Não se trata de provocação, nem de saudosismo, senão da mais triste verdade. Onde sumiu a Salvador cantada por músicos e poetas?
Estamos sem
planejamento urbano desde os anos 70 quando a especulação imobiliária tomou
conta da primeira capital do Brasil com o aval de todos os prefeitos e
governadores. Desde a Ribeira até a lagoa do Abaeté, a decadência sociocultural
é um tsunami que não poupa bairro nenhum.
Ontem voltei
para casa passando pelo Dique do Tororó. Do lado da Fonte Nova – o escândalo
imobiliário de 2010 – o Jardim Baiano não desequilibra a paisagem, ajudado pela
arborização da encosta. Mas do lado oposto, a favelização do Engenho Velho é
uma longa violência à estética da cidade. Sem falar, é claro, da vergonhosa
realidade socioeconôica que confirma a Bahia como um dos cinco estados mais
pobres do Brasil.
Já que
pretendemos uma liderança no turismo, custaria muito aos cofres públicos pelo
menos rebocar e pintar o casario de nossas favelas? Não iria botar mais feijão
na panela, mas daria uma onça de autoestima aos moradores e os selfies ficariam
mais charmosos.
Quem leu
“Bahia 1860” de Maximiliano de Habsburgo, pode imaginar a sucessão de mansões
do Corredor da Vitória, hoje derrubadas ou transformadas em salão de festas de
espigões tão banais como altos. Desde a Mansão Wildberger até a antiga
residência do arcebispo – que nunca deveria ter saído da Praça da Sé - é um constrangedor
desfile de mediocridades. No Itaigara ou no Costa Azul, quando por acaso sou
obrigado a ir, me dá uma vontade irrepressível de fechar os olhos tal é a
penosa falta de criatividade.
O leitor não
pense que só gosto do antigo. Me emociono com Manhattan, com o Paseo de la
Reforma da capital do México e até com a parisiense La Défense.
Não somente
as realizações imobiliárias contribuem a degeneração de Salvador. Temos agora
uma prefeitura que declarou ostensiva e oficial guerra ao meio ambiente. “Área
verde não paga IPTU”, “Área verde não serve para nada”. Flagrante de
analfabetismo ecológico. Se alguém disser a estes senhores que a extinção das
abelhas levará a desaparição do ser humano, já podemos adivinhar as
descontroladas gargalhadas.
Quando não
se arranca os coqueiros como fizeram no Jardim de Alá, nossos edis “civilizam” o
que sobrou de restinga em Stella Maris apesar dos protestos dos ambientalistas,
notadamente da corajosa finada Clarice Bagrichevsky. A prefeitura acha que
erradicar a vegetação original para ciclovia é avanço social e que construir
mais bares e restaurantes à beira-mar irá melhorar nossa qualidade de vida.
Entretanto,
centro histórico e Comércio continuam desmoronando sob os olhares impotentes do
Iphan e incompetentes da Conder e da Fundação Mário Leal Ferreira.




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