quinta-feira, 18 de setembro de 2025

DA ALAMADA ANTUNES...

... AO HORTO FLORESTAL



Leio com estranhamento no noticiário de que o Almacén Pepé estaria com graves problemas financeiros. Como nada entendo de economia, abstrair-me-ei de qualquer palpite senão confessar muita tristeza. Como não se solidarizar com um homem que começou por uma padaria nos anos 80, salvo erro, e marcou uma época no campo da gastronomia em Salvador? Ainda tenho saudade das fatias de floresta negra da Alameda Antunes.

Fui cliente da Perini da Barra, da Vasco da Gama, do Comércio, do Baiano de Tênis e muito lamentei a decadência deste templo da gula nas mãos de chilenos mal preparados.

Minha rotina na loja do Horto Florestal inicia-se com a compra de três ou mais pães. Por gosto pessoal, prefiro aqueles sem recheio, cujo sabor não competirá com queijos e presuntos, mel e ensopados. Das generosas cestas de pães, passo para a pequena mas farta mesa de croissants. Aqui também prefiro os puros, que aceitarão a manteiga sem sal e geleias caseiras. Elaborei uma receita de laranja amarga que ficou famosa entre meus amigos. Para o café da manhã do dia seguinte, escolho alguns grandes e outros bem pequenos. Declaro desde já que nada deixam a desejar comparados com os da Flûte Enchantée na Avenue Mozart em Paris. A preço igual.

Do departamento dos queijos, vou me permitir uma sugestão: montar uma mesa somente com os queijos nacionais, cada um com sua etiqueta de proveniência. Facilitaria muito a escolha dos apreciadores. Também me parece que a exposição de queijos importados é muito confusa. Nunca encontro os produtos preferidos no mesmo lugar. Sempre tenho que dar uma de detective.

Tenho, repetidas vezes, pedido ao gerente para providenciar arroz Carolina que é de longe o mais adequado para o arroz doce à portuguesa, bem cremoso. Sem sucesso.

Esperava muito do novo espaço no shopping Barra. Devo admitir que fiquei bastante frustrado quando descobri um monte de mesas invadindo a maior parte de uma imensa sala, o balcão dos queijos numa ponta e os pães na outra, o conjunto nesta abominável cor bege que dizem ser a “tendência” do momento. Num país tropical cuja principal caraterística é justamente a orgia de cores, pretender que estamos em Montevidéu ou Bruxelas é total contrassenso. Excesso de gentrificação acaba afastando uma boa parte de quem tem poder aquisitivo.

Ainda está a tempo de inverter a marcha e dar um banho de alegria na casa, seu Pepe! Tire as mesas, bote bancadas de frutas e verduras, outras de charcutaria, de doces caseiros, de biscoitos e geleias, nozes, tâmaras, amêndoas, castanhas, pinhões, figos e, pelo amor a todos os orixás, não esqueça os quindins!

Nunca se deve esquecer que comida é vida. Aliás, não só: é alegria, é gula, é festa e o mais delicioso pecado capital.

 Dimitri Ganzelevitch

A Tarde,sábado 20 de setembo 2025 

 

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