terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

UMA CHEFE MINEIRA EM PARIS

Ela se mudou para Paris aos 20 anos sem nem imaginar que poderia se tornar uma chef de cozinha, ainda mais reconhecida por estrelas da gastronomia francesa. Alessandra Montagne é uma defensora da cozinha sem desperdício. Ela recebeu a RFI em seu novo restaurante na capital francesa, onde espera que os clientes se sintam em casa. Para isso, oferece logo de aperitivo pão de queijo a todas as mesas.

“A ideia do Nosso é que as pessoas cheguem aqui e se sintam acolhidas, passem um bom momento e saiam felizes”, diz Alessandra, uma carioca que cresceu em Minas Gerais. “Na casa dos meus avós, nós plantávamos horta, tínhamos galinhas e eu cresci comendo produtos frescos”, lembra. “E aqui na França, eu me surpreendi ao ver que as pessoas comem muito mal, muita comida processada e eu resolvi fazer uma comida que se parece comigo, bem natural”, diz.

Alessandra se mudou para a França aos 20 anos, sem se considerar cozinheira. E só tardiamente foi estudar gastronomia. “Eu nunca imaginei que seria chefe de cozinha, mesmo que eu adore cozinhar e tenha essa cultura que a gente aprende no interior. Quando eu convidava as minhas amigas, elas ficavam impressionadas e eu comecei a cozinhar cada vez mais”, lembra.

Abençoada por estrelas da gastronomia

Incentivada por amigos, Alessandra Montagne se inscreveu numa escola de cozinha e de confeitaria, antes de abrir o seu primeiro restaurante. Desde então, a chefe vem conquistando o seu espaço, num país famoso pela boa mesa. A brasileira já participou do Omnivore, um festival anual parisiense, criado em 2005, e que reúne os principais atores da gastronomia francesa.

“Desde o início da minha carreira, chefs como Alain Ducasse me convidaram para cozinhar ou para dar conferências. No começo, eu ficava com medo, achava que estava no lugar errado, tinha a síndrome do impostor”, conta ela sobre a convivência com o chef estrelado. “Esse reconhecimento me deu confiança e vontade de fazer melhor, para nunca decepcionar essas pessoas que me consideraram uma chef quando nem eu mesma sabia o que era isso”, completa.

Antidesperdício

A chef brasileira também é conhecida por sua cultura antidesperdício. Engajada, ela se preocupa desde a compra dos produtos e defende um comércio justo e responsável, “que coloca o ser humano na frente”.

“Eu dou muito valor à natureza, eu penso muito no destino do planeta e cada ano que passa faz mais calor”. Além disso, “hoje em dia, na França, a gente joga uma quantidade surreal de comida fora e financeiramente não podemos mais continuar vivendo assim, enquanto muitos morrem de fome. Por respeito a essas pessoas não podemos jogar comida fora”, observa.

“No meu restaurante não tem lixo. Tudo se reaproveita, até o pedacinho do peixe que ficou agarrado na espinha pode virar um tartar”, ensina. “Graças a isso, não somente o meu restaurante funciona melhor economicamente, mas eu tenho uma pegada de carbono reduzida, pois tenho composteira e trabalho com fazendeiros que amam o que fazem”, comenta.

Planos mudados pela pandemia

Alessandra conta que a Covid-19 interferiu nos planos de abertura do restaurante. Como se tratava de um lugar novo, ela não recebeu ajuda do governo, como outros donos de restaurantes, durante a crise.

“Eu comprei o restaurante em fevereiro de 2020, após vender o meu primeiro estabelecimento. E deveria ter aberto em junho de 2020. Mas só abri em junho de 2021. Eu fiquei mais de um ano e meio com o restaurante fechado e isso foi terrível”. Porém, “essa época me permitiu ter mais resilência e lidar com situações de crise e a aprender mais sobre as plantas, para usar tudo na sua integralidade”, conclui.




COMENTÁRIO DO BLOGUEIROAbri a página das críticas gastronômicas francesas. A maioria esmagadora dos comentários é super elogiosa.

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