segunda-feira, 1 de março de 2021

ROUBO DE AZULEJOS

 

Milhares de azulejos século 18 roubados do Paço Real de Caxias


Sempre que se fala na necessidade de preservar património histórico edificado, pensa-se em hotéis. Por vontade de alguns, Portugal teria um hotel instalado em cada palácio e castelo construído. É uma ideia, mas não funciona. É uma ideia de gestores públicos preguiçosos. É uma ideia de dirigentes políticos incompetentes. E é uma ideia que tem levado à ruina boa parte desse património que devia estar preservado e acessível ao público.

O caso do Paço Real de Caxias é paradigmático. Palácio do século 18, pertence ao Ministério da Defesa. Deixaram as madeiras apodrecer e o estuque cair. Roubaram milhares de azulejos de grande valor artístico. Alguém investigou os sucessivos assaltos? A tropa participou os crimes à polícia?

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Era um palácio repleto de azulejos semelhantes aos do Palácio de Queluz. Um pequeno palácio com tetos e paredes pintadas de grinaldas de flores e outros ornamentos. Foi construído em meados do século 18 e, rezam as crónicas, resistiu ao terramoto de 1755. Quem sabia o que lá estava antes dos assaltos eram os responsáveis dos monumentos nacionais que em 1953 o classificaram como imóvel de interesse público. Deve haver num arquivo qualquer uma memória descritiva deste Monumento Nacional.


Quando os reis iam a banhos à praia de Caxias, era ali que pernoitavam. Quando o edifício passou para a tutela das Forças Armadas o Instituto de Altos estudos Militares instalou-se ali. Ainda há pouco tempo havia documentos antigos amontoados e a apodrecer nas salas do rés-do-chão do palácio, apesar do instituto já ter saído dali em 1956.

Também há sinais de tentativas de fogo-posto, muitos desses documentos antigos estão queimados. “Num vão de escada vê-se um monte de papéis velhos que sobraram de um fogo ateado que só não reduziu tudo a cinzas porque não calhou. Mais do que papéis velhos há documentos e livros chamuscados. Alguns com datas do princípio do século passado e até mais de trás,” relata o blog O Voo do Corvo num texto publicado em 2015.


Depois apareceram os idiotas do costume. Vai ser um hotel! Os soldados esfregaram as mãos de contentamento e já se imaginavam garbosos porteiros do futuro Hotel Turim. Os políticos livravam-se de uma carga de trabalhos, também acharam que era boa ideia. O presidente da Câmara Municipal de Oeiras teria preferido ser ele a fazer o negócio, durante anos a Câmara Municipal de Oeiras cuidou dos jardins onde estão várias esculturas de Machado de Castro. Mas os militares acabaram por denunciar o protocolo e o investimento camarário gorou-se. Faça-se o hotel, pensou Isaltino.


Era um “negócio da China” para o grupo hoteleiro. Por apenas 18 mil euros de renda mensal ficaram com um palácio do século 18 para recuperar e adaptar, área bruta total de construção é cerca de 5.816,93 metros quadrados, o que permitiria a instalação de um hotel com 120 quartos. 


Mais os jardins e a famosa cascata, igualmente integrados no património dos monumentos nacionais. Um luxo. Isto foi em janeiro, antes da pandemia. Passou um ano e nada foi feito, o que é compreensível. Resta saber se a empresa hoteleira se mantém firme nos planos de investir 11 ou 12 milhões de euros na recuperação do edifício. Ou se é para esquecer.

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