LIBERDADE
E DIREITO DE SER
Por
Narcimária Correia do Patrocínio Luz
Existem várias “explicações” a respeito
da origem da capoeira. Gosto de uma em especial, que se refere à semântica
tupi-guarani
“ka puêra”. No processo predatório da colonização, no século XVI, as agressões à Mata Atlântica, por meio dos constantes desmatamentos para a plantação de cana-de-açúcar ou criação de gado, esgotava a vida do solo. Com esse solo esgotado, outras terras eram tomadas até a exaustão. Dessa forma, grandes clarões surgiam envoltos pela mata, e nesses nascia um capim fininho, chamado pelo povo tupi-guarani de “ka puêra”.
“ka puêra”. No processo predatório da colonização, no século XVI, as agressões à Mata Atlântica, por meio dos constantes desmatamentos para a plantação de cana-de-açúcar ou criação de gado, esgotava a vida do solo. Com esse solo esgotado, outras terras eram tomadas até a exaustão. Dessa forma, grandes clarões surgiam envoltos pela mata, e nesses nascia um capim fininho, chamado pelo povo tupi-guarani de “ka puêra”.
Na coexistência com o povo tupi-guarani,
os africanos assumem a capoeira como territorialidade primordial, dando-lhe uma
característica urbana, espaço de liberdade e dignidade face à repressão da
ordem escravista. São essas capoeiras que desestabilizaram cotidianamente o establishment colonial. A população de africanos
provenientes do Reino do Ndongo, a atual Angola, no século XVI e início do XVII, imprime a capoeira e nela mantem
os vínculos de sociabilidade das guerrilhas instituídas pela Rainha Nzinga, a
Rainha Ginga ou Rainha Invísivel como
destaca os relatórios portugueses.
Daí o termo ginga para se referir ao repertório
do corpo em movimento na roda de
capoeira.
Pensar contemporaneamente na capoeira como
uma instituição secular, causa-nos ânimo para tentar entender as tensões e
conflitos do nosso cotidiano. Não
estamos no século XVI, época do ciclo da cana de açúcar ou criação de gado
voltado para a acumulação de capital, levando o solo à exaustão e explorando o
trabalho forçado de africanos. Estamos no século XXI,
referindo-nos ao fato de crianças, jovens e adultos se sentirem agredidos cotidianamente quando não encontram as condições mínimas e necessárias para terem direito a uma educação de qualidade.
referindo-nos ao fato de crianças, jovens e adultos se sentirem agredidos cotidianamente quando não encontram as condições mínimas e necessárias para terem direito a uma educação de qualidade.
O establishment
do nosso país está nas mãos de uma elite alheia a territorialidade e identidade
profunda da nossa população. Tal grupo se mantém no poder, desenvolvendo ações
predatórias em relação às territorialidades brasileiras. Infelizmente a
Educação é um dos principais alvos dessa ação predatória!
Desse modo, temos assistido formas de
insurgências contemporâneas, capoeiragens, herança dos nossos ancestrais, como
as recentes ocupações das escolas em todo o Brasil, por alunos, pais e
comunidades, devido ao total abandono e sucateamento que esses espaços públicos
de educação há muito vêm sofrendo.
As escolas públicas e universidades tendem
a ser solos esgotados, doentes e sem vida! O establishment manipula esses espaços visando atender à lógica de
uma geografia civilizatória que atravessa o currículo vinculado a ideologias de
cunho racista, patriarcal, homofóbico e eivado de intolerância religiosa.
Fundar capoeiras que simbolizam clarões
de liberdade e dignidade nas escolas e universidades é o movimento
contemporâneo nascente. Movimento que surge por meio de imponentes rodas que
envolvem alunos, pais, professores e toda a comunidade. Rodas que coreografadas
pela altivez, responsabilidade e compromisso
de uma nova forma de pensar e fazer educação criam o jogo democrático;
dramatizam a vida; contam nossas histórias e narrativas; afirmam nossas
linguagens e valores que enaltecem nossas comunalidades.
Mestre João Grande, legenda da capoeira
angola, inspira-nos: “Sou como fruta madura que cai lentamente. Procuro terra
fértil para me transformar em semente e virar fruta novamente.”
Essa é a manha, a ginga de um bom
capoeira! A ideia é exatamente essa! Cair no mato! Identificar os clarões para
reterritorializá-los com os valores e as linguagens que devolvem à nossa
população a dignidade e LIBERDADE de SER
e VIVER.
Nenhum comentário:
Postar um comentário