Fui uma menina pobre que morava num subúrbio do Rio de Janeiro. Na segunda metade dos anos cinquenta, conheci Paris nas aulas de francês, no ginásio público que frequentava. Os recursos audiovisuais utilizados pela Mme Umbelina, nossa professora, eram pedaços de cartolina com imagens da Torre Eiffel, do Louvre, do Arco do Triunfo, dos Champs Elysées...
Até hoje me lembro do meu encantamento na aula em que fui apresentada às Gallerie Lafayette onde simulamos compras falando francês.La Marseillese, chansons françaises, pequenas peças de teatro nos levavam a aprender o idioma que me encantava. Ir a Paris era algo inatingível para aquela aluna que dividia com a irmã o sapato do uniforme escolar. Não alimentei esperanças. Fiz Escola Normal, formei-me professora e ajudei na formação dos meus seis irmãos. Depois de casada, formei-me em Língua e Literatura Grega o que na época exigiu-me ler em francês os livros da Universidade.
Mas, meu francês era o do ginásio. Filhos formados, eis a oportunidade da viagem adormecida em algum canto da minha alma: Paris.
Lembro-me do hotelzinho perto do Louvre e de minha conversa com o meu marido: - Eu sei ir daqui à Torre Eiffel passando pelos Jardins das Tuileries, Place de La Concorde, Champs Elysées, Arco do Triunfo. Havíamos tomado uma taça de vinho pra comemorarmos a nossa chegada e ele creditou minha pretensão ao meu estado ébrio. Sim, porque basta uma taça para embriagar-me. Dormimos. De manhã, no café, o francês da escola aflorou e não só me fiz entender como entendia o que falavam.
Saímos rumo ao percurso que eu tinha na cabeça. E assim foi. Eu ouvia a minha professora falando, descrevendo, me guiando. O Louvre estava fechado por causa da construção da pirâmide. Sem problemas: voltaremos a Paris. Atravessamos os jardins floridos das Tulleiries, sentamo-nos em suas cadeiras; na Place de la Concorde, fotografamos fontes e Obelisco. Dava pra ver a Torre à nossa esquerda. Mas, meu objetivo era outro roteiro. Passeamos de mãos dadas pelos Champs Elysées, onde muitas roseiras perfumavam o ar. Lembro-me do encanto de cada vitrine e da arquitetura desta avenida. Ficamos um bom tempo num café onde descansamos as pernas, além de nos deliciamos com crepes.
No Arco do Triunfo, a beleza e a emoção, depois de descobrirmos como acessá-lo. Seguimos à esquerda numa Avenida repleta de lojas de automóveis maravilhosos: Lamborghinis ( deste eu me lembro). Chegamos, enfim ao Trocadero. A visão da Torre Eiffel iluminada em comemoração aos seus 100 anos me extasiou. Não sabíamos desta iluminação.
Chorei.
Não um choro onde as lágrimas escorrem pelo canto dos olhos. Mas, um choro abraçada ao meu marido. Ali estava a menina que sequer tinha o direito de sonhar diante da Torre Mágica símbolo da Cidade que sempre amou. Volto sempre que posso a Paris. Ela representa tudo o que conquistei através do estudo, do esforço de nossos pais e do meu trabalho.
Venus Poça
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