domingo, 14 de outubro de 2018

APOLOGIA DO EXERMÍNIO


Bernardo Mello Franco

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Em discursos na Câmara, Bolsonaro defendeu a atuação de esquadrões da morte. Ele também elogiou as milícias, que dominam favelas e cobram taxas ilegais

Como seria apolítica de segurança de um governo Bolsonaro? O deputado já deixou pistas em seus discursos na Câmara. Em agosto de 2003, ele usou a tribuna para elogiar um grupo de extermínio que aterrorizava a Bahia. Acrescentou que o esquadrão da morte teria seu apoio se resolvesse migrar para o Rio. “Enquanto o Estado não tiver coragem de adota rape nade morte, o cri mede extermínio, no meu entender, será muito bem-vindo. Se não houver espaço para ele na Bahia, pode ir para o Rio de Janeiro. Se depender de mim, terão todo o meu apoio”, afirmou.

O capitão pregou a adoção de uma “rígida política de controle da natalidade”. Sem isso, seria “baboseira” investir em escolas e hospitais públicos. “Chega de vaselina, de baboseira, de falarem educação, em saúde, porque essa não é a nossa realidade primeira”, disse. Dois meses depois do discurso, o mecânico Gérson Jesus Bispo foi assassinado por denunciar a atuação do esquadrão da morte a uma missão da ONU. Ele acusava policiais militares de torturar e matar seu irmão. Em dezembro de 2008, Bolsonaro elogiou a atuação das milícias no Rio.

Ele criticou o relatório da CP Ida Assembleia Legislativa que apurou a atuação dos grupos paramilitares. A comissão pediu o indiciamento de policiais, bombeiros e políticos que dominavam favelas. A investigação mostrou que eles lucravam coma cobrança de taxas, a oferta de serviços clandestinos e a venda de apoio político. “Querem atacar o miliciano, que passou as ero símbolo da maldade e pior do que os traficantes. Existe miliciano que não tem nada a ver com gatonet, com venda de gás.

Como ele ganha R$ 850 por mês, que é quanto ganha um soldado da PM ou do bombeiro, e tema sua própria arma, ele organiza a segurança na sua comunidade. Nada a ver com milícia ou exploração de gato net, venda de gás ou transporte alternativo ”, disse o deputado.

A defesa das milícias não ficou no passado de Bolsonaro. Em fevereiro deste ano, já como candidato ao Planalto, ele elogiou os grupos paramilitares em entrevista à rádio Jovem Pan. “Tem gente que é favorável à milícia, que é a maneira que eles têm de se ver livres da violência. Naquela região onde a milícia é paga, não tem violência”, afirmou.

O discurso do candidato é desmentido pelos fatos. Investigações da Polícia Civil e do Ministério Público mostram que os grupos paramilitares adotaram práticas do tráfico de drogas. Quem tenta resistir à extorsão é vítima de ameaças, torturas e execuções. Cerca de dois milhões de moradores da Região Metropolitana do Rio já vivem sob o domínio das milícias.

Quando Mussolini chegou ao poder, os trens italianos passaram a sair no horário. Em Portugal, o poeta Fernando Pessoa comentou a novidade: “A obra principal do fascismo é o aperfeiçoamento e organização do sistema ferroviário. Os comboios agora andam bem e chegam sempre à tabela. Por exemplo, você vive em Milão; seu pai vive em Roma. Os fascistas matam seu pai, mas você tem a certeza que, metendo-se no comboio, chega a tempo para o enterro”. 

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