No dia 21 de maio festejei os 46 anos de minha chegada a Salvador. Após alguns meses no Porto da Barra, encontrei uma pequena cobertura no 28 da rua do Passo e lá fiquei uns quinze anos. Quando me mudei, em 1990, para a rua Direita de Santo Antônio, o IPAC convenceu, sei lá com que argumentos, os proprietários a entregarem o imóvel. Seria reformado e devolvido em perfeito estado. Hoje, do dito imóvel só resta a fachada, prestes a desabar. A mesma coisa aconteceu com cinco casas da ladeira do Carmo e em vários outros pontos do centro histórico de Salvador. Ruínas, ruínas, ruínas.
Em janeiro
de 2007, o recém nomeado Secretário Estadual de Cultura resolveu tomar posse na
rocinha da Rua Alfredo Brito - convidados escorregando na lama - e declarou que,
neste mesmo local seria edificado uma mítica Vila Nova Esperança. Todos foram
desalojados, relocados em vários endereços. Quatorze anos se passaram. O
contribuinte pagando os alugueis, lógico. Quantos ex-moradores da rocinha morreram
sem ver sequer um pedaço de muro construído? Quantos crianças, já adultas, se
casaram? O tecido social evaporou. Talvez, neste ano de 2021, a tal vila seja
finalmente terminada. Quem irá ocupá-la?
Com tantos imóveis vazios pelo CH, em vez de transformar uma área verde em algo do tipo “Minha casa, minha vida”, não era mais lógico recuperar três ou quatro casarões e fazer da rocinha um espaço de lazer e esportes?
Haja
demagogia e falta de coerência!
Em março
passado fui convidado a assistir, e eventualmente participar, de uma live
organizada pela Faculdade de Arquitetura da UFBA sobre o centro histórico. Parceiro,
o IPHAN fez colocações com as quais concordei, com uma ou outra ressalva. Não faltaram críticas à obra da CONDER no
bairro de Santo Antônio. Estaríamos na alvorada de novos tempos com,
finalmente, uma fiscalização consistente para verbalizar, multar e exigir
recuperação dos inúmeros erros cometidos por particulares e órgãos oficiais? Que
nada! A live não passou de mero exercício acadêmico. O IPHAN não é mais aquele.
A mesma
mediocridade impera em todos os níveis e em todos os bairros da cidade. Quem
projeta foi nomeado por afinidades partidárias ou particulares. O resultado é
visível. A Praça Cairu e o Farol da Barra prontos para receber helicópteros e
trios elétricos. Nem os tradicionais quiosques de água de coco, cobertos com
palha de coqueiro, escaparam da “modernização”, substituídos por cubos de vidro
parecendo postos policiais.
Pelos deprimentes resultados, parece que a Bahia não tem um só bom arquiteto. Agora temos que engolir um edifício modernoso de onze andares no Comércio para abrigar os arquivos municipais. Com tantos belíssimos imóveis abandonados?
Mas é muita
avacalhação com nosso patrimônio!
Dimitri Ganzelevitch
A Tarde. 25/06/2021.
Sempre o mesmo acerca do mesmo. Parece que respeito ao entorno e bom gosto passam longe das cabeças que aprovam estas barbaridades.
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