quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

UM PARAÍSO ALAGOANO

 


O café da manhã na Pousada O Canto


Contando 174 quebra-molas – com margem de erro de 3% a mais ou a menos - a partir da Praia do Forte, você chegará lá, desde que aceite uns bons 32 graus à sombra no caminho.

Após uma cidade nova sem grande sedução, seu carro deslizará alegremente no mais verde do verão sertanejo até mergulhar numa pequena cidade atemporal onde a douceur de vivre elegeu se instalar em caráter definitivo.

Desativada, a estação ferroviária virou museu. Lá encontrará o cangaço, Lampião e seu famigerado bando que a lenda transformou em mito. Fotos, mapas, cartas, armas, objetos do quotidiano e histórico da ferrovia confirmam a impressão de viagem ao passado que é a caraterística mor de Piranhas onde não há piranhas. Atravessando a rua sugiro subir até o primeiro andar pela escada em caracol da Torre do Relógio (1879). Ponto estratégico para observar o rio São Francisco bebendo um bem-vindo café express.

Às onze da manhã, eram onze da manhã em ponto, ou quase, de repente e após os rituais onze toques, e embora estivéssemos na beira do Parapitinga, a musiqueta do Big Ben nos transportou até a Londres embrumada do Tâmisa.

Turista consciente de suas obrigações segue os bons conselhos. Neste caso, os do comunicativo Celso, dono da Pousada do (en-)Canto onde nos hospedamos. Após admirar os nobres camaleões da mangueira – que mangas gostosas! - fomos almoçar ao finzinho da rua, no boteco de Seu Francisco, cuja esposa-cozinheira-estrela é Dona Maizeta. Sentamos na varanda, o Velho Chico como cenário, e encomendamos uma tilápia frita.

Tenho este peixe, quando comprado no supermercado, como tristemente sonso. Erro meu! Chegou um peixe aberto maior que a travessa. Frito de um lado, a deliciosa carne no ponto certo, foi a refeição especial de nossa estada. De noite, uma decepcionante “Cozinha de Autor” foi compensada pela loja de arte popular recém-aberta do outro lado da rua, oferecendo a preços razoáveis, algo do melhor da cultura nordestina.

O resto da curta visita foi ocupada em subir e descer ladeiras, o olhar sempre atraído por uma fachada, um detalhe, um sorriso.

Quantos vilarejos, quantas cidades como a antiga Tapera, depois e por curto tempo também citada como Marechal Floriano, escondem seus tesouros, entre rios e matos deste Brasil imenso?

 Piranhas mereceria ser declarada patrimônio mundial pela Unesco. Mas enquanto tivermos um órgão protetor (sic) como o IPHAN que leva um mês e meio para autorizar a substituição de uns 30 vidros quebrados na fachada do Museu do Sertão, apesar do escritório estar a 20 metros, de nada servirão estes prestigiosos títulos.


Resta à administração municipal elaborar uma campanha para convencer todos os moradores da importância de seu acervo arquitetural, histórico e humano.

2 comentários:

  1. Piranhas esteve ameaçada de submergir em mais uma represa da CHESF e foi salva pelo gongo do IPHAN. Bela crônica de Dimitri.

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