terça-feira, 31 de julho de 2018

O ELÉTRICO É NOSSO!



Residentes da Sé e do Castelo pedem medidas concretas para que eléctrico 28 não seja apenas um “entretenimento turístico”

ACTUALIDADE
Samuel Alemão
Texto

MOBILIDADE

Santa Maria Maior
31 Julho, 2018

Nada têm contra os turistas, garantem, mas pedem acções urgentes para que o eléctrico 28 não seja por eles tomado quase em exclusivo. Tem de haver lugar para todos, residentes e visitantes da cidade, mas em condições, para que a icónica linha continue a ser vista como um transporte público e não apenas como um “entretenimento turístico”. Um grupo de residentes da zonas da Sé, Castelo e Rua da Madalena lançou, por isso, uma petição apelando tanto à Carris, como à câmara e à assembleia municipal de Lisboa, para que tomem medidas “para um eléctrico 28 mais digno e mais fiável, servindo melhor residentes e visitantes”.

Entre elas conta-se o aumento do número das unidades em circulação, a entrada ao serviço de mini-autocarros que, de forma alternada, possam complementar a oferta dos eléctricos ou ainda o fim da possibilidade de se comprar bilhete a bordo, para que se evitem as grandes demoras causadas pelos utentes de circunstância. Tudo em nome de um serviço mais eficaz. “As condições em que o 28 está a funcionar são, bastantes vezes, muito pouco edificantes. Há pessoas que o utilizam, todos os dias, para ir trabalhar ou levar os filhos à escola e se deparam com um stress diário, porque nunca sabem com o que contar”, diz a o Corvo uma das promotoras da recolha de assinaturas, Inês Horta Pinto, para quem são evidentes as carências da oferta de transporte público naquela zona da capital.
A moradora da Rua da Madalena assegura que “é rara a vez em que não há atrasos” naquela linha, porque algum carro está a bloquear a passagem do eléctrico ou, então, nem nele se consegue entrar, devido à sobrelotação com que chega à paragem. É certo que existe o autocarro 737 – que assegura a ligação entre o Castelo e a Praça da Figueira – , mas o mesmo assume-se como uma oferta curta para a demanda dos moradores e trabalhadores daquela área. Fartos da incapacidade da Carris em dar resposta às suas queixas, os residentes redigiram um texto no qual expõem os seus problemas com o 28 e, em Março passado, enviaram-no não só à transportadora mas também à câmara e à assembleia. A Carris não terá respondido, o mesmo sucedendo com o vereador da Mobilidade, Miguel Gaspar. A Assembleia Municipal de Lisboa tê-los-á, então, aconselhado a promover uma petição recolhendo o mínimo de 250 assinaturas, para levar à discussão em plenário.
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Ela aí está. “O elétrico 28 percorre um eixo para o qual não existem alternativas de transporte público. Não é apenas uma atração turística: é um meio de transporte fundamental para inúmeras pessoas que residem, trabalham e/ou frequentam o ensino ao longo desse extenso eixo”, diz o texto do abaixo-assinado. Nele se assume o que “é um privilégio poder subir e descer as colinas da cidade neste meio de transporte encantador”, para, logo de seguida, se salientar o contraste com as reais condições de utilização do mesmo, tanto por parte dos moradores como dos visitantes. “No entanto, essa experiência revela-se, na prática, desconfortável, pouco fiável, demorada e insegura, quebrando o encanto e tornando a dependência desta linha num problema diário”, critica-se, antes de serem enumerados os motivos para tal quadro.

Entre eles, dizem os autores da petição, conta-se, antes de mais, “o enorme afluxo de turistas, que procuram esta linha em detrimento das linhas turísticas, por ser mais barata e por ser percepcionada e divulgada como mais ‘autêntica’ do que as outras”. E essa realidade tem reflexos noutros aspectos que, em conjunto, transformam a experiência de utilização daquela linha em algo penoso. São referidos não apenas o facto de a grande maioria dos turistas comprarem bilhetes a bordo – “‘entupindo’ o acesso, dificultando a entrada dos demais passageiros e tornando cada paragem muito demorada, devido aos pagamentos, perguntas e trocos” -, mas também as “as filas intermináveis que se formam nas paragens iniciais, fazendo com que o eléctrico inicie o trajecto já apinhado de passageiros”. Por último, e com o dedo mais apontado aos residentes, são denunciados os carros parados ou estacionados sobre os carris ao longo do percurso.

A acumulação desses factores tem como consequência, queixam-se os moradores , um quadro de problemas que torna a utilização do 28 uma dor de cabeça: total infiabilidade de horários e de tempos de espera; “condições de viagem que chegam a ser degradantes” – com “passageiros apertadíssimos; idosos sem alternativa de deslocação que viajam em condições de desconforto; crianças pequenas que não conseguem lugar sentado; alcançar a porta de saída é tarefa olímpica; sair é um alívio” -; profusão de carteiristas; e ainda “stress notório causado aos motoristas”.

Por tudo isto, são reclamadas medidas para “melhorar radicalmente a qualidade do transporte”. Entre elas conta-se o aumento do número de unidades do 28 em circulação e a abolição da possibilidade de compra de bilhetes a bordo, passando-se a oferecer, em compensação, a venda avulsa em algumas das paragens. É também pedida a adopção de “incentivos que permitam encaminhar os turistas para os eléctricos de circuito turístico”, com a redução do preço dos títulos para estes serviços especializados e até a sua integração em pacotes com outras atracções.

Mas a lista de pedidos vai mais longe. Não só é solicitada a “implementação de um sistema de actuação rápida para as situações de carros estacionados que impeçam a passagem do eléctrico, em parceria com as polícias e a EMEL”, como se propõe a introdução de mini-autocarros que façam a o mesmo circuito que o 28, sobretudo nas horas de maior procura por residentes. “Deste modo, os residentes disporão desta opção, que lhes garante que chegam a tempo ao trabalho/escola, podendo os turistas, ou quem não esteja com pressa, optar por aguardar a chegada do eléctrico”, defende o texto da petição.

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