sábado, 1 de janeiro de 2022

ACIMA DA ÁGUA, SÓ ELE.

 Ilhéus, sul de Minas

(por André Gustavo Stumpf)

Metade do Brasil está debaixo da água. Acima, só Bolsonaro montado em seu poderoso jet ski 

Ricardo Noblat



Há várias razões e explicações diversas para o fenômeno. Mas a verdade é que jornais, impressos ou televisivos estão menos informativos. O jornalismo investigativo está em recesso ou fora de moda. Cinzas nas nossas cabeças, como diria o jornalista Mino Carta.

No período de plantão de final de ano, as redações ficam vazias e os problemas se multiplicam. Há dois exemplos recentes emblemáticos: a estranha paralisia da Itapemirim Transportes Aéreos e o anúncio de que um módulo norte-americano penetrou na atmosfera do Sol.

A Itapemirim é empresa tradicional no serviço de transportes rodoviários. Chegou a ser uma das maiores do mundo, rivalizando com norte-americanas como a Greyhound. Foi a maior compradora de pneus do Brasil, fabricante de carrocerias de ônibus, maior concessionário da marca de motores, um gigante em todas as dimensões. Fundada, cevada e desenvolvida pelo empresário Camilo Cola.

Ele morreu e a empresa desandou. Foi assumida por outra pessoa, que, segundo os herdeiros, conseguiu misturar os bens da empresa com os do falecido empresário.

A Ita, aviação, surgiu no momento que a Itapemirim rodoviária está em recuperação judicial. Luta contra o voraz apetite dos credores. Apesar da situação particularmente difícil o novo homem forte, alardeando recursos de fundos árabes (que não chegaram), consegue ultrapassar todos os níveis de credenciamento e autorização da Agência Nacional de Aviação Civil para começar a voar com seus Airbus 737 amarelos.

Não pagou salários, vantagens, obrigações sociais, seguros, nem o uniforme de seus funcionários e terceirizados. Em determinado momento, antes do Natal, veio a ordem sibilina: ‘tira o crachá, o uniforme e vaza. Saí daí’. Os funcionários deram no pé e deixaram mais de 45 mil passageiros nos aeroportos sem rumo, sem apoio, sem destino.

Algum tempo atrás, o presidente Bolsonaro anunciou na sua tradicional fala das quintas-feiras, com uma miniatura de ônibus da Itapemirim sobre a mesa, que nova empresa de aviação iria surgir nos céus do Brasil. A seu lado, o sorridente ministro Tarcísio Freitas confirmou a novidade. A Ita voou pouco, nada mais de que seis meses.

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