Maria Bethânia cantando Carcará com 18 anos.
Um momento antológico do musical Opinião, captado pelas lentes do grande cineasta carioca Paulo César Sarraceni, em 1965. Produzido pelo Grupo Opinião e estreado em 11 de dezembro de 1964, somente oito meses após o golpe civil-militar que depôs João Goulart, o espetáculo acabou se tornando, por diversos motivos, um poderoso elemento aglutinador das esquerdas reformistas contra o desânimo geral que se abateu sobre elas após a imposição daquele regime de exceção. Segundo Roberto Schwarz, em um ensaio chamado Notas Sobre Cultura e Política 1964-1969, ele teria sido um dos responsáveis por criar uma cultura hegemônica de esquerda no Brasil mesmo sob a égide de um governo rigorosamente de direita. Essa hegemonia, conforme o título do trabalho revela, duraria até 1969, quando o AI-5, apertando o garrote de vez, finalmente conseguiu estrangulá-la.
Carcará pega, mata e come”. Celebrada na voz de Maria Bethânia no lendário show Opinião, em 1964, a música “Carcará” é de autoria de um homem pobre e pouco letrado: João Batista do Vale.
Ao pé da letra, carcará, uma ave de rapina típica do Nordeste, se aproveita da fragilidade dos outros para se alimentar. Na música, “carcará” serve como metáfora para os militares.
A canção fazia parte do show Opinião (Rio de Janeiro, 1964) que trazia canções escritas por Zé Keti, Edu Lobo, Carlos Lyra, João do Valle, Heitor dos Prazeres, Ary Toledo, Sérgio Ricardo, Vinícius de Moraes entre outros. Sua letra exalta a coragem e a determinação para vencer a fome e a rudeza do sertão. A música incluía a declamação de um texto, extraído de um relatório da Sudene, sobre a migração dos nordestinos expulsos de suas terras pela seca e fome. Carcará deu sucesso imediato à jovem desconhecida Maria Bethânia, então com 18 anos de idade, cuja expressiva interpretação marcou para sempre essa canção.
Texto adaptado Isso Compensa.
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