sábado, 16 de agosto de 2025

O CASO DA ÁGUA

  

                                            Para a Embasa, o ser humano não conta.


Quinta-feira passada fui sacudida por um acontecimento inusitado. A embasa cortou minha água sem nenhum aviso. 

Eu não sabia que estava em débito. 

Achei que havia faltado água no prédio como algumas outras vezes aconteceu. A bomba havia quebrado e havíamos todos ficado sem água, que não teve força para subir e encher os tanques. Aos poucos fui chegando à conclusão que somente meu apartamento estava sem água. Corri para conferir minhas contas e verifiquei que faltava uma, a do mês de março. O que aconteceu? 

Mil pensamentos me atormentaram, porque eu não sabia o que havia ocorrido. Em resumo, a conclusão chegada é que não havia recebido aquela conta, pois todas as outras, até o mês de agosto, haviam sido pagas. Pedi imediatamente a meu filho que verificasse como poderíamos pagar aquela conta. Ele pagou a “maldita”. Como já era noite, não podia entrar em contato com a embasa, tendo que esperar o dia seguinte. 

Às 8 horas liguei para a empresa para informar que a conta havia sido paga e verificar o próximo passo. Teria que esperar até as 9:30h para que a embasa verificasse a veracidade de minhas informações. Sou persona non grata, uma verdadeira gatuna. 

Às 9:30h liguei novamente, informei o que havia acontecido e quando poderia participar da felicidade de ter água nas torneiras, novamente. Teria que pagar uma multa exemplar. Dividi em 3 vezes. Mesmo assim, como era uma sexta-feira, ficaria à mercê da sorte. Caso o sensor tivesse tempo, pois havia outros gatunos como eu, seria afortunada com a ligação da preciosa substância. 

A partir de então, percebi a sutileza de nossas vidas, condenadas a sensores não tão impolutos, o quanto estamos vulneráveis a essas personagens que, de repente, podem tornar nossas vidas impossíveis. Como viver sem água dentro de um apartamento? Não podemos sequer lavar nossas mãos, cozinhar? Impossível! Usar o vaso sanitário? O caos. 

Fomos proibidos até de beber água. 

Saí à compra do precioso líquido na Mercearia mais próxima. Sem água não existe vida. Ninguém poderia ser tão tirânico a ponto de não permitir que um súdito tivesse acesso ao líquido da vida. Fiquei pensando como não existe uma lei que proteja o cidadão comum dessas arbitrariedades. 

Pelo não recebimento de uma conta, que foi o que ocorreu, e, no dia a dia, não perceber que a dita cuja não havia chegado, um cidadão pode impor a outro o não acesso ao uso da água. 

Monstruoso, arbitrário! Teria que sair do apartamento e procurar a casa de um parente para ficar até que os poderosos me devolvessem o direito à vida. Arbitrário! Tornei-me criminosa, “persona non grata”, digna de um corretivo à altura. 

Fiquei ponderando sobre isso, afinal, não me recusei a pagar. Ao contrário, procurei os meios de pagamento mais imediatos possíveis para sanar o problema. 

Cheguei à conclusão de que deveria haver uma lei protetora contra essas arbitrariedades. Que a punição “exemplar” fosse conferida àqueles que se recusassem ao pagamento.

Cecília Vieira de Melo

         

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