Primeiro era para ser a nova sede do Museu da Cidade, já que
a casinha de bonecas criada em 1975 por dona Eliete, cunhada do ACM, fora
fechada para instalar a Guarda Municipal. Logo no Largo do Pelourinho, cartão
postal number one do centro histórico de Salvador! A esta intenção foi agregada
a curiosíssima ideia de celebrar “O Frontispício de Salvador”. Quem sou eu para
entender a proposta? Na plotagem que escondia o tapume da obra, afirmava-se o
imóvel ser um exemplo do raro estilo eclético. Mais de um arquiteto deve ter
dado uma gargalhada gostosa pela idiotice desta afirmação, já que o que mais
tem na capital são justamente imóveis de estilo eclético, desde o Palacete
Martins Catarino até o Largo de Santo Antônio, Comércio e Ribeira.
De repente, viravolta! De dia para outro me aparece uma Casa
do Carnaval. Nada contra, se bem que sempre fui a favor de um centro de cultura
baiana – tipo Museu do Homem do Nordeste -
onde, não somente o carnaval de Salvador teria seu espaço, como também os
de Maragogipe, Juazeiro, Barreiras, Ilhéus etc. e as inúmeras outras expressões
das culturas popular e erudita do mais antigo estado do Brasil. Mas pedir ao
governo do Estado se preocupar com a memória da cultura é surreal.
A Casa do Carnaval abriu em fevereiro com preços para
Guggenheim ou Topkapi. Deixei passar uns meses e finalmente resolvi investir
R$15 (preço para velhinhos) para adentrar esta tentativa museológica de um
prefeito que tão pouco brilhou pelo apreço a cultura. Naquela tarde eu seria o
único visitante.
A primeira impressão é impactante. A equipe responsável tem
nomes de respeito; o Paulo Miguez e outros que confesso desconhecer. Tinha
gostado do trabalho do cenógrafo Gringo Cardia para a casa de Jorge Amado,
muito mais valorizada que durante a vida do escritor. Desta vez, porém,
confesso que me senti mais no almoxarifado carioca de uma novela da Globo que
na festa suor, cerveja e decibéis da Avenida Sete ou Farol da Barra.
Os carros
de cafezinho erradamente estilizados, os bancos e mesas de festas de largo com
proporções “ampliadas” ideias para rainhas do lar da Casa Cor e aquele rosto
enorme da Daniela Mercury querendo me obrigar a pular, parecem uma
interpretação mais para Orlando que para documentação antropológica de uma das
festas mais significativas das três Américas e Caribe.
Um projeto museológico leva anos para amadurecer e ser
realizado. Deve ser acessível a todos e com pelo menos um dia gratuito semanal para
quem não pode sacrificar o preço de uma refeição.
Agora ficamos na expectativa do tal Museu da Cidade, ainda
sem endereço, e do Museu da Música previsto para o casarão de azulejos da Praça
Cairu. Sonhar não custa.
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