veio de fora. A vitória foi acachapante porque o trabalho dele é muito impactante e comparado ao de grandes artistas visuais. Isso tocou todos os conselheiros de uma forma muito contundente e avassaladora, por conta da excepcionalidade da obra. Apesar de não ter formação técnica, ele era um artista nato — disse a presidente do Iphan, Kátia Bogéa.
O Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural reúne 26 conselheiros, de representantes de órgãos como os ministérios da Educação, das Cidades, do Turismo e do Meio Ambiente; do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB) e da Sociedade de Arqueologia Brasileira (SAB), entre outros. Do total, 20 conselheiros participaram da votação, além de Kátia Bogéa, totalizando 21 votos pelo tombamento da obra.
Curador do Museu Bispo do Rosário desde 2014, Ricardo Resende tentava o tombamento da obra e do ambiente em que ela foi criada há dois anos, período em que também vem desenvolvendo com sua equipe um levantamento de todos os trabalhos do artista, visando o lançamento de um catálogo raisonné em 2019.
— O tombamento, que inclui a cela em que Bispo do Rosário viveu e que mantém as suas intervenções, será fundamental para a conservação de sua obra — reforça Resende. — Além de criar um compromisso do Estado em abrigar e preservar os trabalhos, dentro de condições museológicas adequadas, a ação é mais mais um atrativo para parcerias com instituições privadas junto ao museu.
— A gente espera que, agora, isso possibilite mais visibilidade para o processo de captação de recursos para a manutenção da obra. O museu já faz um trabalho importante com a comunidade, e a gente sabe da dificuldade de difusão da cultura. Isso não tem um efeito imediato, mas dá uma legitimação muito importante — acrescenta Raquel Fernandes, diretora do Museu Bispo do Rosário.
O sergipano Arthur Bispo do Rosário Paes era natural de Japaratuba, no interior do estado, onde nasceu em 1909. Foi marinheiro e boxeador de 1926 a 1932, e empregado doméstico no bairro de Botafogo no fim da década de 30. De acordo com os registros, ele teve seu primeiro surto de esquizofrenia em 1938, quando peregrinou por igrejas do Centro se dizendo um messias. Foi fichado e preso pela polícia, tendo sido conduzido, primeiramente, ao antigo Hospício Pedro II, na Praia Vermelha.
Após um mês, foi conduzido à Colônia Juliano Moreira, lugar que se confunde com a sua arte, onde permaneceu por mais de 50 anos como o "paciente 01662", até sua morte, em 1989. Foi neste período que ele começou a produzir seu trabalho, como mantos, bordados e tiras de tecidos pasteisem que escrevia frases, poemas e manifestos, tudo feito com o que encontrava no lixo e na sucata do complexo manicomial.
"Qual a cor da minha aura?" era a pergunta que dirigia aos visitantes das celas de que tomava conta e onde guardava suas obras. Um dos destaques é o Manto da Apresentação, peça bordada que ele dizia ser a sua vestimenta para o Juízo Final.Hoje, Bispo do Rosário é considerado um dos maiores expoentes da arte contemporânea brasileira e mundial. Após sua morte, teve sua primeira exposição individual, no Parque Lage, e peças expostas em São Paulo, Veneza, Lyon e no Victoria and Albert Museum, em Londres, entre outras cidades.
No ano passado, o Manto da Apresentação esteve exposto na fundação La Maison Rouge, em Paris. No carnaval deste ano, Bispo do Rosário foi homenageado pela escola de samba Acadêmicos do Cubango em seu desfile da série A ‘O Rei que bordou o mundo’. Em 2014, sua história foi retratada no filme "O senhor do labirinto", de Geraldo Motta Filho e Gisella de Mello. Ele foi interpretado pelo ator Flávio Bauraqui.
Na quinta-feira, os conselheiros voltam a se reunir no mesmo local para discutir os pedidos de proteção de mais quatro novos bens, representantes da diversidade cultural do Brasil: o tombamento dos terreiros de candomblé Ilê Obá Ogunté Sítio Pai Adão, do Recife (PE), e Tumba Junsara, de Salvador (BA), além dos registros como Patrimônio Cultural do Brasil da Procissão do Senhor dos Passos, em Florianópolis (SC), e do Sistema Agrícola Tradicional das Comunidades Quilombolas do Vale do Ribeira, no Estado de
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