PM preso por ligação com o PCC era chefe da segurança de Tarcísio de Freitas
Por Hora do Povo Publicado em 28 de novembro de 2024

A Polícia Federal (PF) prendeu nesta terça-feira (26) um policial militar e um policial civil de São Paulo, suspeitos de integrar um esquema de lavagem de dinheiro ligado ao crime organizado por meio de fintechs. Um dos detidos, o capitão da PM Diogo Costa Cangerana, atuava na Casa Militar do Palácio dos Bandeirantes e era responsável pela segurança do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). Ele acompanhou o governador em viagens e recebeu prêmios em reconhecimento pelos serviços prestados.
O outro agente preso foi o policial civil Cyllas Salerno Elia Júnior, que atuava no Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) até dezembro de 2022, quando pediu afastamento não remunerado por dois anos. Ambos foram presos no câmbio da Operação Dólar Tai-Pei, deflagrada para investigar as empresas que oferecem serviços financeiros digitais.
Os suspeitos movimentaram perto de 6 bilhões de reais em transações ao longo dos últimos cinco anos – R$ 800 milhões apenas em 2024. A operação contou com cerca de 200 agentes, que executaram 16 mandados de prisão preventiva e 41 ordens de busca e apreensão, conforme determinação da Justiça Federal.
Cyllas foi citado na delação de Antonio Vinicius Gritzbach, morto no Aeroporto de Guarulhos no dia 8 de novembro. Gritzbach havia denunciado o agente à Corregedoria da Polícia Civil cerca de uma semana antes de ser executado. Cyllas é dono do 2 GO Bank, e suspeito de ter relação com integrantes da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), de acordo com a polícia.
A PF investiga se a instituição faria parte de um sofisticado sistema de lavagem de dinheiro e evasão de divisas. As fintechs, aponta a corporação, atuariam na venda de moeda estrangeira em espécie, sem autorização do Banco Central, inclusive usando empresas “laranjas” para abrir contas bancárias para movimentar os recursos.
Em entrevista coletiva nesta quarta-feira (27), Tarcísio minimizou a prisão do capitão Diogo Costa Cangerana. Para ele, ter na sua na equipe de segurança um suspeito de ligação com uma facção criminosa é um fato isolado. “O que você tem são atos isolados de pessoas que desviam conduta, como tem em qualquer outra organização”, justificou. Apesar de prometer punição rigorosa contra o acusado, o governador justificou que “toda instituição tem suas maçãs podres”.
As declarações foram feitas após a participação do chefe do Palácio dos Bandeirantes na inauguração do novo prédio de uma escola estadual em Mogi Guaçu (SP).
Embora Cangerana ocupasse, segundo o próprio governo, o cargo de “Chefe de Equipe da Divisão de Segurança de Dignitários do Departamento de Segurança Institucional”, Tarcísio negou que o policial exercesse a função de chefe de sua segurança e acrescentou que ele foi desligado da Casa Militar em setembro. Na ocasião, Cangerana foi transferido para o 13.º Batalhão da PM, responsável pelo patrulhamento da Cracolândia.
“Ele prestava serviço na Casa Militar, estava lá há 14 anos e foi mandado embora”, afirmou o governador. “Trabalhou durante 14 anos (na Casa Militar), com vários governadores. Quando eu cheguei, ele foi embora. Nós tiramos ele em setembro deste ano. Se a gente soubesse de alguma coisa, obviamente ele teria saído há muito mais tempo”, alegou Tarcísio.
Por ter cargo considerado de confiança pelo governador enquanto atuava na Casa Militar, o capitão Diogo recebia gratificações. As investigações apontam sua participação na abertura de contas nessas instituições financeiras.
Apesar de Tarcísio tratar o caso de forma irrelevante e se esforçar para se distanciar da figura do homem apontado como um dos articuladores do esquema financeiro criminoso, Cangerana foi visto ao lado do governador em diversas agendas públicas.
Em publicações no perfil oficial do governo no Instagram, ele aparece acompanhando Tarcísio em um ato de campanha com o prefeito Ricardo Nunes (MDB) no Mercado Municipal de São Paulo, em agosto. Em uma viagem a Balneário Camboriú (SC) para a Conferência Política de Ação Conservadora (CPAC) Brasil, organizada pela extrema direita brasileira, o acusado também estava presente.
Justiça Federal manda soltar capitão da PM preso em operação contra grupo acusado de praticar crimes financeiros e movimentar R$ 6 bilhões
Policial civil que era sócio de banco virtual também teve habeas corpus concedido. Ambos foram presos durante operação da Polícia Federal realizada em novembro de 2024 e, depois, indiciados.
Por Isabela Leite, Bruno Tavares, GloboNews e TV Globo — São Paulo
Justiça Federal solta policiais de SP presos em operação da PF contra grupo acusado de crimes financeiros
A Justiça Federal determinou a soltura de um capitão da Polícia Militar de São Paulo acusado de integrar uma organização criminosa que operava um complexo sistema bancário ilegal de lavagem de dinheiro e evasão de divisas, que teria movimentado R$ 6 bilhões, nos últimos cinco anos.
Diogo Costa Cangerana foi preso durante uma operação da Polícia Federal (PF), em novembro de 2024. Segundo as investigações, ele era responsável por captar clientes para os crimes financeiros, além de oferecer estrutura para o esquema.
Ele foi solto em 18 de dezembro, após um habeas corpus concedido pelo Tribunal Regional Federal (TRF3). A informação só foi confirmada neste sábado (4), pela TV Globo.
Questionada, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) disse que Diogo foi "alocado na diretoria de logística da PM, onde cumpre expediente administrativo".
Além do capitão, um agente da Polícia Civil de São Paulo também teve a soltura decretada na mesma data. Cyllas Salerno Elia Junior era sócio de um banco digital e estava afastado de suas funções na corporação desde dezembro de 2022. Segundo a SSP, ele permanece afastado e sem remuneração.
Cyllas também foi mencionado por Vinícius Gritzbach na delação premiada assinado com o Ministério Público. No acordo, o empresário entregou nomes de policiais que teriam recebido propina para não incriminá-lo em investigações relacionadas à facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).
Ambos os agentes foram indiciados pela Polícia Federal no inquérito que investiga os crimes financeiros.
🔎Isso significa que a PF viu fatos suficientes para considerar que eles tiveram envolvimento no esquema criminoso. No entanto, não quer dizer que eles já sejam réus ou que tenham sido considerados culpados ou inocentes pela Justiça.
A defesa do policial civil nega que ele tenha envolvimento com qualquer crime e disse que o "2 Go Bank", instituição da qual é um dos donos, possui sistemas de controle rigorosos sobre as operações financeiras realizadas.
Já a defesa de Diogo Cangerana não foi localizada pela TV Globo.
A SSP informou que "as corregedorias das polícias civil e militar apuram os fatos relativos às condutas dos policiais e permanecem à disposição da Polícia Federal para colaborar com as investigações que resultem em suas prisões".
Operação "Tai-Pan"
PF faz operação contra lavagem de dinheiro
A ação foi realizada em São Paulo e outros cinco estados, além do Distrito Federal. Segundo a PF, o grupo, chefiado em parte por chineses, é suspeito de praticar nos últimos cinco anos crimes financeiros no valor de R$ 6 bilhões.
Entre os integrantes estão brasileiros e estrangeiros de diversas funções, como policial militar e civil, gerentes de bancos e contadores.
A investigação começou em 2022 e revelou o esquema, que realizou operações de crédito e débito que chegaram a R$ 120 bilhões. Em 2024, o chefe do grupo movimentou, sozinho, R$ 800 milhões. Ele buscava a abertura de empresas e contas bancárias com capacidade de movimentar R$ 2 bilhões por dia.
No total, foram cumpridos 16 mandados de prisão preventiva e 41 de busca e apreensão em endereços residenciais e comerciais nos estados de São Paulo, Distrito Federal, Espírito Santo, Paraná, Ceará, Santa Catarina e Bahia.
A Justiça também determinou o bloqueio de R$ 10 bilhões de 214 empresas. Pelo menos 200 policiais federais atuam na operação.
A Polícia Federal informou que o dinheiro circulava dentro do Brasil e era enviado, principalmente, para China e Hong Kong, além de Estados Unidos, Canadá, Panamá, Argentina, Bolívia, Colômbia, Paraguai, Peru, Holanda, Inglaterra, Itália, Turquia e Emirados Árabes.
O objetivo era atender um fluxo de dinheiro para o território chinês, mas atendia qualquer pessoa que quisesse ocultar capitais, lavar dinheiro ou enviar e receber valores do exterior. Segundo a corporação, há ainda indícios de envolvimento de quadrilhas especializadas em tráfico de drogas, armas e contrabando.
Como funcionava o esquema
Ainda de acordo com a Polícia Federal, a organização criminosa usava meios clássicos de lavagem de dinheiro:
- Boletagem;
- Empresas de fachada;
- Laranjas;
- Falsificação de documentos de importação e exportação;
- Pulverização de operações bancárias;
- Operações de câmbio fraudulentas;
- Dólar-cabo.
Mas também recorreu a "modernos métodos", como o uso de fintechs e transferência de dinheiro para criptoativos.
"Esses novos modelos e instrumentos de lavagem e evasão permitiram à organização saltar de milhões de reais para valores na casa de bilhões de reais", diz a nota da Polícia Federal. A Receita Federal também apoiou a operação em alguns endereços para fazer análise fiscal.
O nome da operação, "Tai-Pan", significa "chefe supremo", e é uma referência a uma obra literária, ambientada no século XIX, sobre um empresário responsável pelo transporte e comercialização de mercadorias chinesas para o mundo.
Os investigados vão responder pelos crimes de organização criminosa, ocultação de capitais e evasão de divisas, com penas que podem chegar a 35 anos de prisão.
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