Não basta
mostrar serviço. É preciso fazer bem feito e sem demora. Para tanto, nada como
um bom planejamento e, no caso de obras públicas, manter o público informado.
Afinal é ele quem paga, não é mesmo?
Pois é...
Mas para a Conder, planejar, informar a comunidade, fazer bem feito e dentro do
prazo, não parece ter a mínima importância. Tudo nas coxas. Moradores e
frequentadores do histórico bairro do Santo Antônio que o digam. Começada em
fevereiro de 2020, a obra pretendia retirar o asfalto, os postes e a
macarronada de fiações. Depois de quinze intermináveis meses de poluição
ambiental e sonora, a estatal proclamou a obra terminada em 13 de maio de 2021.
Mentira. Até a data desta publicação, os postes e a macarronada continuam firmes e fortes, mantendo a tradicional poluição visual e cultural. Não conto mais o número de turistas que, com sorriso irônico, fotografam o absurdo. Mas, contestarão alguns, o resultado não agradou? Em tempo de mediocridade, devemos nos conformar com uma pavimentação de paralelepípedos de tamanho reduzido pela metade, estranhos passeios meio concreto meio algo que deveria ser pedra portuguesa, esperando que algum dia alguma empresa venha retirar os postes e terminar o serviço. Sem falar do paisagismo. O centro histórico precisa muito de verde. Existe arquiteto paisagista na Conder? Duvido. Se tiver, por favor, mande-o reciclar-se. O ziguezague da Ladeira do Boqueirão é a mais exata imagem da falta de conceito. Na Rua Direita foram deixados uns espaços para árvores, mas eis que, nesta altura do campeonato, pasmem, o Iphan – que continua ignorando puxadinhos e outras agressões – resolveu proibir as árvores. Com toda razão. Até acho que deveria suprimir o verde de Olinda e as mangueiras de Belém. Suponho que em Nova-Iorque cortaria todas as árvores do Central Park para deixar um imenso gramado.
A razão de
tão esdrúxulo diktat? Poder contemplar que nem o Taj Mahal nosso casario
eclético. Suspeito a nobre instituição estar contaminada por talibãs
travestidos de funcionários públicos. Uma pergunta: a Conder não tinha
apresentado o projeto ao Iphan antes de embarcar na empreitada?
Estamos
vivendo momentos bicudos em matéria de cultura e memória. Como se não bastasse
a política de terra arrasada de Brasília, temos um governo estadual que ignora
soberbamente a importância do patrimônio baiano. Desde o cineteatro Jandaia até
o Instituto do Cacau, passando pelo MAM cercado de arame farpado e um esgoto na
Lagoa do Abaeté, sem falar do sumiço do Centro de Convenções e – imposição dos
chineses - o monstrengo do monotrilho Simões Filho/Salvador, tudo parece,
Excelência, concorrer para agredir a imagem e a qualidade de vida dos baianos.
E prejudicar o turismo.
Dimitri Ganzelevitch
A Tarde, sábado 16 de setembro de 2021
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