sábado, 20 de outubro de 2018

TEOCRACIA CHEGANDO...

No novo Brasil do Bolsonaro, o império midiático do bilionário Edir Macedo é usado para investigar e tentar intimidar jornalistas – inclusive The Intercept

Billionaire Edir Macedo, owner and chairman of Rede Record de Televisao Angola Lda, is projected on a screen displayed outside a replica of Solomon's Temple during its inauguration ceremony in Sao Paulo, Brazil, on Thursday, July 31, 2014. Billionaire Edir Macedo's temple spans two city blocks and cost 680 million reais ($300 million) to erect. Macedo's net worth has grown to $1.5 billion since he bought the Record TV network in 1989 with a $45 million interest-free loan from the Universal Church of the Kingdom of God, which he founded, according to the Bloomberg Billionaires Index. Photographer: Paulo Fridman/Bloomberg via Getty Images
O pastor evangélico bilionário Edir Macedo é projetado em uma tela exibida do lado de fora de uma réplica do Templo de Salomão durante sua cerimônia de inauguração em São Paulo, Brasil, em 31 de julho de 2014.
 
Photo: Paulo Fridman/Bloomberg/Getty Images
A PROVÁVEL ASCENSÃO ao poder do extremista de direita Jair Bolsonaro já está gerando um clima no qual jornalistas que criticam a ele, ou ao seu movimento, – incluindo jornalistas que reportam para The Intercept – estão sendo expostos a uma campanha agressiva de investigações pessoais, tentativas de intimidações e escrutínios perniciosas de membros de nossas famílias.
Esses ataques estão sendo orquestrados pelos meios de comunicação de propriedade do pastor evangélico bilionário e afogado em escândalos, Edir Macedo, que agora é um defensor explícito de Bolsonaro. O vasto império de mídia de Macedo – que inclui a segunda maior emissora de TV do país (Record), portais online (R7) e outras agências de notícias – está sendo usado para punir e retaliar jornalistas pelo crime de denunciar criticamente Jair Bolsonaro, seu movimento e as empresas de Macedo.
No sábado passado, o Intercept publicou uma denúncia sobre como jornalistas dentro do R7, um enorme portal on-line de propriedade de Macedo, são “reféns” de sua agenda, impedidos de publicar matérias negativas sobre Bolsonaro e completamente forçados a sacrificar sua integridade jornalística a serviço da agenda política extremista de Macedo. O artigo, escrito por Leandro Demori para o The Intercept, baseado em relatos de jornalistas anônimos desesperados do R7, viralizou, tornando-se rapidamente um dos nossos artigos mais lidos esse ano. Na quinta-feira, após a reportagem, a chefe de redação de longa data do principal programa de notícias da TV Record, Luciana Barcellos, pediu demissão.
Ao longo de 2017 e 2018, o Intercept publicou algumas das reportagens críticas ao movimento Bolsonaro mais agressivas e mais lidas do país. O Intercept vem reportando criticamente sobre Bolsonaro há muito tempo. Em 2014, publicamos um artigo chamando-o de o “político eleito mais misógino e odioso do mundo democrático”. No final do ano passado, Bolsonaro, no Twitter, usou um epíteto para LGBTs para me atacar como um bicha depois que eu o descrevi como um fascista.
Desde a publicação, por nós, da reportagem de sábado sobre o R7, os agentes de estimação do Macedo – aqueles que já foram um dia jornalistas, mas agora foram metamorfoseados à força em guerreiros pró-Bolsonaro – foram mobilizados para investigar não apenas os jornalistas do Intercept, mas também as famílias daqueles que fornecem ao Intercept o seu jornalismo. Em poucas horas, eles foram atrás da vida pessoal dos pais de Demori em uma pequena cidade do interior de Santa Catarina, alegando coisas que não têm qualquer relação com ele e com sua carreira, e que remontam a 1992, quando ele tinha apenas 11 anos de idade. Eles cavaram seu passado para encontrar fotografias dele aos 20 e poucos anos.
Eles enviaram e-mails ao Intercept com uma série de acusações implícitas, insinuações de escândalos fabricados e afirmações equivocadas sobre as finanças do meu marido – no e-mail que nos enviaram, eles usaram informações públicas sobre seu patrimônio e seus gastos eleitorais de modo a levantar dúvidas, ignorando outras informações igualmente públicas que poderiam ter sido acessadas nos mesmo lugares e que desmontavam sua versão maliciosa.
Menos de dois dias após a publicação de nossa denúncia sobre o uso de jornalistas do R7 para fazer propaganda pró-Bolsonaro, o portal publicou um ataque imprudente e cheio de falsidades sobre os jornalistas envolvidos nas reportagens publicadas pelo The Intercept, bem como sobre mim e meu marido. Alegou, falsamente, que:

  • Eu sou o “dono” do site (não sou e nunca tive nenhuma participação societária e nem ninguém da minha família tem; aliás, eu nem sequer sou o editor do site);
  • Somos um veículo estrangeiro que existe para interferir na política brasileira, atacando Bolsonaro e promovendo os interesses do partido do meu marido, o PSOL (os artigos sobre o Brasil publicados no The Intercept são apurados e escritos principalmente por jornalistas brasileiros, que também publicaram numerosos artigos criticando todos os partidos de esquerda – incluindo o de meu marido, que foi alvo de uma crítica mordaz em 2016, de minha autoria);
  • E não incluiu nenhum comentário do The Intercept, que enviou uma longa resposta às perguntas na noite anterior à publicação do artigo (dois de seus comentários foram adicionados horas após a publicação).

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