sábado, 22 de setembro de 2018

UM MUSEU PHOTOSHOP




Primeiro era para ser a nova sede do Museu da Cidade, já que a casinha de bonecas criada em 1975 por dona Eliete, cunhada do ACM, fora fechada para instalar a Guarda Municipal. Logo no Largo do Pelourinho, cartão postal number one do centro histórico de Salvador! A esta intenção foi agregada a curiosíssima ideia de celebrar “O Frontispício de Salvador”. Quem sou eu para entender a proposta? Na plotagem que escondia o tapume da obra, afirmava-se o imóvel ser um exemplo do raro estilo eclético. Mais de um arquiteto deve ter dado uma gargalhada gostosa pela idiotice desta afirmação, já que o que mais tem na capital são justamente imóveis de estilo eclético, desde o Palacete Martins Catarino até o Largo de Santo Antônio, Comércio e Ribeira.
De repente, viravolta! De dia para outro me aparece uma Casa do Carnaval. Nada contra, se bem que sempre fui a favor de um centro de cultura baiana – tipo Museu do Homem do Nordeste -  onde, não somente o carnaval de Salvador teria seu espaço, como também os de Maragogipe, Juazeiro, Barreiras, Ilhéus etc. e as inúmeras outras expressões das culturas popular e erudita do mais antigo estado do Brasil. Mas pedir ao governo do Estado se preocupar com a memória da cultura é surreal.
A Casa do Carnaval abriu em fevereiro com preços para Guggenheim ou Topkapi. Deixei passar uns meses e finalmente resolvi investir R$15 (preço para velhinhos) para adentrar esta tentativa museológica de um prefeito que tão pouco brilhou pelo apreço a cultura. Naquela tarde eu seria o único visitante.


A primeira impressão é impactante. A equipe responsável tem nomes de respeito; o Paulo Miguez e outros que confesso desconhecer. Tinha gostado do trabalho do cenógrafo Gringo Cardia para a casa de Jorge Amado, muito mais valorizada que durante a vida do escritor. Desta vez, porém, confesso que me senti mais no almoxarifado carioca de uma novela da Globo que na festa suor, cerveja e decibéis da Avenida Sete ou Farol da Barra. 


Os carros de cafezinho erradamente estilizados, os bancos e mesas de festas de largo com proporções “ampliadas” ideias para rainhas do lar da Casa Cor e aquele rosto enorme da Daniela Mercury querendo me obrigar a pular, parecem uma interpretação mais para Orlando que para documentação antropológica de uma das festas mais significativas das três Américas e Caribe.


Um projeto museológico leva anos para amadurecer e ser realizado. Deve ser acessível a todos e com pelo menos um dia gratuito semanal para quem não pode sacrificar o preço de uma refeição.
Agora ficamos na expectativa do tal Museu da Cidade, ainda sem endereço, e do Museu da Música previsto para o casarão de azulejos da Praça Cairu.   Sonhar não custa.


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