quinta-feira, 25 de setembro de 2025

AGRESSÃO IMOBILIÁRIA

 

Prédio erguido na orla do Rio Vermelho gera sombra 

na faixa de areia e preocupa moradores


Arquiteta explica como a construção de empreendimentos na orla de Salvador impacta o meio ambiente  |   Bnews - Divulgação Dandara Amorim/BNews


A construção de um prédio à beira da Praia do Rio Vermelho, em Salvador, tem causado desconforto entre moradores e banhistas. Isso porque a posição do edifício que está sendo erguido já gera uma grande sombra na faixa de areia e dificulta a circulação do vento, impedindo que a área seja aproveitada plenamente.

Ao BNews, um morador da região denunciou que a construção já altera o sombreamento na areia e que, durante o verão, a sombra também atingirá a Praia da Paciência, localizada ao lado.

Para a empresária Rita Andrade, que também reside no bairro, "deve haver um certo limite para essas construções, para que não poluam tanto o visual e não afetem o aproveitamento das praias". Já a estudante de odontologia Evelly Oliveira considerou a situação complicada para quem frequenta a praia, mas vê como uma forma de impulsionar o turismo na capital baiana. 

O papel do PDDU

A discussão sobre a construção de empreendimentos nas áreas de orla da cidade envolve, além de questões ambientais e urbanísticas, a especulação imobiliária, que busca cada vez mais expandir seus negócios, especialmente quando se trata de áreas verdes.

Em Salvador, há um Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU) que estabelece diretrizes para o crescimento da cidade. Se as construções estiverem cumprindo a legislação, não há o que contestar; caso haja irregularidades, cabe acionar o Poder Judiciário.

A última atualização do PDDU de Salvador foi feita em 2016. A legislação prevê que o Executivo encaminhe à Câmara Municipal a proposta de revisão até oito anos “da sua promulgação no Diário Oficial do Município”. O prazo venceu em 2024.

Impactos das construções nas orlas

Dentro desse contexto, o BNews conversou com a arquiteta e urbanista Ingrid Silva Assis Santana, mestre em Engenharia Civil e doutoranda em Arquitetura e Urbanismo.

Segundo Ingrid, edifícios de grande porte “atuam como barreiras físicas ao fluxo de ventos naturais, principalmente à brisa marítima, que é um dos principais mecanismos de ventilação e regulação térmica da cidade”. O fenômeno, conhecido como efeito de barreira, altera microclimas urbanos, acrescentou a especialista.

De acordo com a arquiteta, esse processo resulta na formação de ilhas de calor mais intensas, piora na qualidade do ar, dificulta a dispersão de poluentes e reduz o conforto térmico em espaços públicos.

Sobre o sombreamento causado pela altura das torres próximas à praia, Ingrid destacou que impacta o convívio social ao reduzir a insolação direta e pode alterar o ciclo de vida de vegetais urbanos.

Ainda no âmbito ambiental, ela explicou que construções de grande escala implicam, necessariamente, na supressão da vegetação nativa e na impermeabilização do solo. Com isso, há redução da biodiversidade urbana, eliminação de corredores ecológicos e piora na drenagem natural. “É um processo altamente impactante e, muitas vezes, irreversível”, alertou.

Quanto ao PDDU, a urbanista afirmou que há muitas flexibilizações, em que a exceção acaba virando regra. “Um plano diretor efetivo para o Rio Vermelho, e para Salvador como um todo, deveria ser explícito em negar a verticalização de alto impacto nessas áreas. Ele precisa definir gabaritos rigorosos, taxas de permeabilidade elevadas, afastamentos generosos da linha de costa e tratar a orla como uma zona de especial interesse paisagístico e ambiental, e não meramente imobiliário”, disse.

Ingrid defendeu, por fim, um desenvolvimento da cidade que seja verdadeiramente sustentável, valorizando o bem-estar coletivo e a paisagem da capital baiana.

COMENTÁRIO DO BLOGUEIRO.- Pena o artigo não ter a coragem de informar o nome da empresa responsável e do órgão municipal que teve a descaração de permitir edste absurdo.

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