Impasse no Santo Antônio: moradores e Iphan divergem sobre plantio de árvores
E, além de vetar o plantio, o Iphan, que foi procurado pela reportagem do CORREIO e não respondeu até o fechamento desta matéria, mandou fechar os canteiros, colocados ali durante obras de reestruturação no bairro.
Uma ação que, segundo moradores, retiraria mais de 10 jardins já criados pela comunidade, que reclama da falta de arborização no bairro e recorreu diretamente ao órgão. Após o pedido, o Iphan decidiu suspender o fechamento dos berços na Rua Direita até que uma conversa fosse realizada, mas manteve a decisão de dar fim aos canteiros localizados na Ladeira do Boqueirão, o que não aconteceu nesta segunda-feira (21) por falta de pedras portuguesas de acordo com moradores.
Ambiente árido
A principal justificativa dos moradores para se opor ao fechamento dos canteiros é a falta de árvores no bairro que, de acordo com a pesquisadora Alessandra Flores, 50, que mora no Santo Antônio há mais de 10 anos, é árido e sofre com inundações por causa da impermeabilidade do solo.
"Nós fizemos plantios nos dois últimos domingos e nenhum morador se opôs. O Santo Antônio precisa de árvores, nós que somos moradores sabemos que se trata de um bairro árido. Existe a preocupação com arquitetura histórica, mas nós não plantamos árvores de grande porte", declara Alessandra.
A jornalista Débora Didonê, 42, é outra moradora do bairro e concorda com o que foi dito por Alessandra. Para ela, o Santo Antônio tem alguns problemas que seriam amenizados pelo plantio. "O nosso bairro tem problema de impermeabilização do solo, falta de sombra, de árvore. Por mais que, em função do patrimônio histórico, existam ressalvas quanto ao plantio, existem plantas menores e estamos dispostos a dialogar para ter essa possibilidade", conta.
Ainda de acordo com Alessandra, os moradores sabem das preocupações com a preservação do patrimônio histórico e entendem que dá para fazer isso sem abrir mão de ter um bairro mais arborizado.
"Estamos cientes que existe uma preocupação que as árvores possam deteriorar calçadas, mas não queremos grandes árvores, existem soluções e plantas adequadas para calçada que não afetam a fachada e nem a calçada. É possível ter verde preservando o patrimônio histórico. É um bairro que vive gente, não é museu", ressalta a pesquisadora.
Alessandra diz ainda que, após apresentar os argumentos favoráveis a promoção do verde no espaço sem prejudicar a missão de preservar o patrimônio histórico, o Iphan abriu o diálogo.
"Nós procuramos o IPHAN , eles foram extremante solícitos e prontamente atenderam nosso pedido para suspensão do fechamento dos canteiros e eles mesmos propuseram um um amplo diálogo sobre a questão da vegetação no Centro Histórico", conta.
Faltou diálogo no início
Para Débora, um dos maiores problemas na condução do caso foi a falta de diálogo que permaneceu existindo até o aceno do Iphan por uma conversa nesta segunda-feira.
"Sentimos falta de uma conversa, de estarem abertos ao diálogo e serem flexíveis pra uma demanda que não prejudica a preservação do local. Eles abriram a possibilidade de conversar sobre a Rua Direita, mas mantiveram o fechamento no Boqueirão. Então, até agora, não foram flexíveis como gostaríamos", explica Débora, que afirma que não há uma data definida para a reunião e que já existe um abaixo assinado rodando no bairro pela manutenção dos canteiros.
*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo.
COMENTÁRIO DO BLOGUEIRO A proibição fundamentalista do Iphan ao interditar o plantio de árvores no bairro de Santo Antônio não se sustenta. O exemplo de dúzias de centros históricos tombados pela Unesco humanizados por jardins e árvores nas ruas e praças deveria ajudar a mudar um conceito ultrapassado. A Natureza nunca foi inimiga do patrimônio.
Um exemplo entre mil: a praça da catedral de Palermo, na Sicília (Itália)
https://novoblogdodimitri.blogspot.com/2021/06/a-ultima-do-iphan-bahia.html
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