Residentes da Sé e do Castelo pedem medidas concretas para que eléctrico 28 não seja apenas um “entretenimento turístico”
Nada têm contra os turistas, garantem, mas pedem acções urgentes para que o eléctrico 28 não seja por eles tomado quase em exclusivo. Tem de haver lugar para todos, residentes e visitantes da cidade, mas em condições, para que a icónica linha continue a ser vista como um transporte público e não apenas como um “entretenimento turístico”. Um grupo de residentes da zonas da Sé, Castelo e Rua da Madalena lançou, por isso, uma petição apelando tanto à Carris, como à câmara e à assembleia municipal de Lisboa, para que tomem medidas “para um eléctrico 28 mais digno e mais fiável, servindo melhor residentes e visitantes”.
Entre elas conta-se o aumento do número das unidades em circulação, a entrada ao serviço de mini-autocarros que, de forma alternada, possam complementar a oferta dos eléctricos ou ainda o fim da possibilidade de se comprar bilhete a bordo, para que se evitem as grandes demoras causadas pelos utentes de circunstância. Tudo em nome de um serviço mais eficaz. “As condições em que o 28 está a funcionar são, bastantes vezes, muito pouco edificantes. Há pessoas que o utilizam, todos os dias, para ir trabalhar ou levar os filhos à escola e se deparam com um stress diário, porque nunca sabem com o que contar”, diz a o Corvo uma das promotoras da recolha de assinaturas, Inês Horta Pinto, para quem são evidentes as carências da oferta de transporte público naquela zona da capital.
A moradora da Rua da Madalena assegura que “é rara a vez em que não há atrasos” naquela linha, porque algum carro está a bloquear a passagem do eléctrico ou, então, nem nele se consegue entrar, devido à sobrelotação com que chega à paragem. É certo que existe o autocarro 737 – que assegura a ligação entre o Castelo e a Praça da Figueira – , mas o mesmo assume-se como uma oferta curta para a demanda dos moradores e trabalhadores daquela área. Fartos da incapacidade da Carris em dar resposta às suas queixas, os residentes redigiram um texto no qual expõem os seus problemas com o 28 e, em Março passado, enviaram-no não só à transportadora mas também à câmara e à assembleia. A Carris não terá respondido, o mesmo sucedendo com o vereador da Mobilidade, Miguel Gaspar. A Assembleia Municipal de Lisboa tê-los-á, então, aconselhado a promover uma petição recolhendo o mínimo de 250 assinaturas, para levar à discussão em plenário.
Ela aí está. “O elétrico 28 percorre um eixo para o qual não existem alternativas de transporte público. Não é apenas uma atração turística: é um meio de transporte fundamental para inúmeras pessoas que residem, trabalham e/ou frequentam o ensino ao longo desse extenso eixo”, diz o texto do abaixo-assinado. Nele se assume o que “é um privilégio poder subir e descer as colinas da cidade neste meio de transporte encantador”, para, logo de seguida, se salientar o contraste com as reais condições de utilização do mesmo, tanto por parte dos moradores como dos visitantes. “No entanto, essa experiência revela-se, na prática, desconfortável, pouco fiável, demorada e insegura, quebrando o encanto e tornando a dependência desta linha num problema diário”, critica-se, antes de serem enumerados os motivos para tal quadro.
Entre eles, dizem os autores da petição, conta-se, antes de mais, “o enorme afluxo de turistas, que procuram esta linha em detrimento das linhas turísticas, por ser mais barata e por ser percepcionada e divulgada como mais ‘autêntica’ do que as outras”. E essa realidade tem reflexos noutros aspectos que, em conjunto, transformam a experiência de utilização daquela linha em algo penoso. São referidos não apenas o facto de a grande maioria dos turistas comprarem bilhetes a bordo – “‘entupindo’ o acesso, dificultando a entrada dos demais passageiros e tornando cada paragem muito demorada, devido aos pagamentos, perguntas e trocos” -, mas também as “as filas intermináveis que se formam nas paragens iniciais, fazendo com que o eléctrico inicie o trajecto já apinhado de passageiros”. Por último, e com o dedo mais apontado aos residentes, são denunciados os carros parados ou estacionados sobre os carris ao longo do percurso.
A acumulação desses factores tem como consequência, queixam-se os moradores , um quadro de problemas que torna a utilização do 28 uma dor de cabeça: total infiabilidade de horários e de tempos de espera; “condições de viagem que chegam a ser degradantes” – com “passageiros apertadíssimos; idosos sem alternativa de deslocação que viajam em condições de desconforto; crianças pequenas que não conseguem lugar sentado; alcançar a porta de saída é tarefa olímpica; sair é um alívio” -; profusão de carteiristas; e ainda “stress notório causado aos motoristas”.
Por tudo isto, são reclamadas medidas para “melhorar radicalmente a qualidade do transporte”. Entre elas conta-se o aumento do número de unidades do 28 em circulação e a abolição da possibilidade de compra de bilhetes a bordo, passando-se a oferecer, em compensação, a venda avulsa em algumas das paragens. É também pedida a adopção de “incentivos que permitam encaminhar os turistas para os eléctricos de circuito turístico”, com a redução do preço dos títulos para estes serviços especializados e até a sua integração em pacotes com outras atracções.
Mas a lista de pedidos vai mais longe. Não só é solicitada a “implementação de um sistema de actuação rápida para as situações de carros estacionados que impeçam a passagem do eléctrico, em parceria com as polícias e a EMEL”, como se propõe a introdução de mini-autocarros que façam a o mesmo circuito que o 28, sobretudo nas horas de maior procura por residentes. “Deste modo, os residentes disporão desta opção, que lhes garante que chegam a tempo ao trabalho/escola, podendo os turistas, ou quem não esteja com pressa, optar por aguardar a chegada do eléctrico”, defende o texto da petição.
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