Tínhamos
passado uma semana a uma hora de Roma, nos montes Sabini onde eu fora convidado
para participar da montagem teatral “Le cittá invisibile” de Italo Calvino pela
companhia Potlach na milenar abadia de Farfa. Bem mais que milenar, aliás, já
que acabavam de descobrir banhos romanos junto a igreja. Durante os descansos vagávamos
pelos vilarejos e palácios de uma região ainda ignorada do turismo predador. De
lá, alugamos por alguns dias uma casinha a dois passos da Piazza Navona e dos
tritões de Bernini. Uma noite fomos ver o Buraco da Fechadura na Piazza dei
Cavalieri di Malta desenhada por Pirasene.
Ousamos pisar o elegante pavimento
do Capitólio imaginado por Michelangelo. Em Nápoles, além de fugir das inúmeras tentativas
de roubos – no ônibus, na pizzaria, no estacionamento, na Galleria Umberto, na
Piazza Garibaldi – o deslumbramento com os azulejos do mosteiro de Santa Chiara,
as redes e véus de mármore da capela de San Severo, os fastidiosos salões do
palácio real dos Bourbon-Sicília, uma Madona com anjos de Boticelli e as
delícias da pastelaria Scartuchio.
Em Capri, uma homenagem silenciosa ao médico
humanista Axel Munthe na atemporal Villa San Michele que tanto emocionou minhas
leituras de adolescente. Voltamos a subir o mapa da bota mais bela do mundo até
a medieval Orvieto, suspensa no ar, e sua catedral gótica de contos de fadas
listrada de branco e preto. De manhã cedo iríamos à missa gregoriana da românica
abadia de Sant´Antimo. Uma feira do mel escondida nas muralhas de Montalcino e
uma lauta refeição no “Il Cantinone” no povoado perdido nas alturas da Abbadia
San Salvatore...
Não aguento
mais tanta beleza, tanta perfeição, tanta suntuosidade cultural. Tremendo, claustrofóbico,
peço ao casal amigo com quem corremos por estradas vicinais e ruelas ao longo
de três semanas para encurtarmos a viagem. Sinto-me asfixiado, à beira do
colapso emocional. Necessito voltar com urgência a paisagens familiares, que
não remetam com tanta insistência a toda minha cultura escolástica, a
referências que pensava há muito esquecidas. Preciso descansar a mente e o
olhar. Sinto tamanha opressão que meu estômago se contorce de dor.
Felizmente,
meus amigos não opõem nenhuma objeção a minha demanda e o confortável Citroën
nos levará em poucas horas até a fronteira alpina onde logo após a fronteira
dormimos num chalé francês.
Anos depois, durante nova estada em Roma, uma
amiga psicóloga italiana me daria a chave deste mal-estar bizarro. “Mas,
Dimitri, isto é algo muito conhecido na Itália. Chama-se Síndrome de Stendhal. Em Florença existe até uma clínica de repouso especializada nesta doença.”
Grato, Dimitri.
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