Bairros de Salvador ficam 37 dias sem água
Outros bairros da capital baiana passam pela mesma situação e até pior. Santo Antônio, Caixa D’Água, Mussurunga, Mirantes de Periperi, Rio Sena, São Rafael e outras 24 localidades estão sem água ou com abastecimento irregular, de acordo com um levantamento do CORREIO pelo Instagram. No Alto do Cabrito, são mais de 20 dias sem, segundo um líder comunitário.
Em Águas Claras, foram 37 dias sem o recurso, entre 4 de janeiro e 8 de fevereiro. Ela chegou a voltar, mas durou pouco - está em falta há dois dias. A perspectiva é regularizar na próxima quarta-feira (16), de acordo com a moradora e técnica de enfermagem Jaqueline Oliveira, 24. “Moro de aluguel nessa localização há dois anos e quatro meses e sempre interrompe o abastecimento na sexta e retorna na segunda”, relata Jaqueline.
Ela já tem mais de 20 protocolos abertos na Embasa. “A resposta sempre é: iremos enviar a equipe para analisar a falta de água. Quando os técnicos aparecem, informam que passarão o caso para a Central. Outras vezes informam que é baixa pressão, rompimento de adutora, que teve que fechar o abastecimento para manutenção. Hoje, é porque sem energia. Um caos, absurdo”, desabafa.
No lar da dona de casa Vera Lúcia Freitas, 65, moradora da rua 2 de Fevereiro, na Cidade Nova, sempre, no verão, a falta de água é mais frequente. “Tem seis dias que a água não sobe. Essa noite, ela fez o favor de subir só metade. Só que as casas que têm laje estão com o tanque seco. O pessoal está tendo que carregar água na cabeça, indo lavar roupa na casa dos outros”, conta Vera.
Dona Vera precisa usar caneco par lavar pratos, porque não tem água nas torneiras (Foto: Marina Silva/CORREIO) |
Os moradores se deslocam ou até uma bica perto da Paróquia São Judas Tadeu, ou para a da Rua dos Pirineus. “O povo bota carro, pega moto para encher os garrafões. Temos também comprado água mineral para beber, mas a chuva mesmo que quebrou o galho. Várias senhoras e crianças tomaram banho na chuva, porque não tinha água”, relata.
Na casa de Miriam Nascimento, 72, vizinha de Vera, o tanque está seco há oito dias. “Só tenho um pouquinho de água que meu irmão trouxe da rua. Como tenho problema nos ossos, não posso pegar peso, então ele trouxe. Também comprei o garrafão por R$ 10. Minha vizinha teve que comprar quatro, o que é puxado para quem não é assalariado”, conta Miriam.
Um dos líderes comunitários da Cidade Nova, Milton Kiudo, 36, criticou a falta de atenção da Embasa com os moradores. “A empresa não manda um comunicado para a comunidade, pega todo mundo de surpresa”, pontua Kiudo. A autônoma Catiana Resende, 40, também reclama da falta de solução. “Estou há oito dias comprando água mineral para fazer tudo. Já liguei várias vezes na Embasa, mas só gera protocolo e até agora nada”, denuncia.
Em Mirantes de Periperi e Rio Sena, na região do Subúrbio Ferroviário, são três dias sem, segundo o líder comunitário, Sandro do Lote, 46. “A situação é triste e o pessoal está sofrendo. Fui na casa de minha afilhada ontem, ela fez aniversário há três dias e até hoje estamos querendo lavar as coisas, mas a água não cai. Quando vem, é, no máximo, uma hora pingando, que salva para beber água. Mas, para tomar banho, a gente está pegando na barragem, no Parque São Bartolomeu”, relata.
A escassez fez a supervisora de operações Hemili Lima, 28, se mudar de Mussurunga. “Não aguentava mais, nunca tinha água. Era muito desgastante”, conta Hemili. A água só estava disponível entre às 5h e 9h da manhã, quando ela estava no trabalho. “Comprávamos água para beber todos os dias. Quando chegava, a gente enchia os baldes, quando dava tempo. Mas existem setores de Mussurunga que nem sequer a água chega por poucas horas, simplesmente não tem”, revela.
Moradores da Cidade Nova tomam banho em bicas do bairro por não ter água em casa (Foto: Marina Silva/CORREIO) |
Falta de água impede moradores de trabalhar
Desde a última quarta (9), a falta de água impede a confeiteira Jacqueline Roxane, 58, de trabalhar. Ela, que faz doces e mora do Santo Antônio, tem recusado encomenda de clientes. “Ano passado, a Embasa fez uma obra grande e a partir daí começamos a ter problemas. A água vem suja e com uma vazão muito pequena. Como que vou trabalhar com doce sem água? Sem garantir o mínimo de sanidade ao meu produto, lavar meus utensílios, lavar as mãos?”, questiona.
Ela já abriu cinco protocolos com a empresa. “Eles dizem que no sistema está tudo normalizado”, critica. Durante o dia, a água chega a conta-gotas. “No sábado, só fui tomar banho 2h da manhã, quando a água caiu. Na hora que a conta chega, vem como se tivesse recebido água os 30 dias”, questiona Jacqueline. Moradores abriram um abaixo assinado para levar à empresa e à prefeitura.
Na Liberdade, foram sete dias sem o serviço, que foi normalizado nesta segunda (14), de acordo com o líder comunitário Paulo Sérgio Alves. Na Caixa D’Água, foram três dias sem, entre quinta e sábado, de acordo com uma moradora.
Em nota, a Embasa informou que episódios de interrupção no fornecimento de energia elétrica ocorridos no final de semana comprometeram a regularidade do abastecimento de água em áreas elevadas de alguns bairros de Salvador. No sábado (12), houve uma explosão em uma subestação da Coelba no bairro da Federação; já no domingo (13), falhas no fornecimento de energia elétrica prejudicaram o funcionamento de uma subestação de energia da Embasa no Parque da Bolandeira, cita a nota.
“Técnicos da empresa estão adotando medidas operacionais para recuperar o nível de alguns reservatórios da rede distribuidora de Salvador visando regularizar o fornecimento de água nas áreas afetadas o mais breve possível”, afirma a empresa.
Ainda segundo a Embasa, até que a situação seja regularizada, os moradores podem solicitar carro-pipa, informando o número de matrícula, através dos canais de atendimento da empresa: Agência Virtual (agenciavirtual.embasa.ba.gov.br), no app Embasa ou pelo teleatendimento 0800 0555 195.
A Agência Reguladora de Saneamento Básico do Estado da Bahia (Agersa) foi procurada, mas não respondeu aos questionamentos da reportagem.
COMENTÁRIO DO BLOGUEIRO Boa parte do bairro de Santo Antônio também ficou sem água durante seis dias. Nunca a EMBASA se preocupou em avisar e muito menos justificar a razão. Quanto desprezo pelo consumidor!
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