Enquanto
bilhões de pessoas ao redor do mundo tinham os olhos voltados para a abertura
das Olimpíadas, uma seleta plateia se apinhava no espaçoso salão nobre da
reitoria da Ufba para a cerimônia de formatura do curso de História. Entre as
muitas trajetórias de superação dos futuros professores, em sua maioria negros
e mulheres, a história da formanda Mona Lisa Nunes de Souza poderia rivalizar
com as de Robson Conceição, Isaquias Queiroz e Rafaela Silva, os novos heróis
olímpicos, todos eles negros, iluminados pelos holofotes da glória olímpica nos
últimos dias.
Mona
Lisa não ganhou medalha, mas pelo exemplo e sabedoria, vem dando lições.
Abandonada pela mãe quando nasceu, a estudante foi reduzida à extrema pobreza e
à condição de moradora de rua, chegando a idade adulta como uma sobrevivente. Como
mulher negra, teve um destino diferente dos milhares de jovens negros mortos
por armas de fogo no estado da Bahia, exatos 3.252, um aumento de 251,9% em
relação à 2002, segundo o Mapa da Violência. Mona Lisa reagiu para não ser
morta, mas fez mais. Talvez por instinto, quiçá por influência de seus mestres,
a ex-moradora de rua optou por concorrer a uma vaga no curso noturno de
História, e teve sucesso. E a vida que tinha oferecido tão pouco a Mona Lisa
ganhou um outro sentido, de identidade e consciência.
Ao
pegar o “canudo” na cerimônia de formatura, Mona Lisa foi aplaudida de pé, e
enquanto os olhos do mundo se voltavam para os potenciais heróis olímpicos, a
história do povo negro era mais uma vez escrita, desta feita por sua mais nova
heroína. Indagada por um repórter, a futura professora de História foi
taxativa: “A maior arma do opressor é a mente do oprimido. Eles falam tanto que
a gente não pode, que não somos capazes, que a gente acredita. Isso precisa
mudar”. Mona Lisa sabe das coisas, por isso quer a mudança. Os que lhe
atravancam o caminho, passarão, Mona Lisa, menina negra, ex-moradora de rua a
agora professora de História, passarinho!
Carlos Zacarias de Sena Júnior
Doutor em História. Professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Graduou-se na turma de meu sobrinho Lucas. Estive presente na Reitoria.
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