uma vocação a ser resgatada.
João Quadros
Presidente do Instituto Miguel Calmon – IMIC
A nova dinâmica urbana instalada a partir da década
de 60 e mais a implantação do Polo Petroquímico de Camaçari, na década de 70,
levaram Salvador a assumir definitivamente o seu caráter de metrópole,
determinando o surgimento de subcentros comerciais, sobretudo com o crescimento
do setor de serviços.
Nesse período já se delineava uma silenciosa e
crescente tendência de expansão nos vetores norte e nordeste da cidade a partir
da região do Iguatemi e nítida decadência do bairro do Comércio, outrora tido
como polo comercial e financeiro propulsor do desenvolvimento urbano. Desse
processo resultou uma acentuada depreciação do valor urbano de toda a sua área,
com forte degradação e deterioração da paisagem urbana, com a maioria dos seus
imóveis abandonados e degradados.
No final dos anos 90, em consenso com segmentos empresariais e
institucionais instalados na área, a Prefeitura Municipal do Salvador, em
parceria com o Governo do Estado, iniciou um processo de revitalização do
bairro, estabelecendo políticas de incentivo e atração de novos investimentos,
visando sua reocupação. O setor privado respondeu de imediato aos apelos e
vantagens oferecidos, sobretudo as faculdades. Ao longo de cinco
anos de ações e iniciativas em torno do Projeto da Revitalização do Comércio, foram
implantadas no local sete faculdades, 20 empresas de callcenters, cerca de 100 lojas, 50 restaurantes, 1.200 salas
comerciais e a instalação de alguns órgãos públicos, gerando um salto sobre a
média diária de público circulante de 70 para cerca de 140 mil pessoas na área.
A Área do Comércio engloba todos os requisitos exigidos pela ONU
para a formação de um site integrado de convivência e turismo, nos moldes do
que há de melhor implantado nas cidades históricas do mundo todo.
Nela está localizado além
do Porto, o forte
São Marcelo com uma arquitetura única no mundo, um Centro Náutico, a
Capitania dos Portos, dois mercados tradicionais (o do Ouro e o Modelo), o Museu
do Cacau, instalado num dos edifícios de vanguarda arquitetônica na época
juntamente com a sede dos Correios e Telégrafos; uma das mais tradicionais
igrejas da Bahia (a Basílica de Nossa Senhora da Conceição da Praia). Na Praça Visconde de Cairú fica um dos mais
distintos ícones de Salvador: o Elevador Lacerda. A Área do Comércio conta com a vizinhança de
uma extensa avenida do contorno que abriga uma belíssima marina (que tende a
ser ampliada), além de restaurantes e edifícios de habitação inteiramente
integrados à panorâmica deslumbrante da Baía de Todos os Santos, compondo sua
natural sala de visitas.
Sedia também diversas empresas e órgãos públicos, dentre
eles a Junta Comercial, a Alfândega do Porto de Salvador, a
sede do INSS na Bahia, a sede dos bancos do Brasil e do Bradesco na Bahia, a
sede do 2º
Distrito Naval da Marinha do Brasil e o seu hospital, além do histórico edifício
Conde dos Arcos, que abriga a bicentenária Associação Comercial da Bahia que
acaba de celebrar seus 205 anos, impávida na defesa dos interesses do
empresariado baiano e da revitalização da Área do Comércio.
O cenário está montado, mas o teatro
necessita de bons reparos para que possa descortinar a sua histórica vocação
para a convivência e para o turismo. Os governos estaduais e municipais têm
demonstrado sensibilidade para este novo convite. Acredito fortemente de que os
outros setores cumprirão de pronto o roteiro do espetáculo.
Não da pra entender uma área como a do comércio abandonada durante tantos anos.Ainda bem que o cenário começa a ser mudado. Que não sofra solução de continuidade. Também a emblemática Rua Chile deve passar por um processo de revitalização.
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