quinta-feira, 28 de junho de 2018

O CAIS DAS AMARRAS

Foto de Rafael Dantas.


Salvador da Bahia: Iconografia e história – I.
O Cais das Amarras. 

Imagem: Rodolpho Lindemann.

Rafael Dantas – Historiador.
Universidade Federal da Bahia. 
Os imponentes prédios de cinco pavimentos, seguindo um padrão no seu traçado externo diferenciado por detalhes nas molduras das janelas e gradis dos balcões nos andares superiores, marcavam um cenário de encontros no porto da Cidade do Salvador a partir da segunda metade do século XIX.

O preto e branco da fotografia, captura do alemão Rodolpho Lindemann por volta da década de 80 do referido século, pode esconder o colorido da região banhada pelo mar com suas diversas mercadorias vindas do recôncavo baiano e de outros países, representando a multiplicidade das relações comerciais nas dezenas de trapiches, lojas e estreitas ruas, onde toda uma variedade de agentes comercializavam seus produtos. Por outro lado a imagem evidencia o dinamismo entre as pessoas retratadas e a importância da região com seus altos prédios e fachadas ostentando letreiros de firmas locais e representações internacionais, com suas janelas cortinadas e belos trabalhos em madeira e vidro em um verdadeiro trançado da marcenaria da época, ladeados por árvores, oportunidade de sombra sob um intenso sol, no estreito espaço de chão que separa cais e mar. Embarcações pequenas compõem o cenário da Baía de Todos os Santos, chegando, a espera ou saindo, carregadas de produtos e pessoas.

As intensas transformações na área e a expansão do Porto de Salvador no início do século XX legaria a todo esse conjunto de casarios a demolição, realidade também presente em outros espaços da Salvador antiga. Décadas depois, onde na imagem podemos ver o encontro do mar com o paredão do cais, teríamos um grande aterro possibilitando a construção de avenidas mais largas seguindo o traçado de um novo planejamento urbano para a região do Comércio. É de se destacar que o constante trânsito de pessoas em uma região de extrema importância para Salvador representava também um ponto de encontro e de discussão, afinal o que vem pelo mar não só são mercadorias, mas também informações e novidades mundo afora.

Salvador na época em que essa fotografia foi capturada tinha uma média de 129.000 mil habitantes segundo o primeiro censo nacional, maioria de negros e mestiços, realidade também atestada por várias descrições de viajantes do século XIX. Décadas antes eventos importantes tinham marcado a Bahia e o Brasil, como a proibição do tráfico de escravos em 1850 e os abalos na economia açucareira durante a segunda metade do século XIX. Arruinados, vitimados por incêndios ou demolidos, aos poucos perderíamos um importante retrato da Velha Cidade da Bahia e os elementos da sua Cultura Material.

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