quinta-feira, 21 de agosto de 2025

SALVADOR ESTÁ FICANDO CADA DIA MAIS FEIA


Largo da Quitandinha do Capim. A direita, este imóvel está sendo deturpado, agredido com pleno conhecimento do IPHAN 


Não se trata de provocação, nem de saudosismo, senão da mais triste verdade. Onde sumiu a Salvador cantada por músicos e poetas?

Estamos sem planejamento urbano desde os anos 70 quando a especulação imobiliária tomou conta da primeira capital do Brasil com o aval de todos os prefeitos e governadores. Desde a Ribeira até a lagoa do Abaeté, a decadência sociocultural é um tsunami que não poupa bairro nenhum.

Ontem voltei para casa passando pelo Dique do Tororó. Do lado da Fonte Nova – o escândalo imobiliário de 2010 – o Jardim Baiano não desequilibra a paisagem, ajudado pela arborização da encosta. Mas do lado oposto, a favelização do Engenho Velho é uma longa violência à estética da cidade. Sem falar, é claro, da vergonhosa realidade socioeconôica que confirma a Bahia como um dos cinco estados mais pobres do Brasil.

Já que pretendemos uma liderança no turismo, custaria muito aos cofres públicos pelo menos rebocar e pintar o casario de nossas favelas? Não iria botar mais feijão na panela, mas daria uma onça de autoestima aos moradores e os selfies ficariam mais charmosos.

Quem leu “Bahia 1860” de Maximiliano de Habsburgo, pode imaginar a sucessão de mansões do Corredor da Vitória, hoje derrubadas ou transformadas em salão de festas de espigões tão banais como altos. Desde a Mansão Wildberger até a antiga residência do arcebispo – que nunca deveria ter saído da Praça da Sé - é um constrangedor desfile de mediocridades. No Itaigara ou no Costa Azul, quando por acaso sou obrigado a ir, me dá uma vontade irrepressível de fechar os olhos tal é a penosa falta de criatividade.

O leitor não pense que só gosto do antigo. Me emociono com Manhattan, com o Paseo de la Reforma da capital do México e até com a parisiense La Défense.

O desfile do 2 de julho passa por aqui, mas os políticos nada notam

Não somente as realizações imobiliárias contribuem a degeneração de Salvador. Temos agora uma prefeitura que declarou ostensiva e oficial guerra ao meio ambiente. “Área verde não paga IPTU”, “Área verde não serve para nada”. Flagrante de analfabetismo ecológico. Se alguém disser a estes senhores que a extinção das abelhas levará a desaparição do ser humano, já podemos adivinhar as descontroladas gargalhadas.

O Jardim de Aláh já foi um dos cartões postais de Salvador

Quando não se arranca os coqueiros como fizeram no Jardim de Alá, nossos edis “civilizam” o que sobrou de restinga em Stella Maris apesar dos protestos dos ambientalistas, notadamente da corajosa finada Clarice Bagrichevsky. A prefeitura acha que erradicar a vegetação original para ciclovia é avanço social e que construir mais bares e restaurantes à beira-mar irá melhorar nossa qualidade de vida.

Qual será o próximo?

Entretanto, centro histórico e Comércio continuam desmoronando sob os olhares impotentes do Iphan e incompetentes da Conder e da Fundação Mário Leal Ferreira.

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