... vestindo uma t-shirt de Nicolás Maduro
A s eleições no Brasil revelaram alguma hipocrisia que grassa não só nas redes sociais, mas também na ação política de certos partidos e grupos mais ou menos organizados. Se encontramos nestas opiniões contra Bolsonaro pessoas que, coerentemente, também se indignam com o que se passa na Venezuela, há por aí muitos outros que, apesar de vociferarem perante as lamentáveis e vergonhosas opiniões de um candidato, se calam, são coniventes e até adulam ditadores como Fidel Castro, populistas como Chávez ou Nicolás Maduro. Enquanto isso, milhares de portugueses passam fome na Venezuela, outros desesperam por cuidados de saúde e alguns são mesmo presos por discordarem do regime. Mas isso parece contar muito pouco.
Curiosamente, alguns que dos que tanto criticam Bolsonaro, Orbán ou Ortega são os mesmos que ganharam dinheiro com Hugo Chávez, que se sentam à mesa de gente como Nicolás Maduro e que elogiam ditadores como Fidel Castro.
Os populistas, de esquerda e de direita, não são muito diferentes, vivem de manipulações, de fake news e de ódio. Tem sido assim ao longo dos últimos anos. Ignorar que alguns destes partidos ou coligações mais recentes assentaram o seu discurso inicial no ódio, no ódio aos políticos, no ódio ao sistema, no ódio aos que pensam diferente, no ódio aos que discordam, no ódio aos que militam noutros partidos, no ódio aos que têm sucesso, no ódio aos que criam emprego, é não querer ver a realidade.
A estratégia que deu a popularidade ao agora eleito Presidente do Brasil é muito semelhante aos truques de alguns que o condenam. Reconhecemos com facilidade os que assentaram a sua ação no discurso demagógico e simplista, onde se conta apenas meia verdade, que criam perfis falsos ou pseudónimos nas redes sociais para atacar em manada quem deles discorda. Foram os mesmos que primeiro criaram sites de notícias falsas ou onde apenas se conta a “sua verdade” e se omite parte da história.
O resultado das eleições brasileiras deve fazer-nos refletir pois as razões são muitas e a culpa não pode ser apenas do vencedor. Os populistas vencem sempre que o statu quo falha. Os extremismos vencem quando os moderados prevaricam e desiludem. Cá, como lá, é tempo de os moderados combaterem os extremistas e populistas em vez de se digladiarem entre si.
Os principais partidos brasileiros do centro, de direita e de esquerda, juntos tiveram menos de 20% dos votos na primeira volta. A crescimento do PT e sua chegada ao poder foi já uma resposta da população ao cansaço dos partidos do costume. Mas, se a esperança com Lula foi enorme, a desilusão foi ainda maior. A liderança de Lula e Dilma aprofundou a teia brasileira de corrupção, os anos de PT no Governo agravaram a situação de insegurança, dividiram o país e criaram o cenário perfeito para a eleição de alguém como Bolsonaro. A atual situação é uma consequência clara do desespero das pessoas com o estado do país, mas também de desilusão para com quem parecia ser o salvador impoluto.
Recuso o discurso simplista e desonesto que considera “fascista” quem vota Bolsonaro e “conivente com corruptos” quem vota em Haddad. Entre as alarvidades e simplificações por cá produzidas a mais frequente dizia que “quem não diz que votaria Haddad é fascista”, isso é normalizar e branquear o verdadeiro fascismo. Outra, ao mesmo nível, é dizer que os “brasileiros que em Portugal votaram em Bolsonaro deveriam ser recambiados para o Brasil”. Isso sim é xenofobia e fascismo. Pior que Bolsonaro, Le Pen ou Salvini.
Aos que acham que a democracia está em perigo no Brasil, lembro que bem há pouco um ex-Primeiro-Ministro português usou os recursos do Estado para tentar condicionar a imprensa, silenciar a justiça e controlar os principais grupos económicos. Isso também foi um atentado contra o Estado de Direito.
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