... AO HORTO FLORESTAL
Leio com
estranhamento no noticiário de que o Almacén Pepé estaria com graves problemas
financeiros. Como nada entendo de economia, abstrair-me-ei de qualquer palpite
senão confessar muita tristeza. Como não se solidarizar com um homem que
começou por uma padaria nos anos 80, salvo erro, e marcou uma época no campo da
gastronomia em Salvador? Ainda tenho saudade das fatias de floresta negra da
Alameda Antunes.
Fui cliente
da Perini da Barra, da Vasco da Gama, do Comércio, do Baiano de Tênis e muito
lamentei a decadência deste templo da gula nas mãos de chilenos mal preparados.
Minha rotina
na loja do Horto Florestal inicia-se com a compra de três ou mais pães. Por
gosto pessoal, prefiro aqueles sem recheio, cujo sabor não competirá com
queijos e presuntos, mel e ensopados. Das generosas cestas de pães, passo para a
pequena mas farta mesa de croissants. Aqui também prefiro os puros, que
aceitarão a manteiga sem sal e geleias caseiras. Elaborei uma receita de
laranja amarga que ficou famosa entre meus amigos. Para o café da manhã do dia
seguinte, escolho alguns grandes e outros bem pequenos. Declaro desde já que
nada deixam a desejar comparados com os da Flûte Enchantée na Avenue Mozart em
Paris. A preço igual.
Do
departamento dos queijos, vou me permitir uma sugestão: montar uma mesa somente
com os queijos nacionais, cada um com sua etiqueta de proveniência. Facilitaria
muito a escolha dos apreciadores. Também me parece que a exposição de queijos
importados é muito confusa. Nunca encontro os produtos preferidos no mesmo
lugar. Sempre tenho que dar uma de detective.
Tenho,
repetidas vezes, pedido ao gerente para providenciar arroz Carolina que é de
longe o mais adequado para o arroz doce à portuguesa, bem cremoso. Sem sucesso.
Esperava
muito do novo espaço no shopping Barra. Devo admitir que fiquei bastante
frustrado quando descobri um monte de mesas invadindo a maior parte de uma
imensa sala, o balcão dos queijos numa ponta e os pães na outra, o conjunto
nesta abominável cor bege que dizem ser a “tendência” do momento. Num país
tropical cuja principal caraterística é justamente a orgia de cores, pretender
que estamos em Montevidéu ou Bruxelas é total contrassenso. Excesso de
gentrificação acaba afastando uma boa parte de quem tem poder aquisitivo.
Ainda está a
tempo de inverter a marcha e dar um banho de alegria na casa, seu Pepe! Tire as
mesas, bote bancadas de frutas e verduras, outras de charcutaria, de doces
caseiros, de biscoitos e geleias, nozes, tâmaras, amêndoas, castanhas, pinhões,
figos e, pelo amor a todos os orixás, não esqueça os quindins!
Nunca se
deve esquecer que comida é vida. Aliás, não só: é alegria, é gula, é festa e o
mais delicioso pecado capital.

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