Acaba de ser
descoberto um gigantesco sarcófago de granito enterrado há cerca de dois mil
anos perto de Alexandria. Estava em perfeito estado.
Mas o que
vale para o granito egípcio não vale para o granito dos meios-fios da Rua Direita
de Santo Antônio e da Ladeira do Aquidabã. Durante a avacalhação geral que foi
– e ainda é – a famigerada obra de reabilitação (sic) de parte do bairro, um
arquiteto responsável (sic) afirmou que a substituição dos meios-fios velhos de
três ou quatro décadas foi por razão de segurança (sic). Fotografei alguns e
não me foi possível constatar o perigo que ofereciam. Suponho, portanto, que as
aparentemente inofensivas pedras dissimulavam seu jogo com a maior hipocrisia.
Mas onde estão, hoje, as pedras originais?
Outra
bizarrice foi a substituição dos paralelepípedos originais, em perfeito estado
de conservação por outros, de tamanho muito mais modesto, portanto mais leves e
mais fáceis de se soltarem. O motivo apresentado pelo mesmo responsável (re-sic)
foi a dificuldade de se retirar o asfalto grudado em parte das pedras. Posso
opor novo questionamento? Sessenta anos atrás, o templo inteiro de Abu Simbel
foi deslocado para recolocação numa colina feita de propósito, 64 metros acima
do nível original. E a CONDER não é capaz de remover uma camada de 20 ou 30
centímetros de espessura de betume? Mas onde estão, hoje, as pedras originais? Alguém
está nos fazendo de retardados.
O clímax de
tanto amadorismo - ou mera falta de caráter - foi atacar a picareta os degraus
tricentenários da escada da igreja de Nossa Senhora do Boqueirão para
substitui-los por finas lâminas de arenito. Tudo feito sem o menor embasamento
técnico, nem a vigilância de arqueólogos/historiadores especializados. A agressão
foi devidamente acompanhada por um restaurador (sic) que, quando a comunidade
começou a protestar, imediatamente telefonou ao Bruno Tavares, superintendente
do IPHAN. Existem testemunhas. Alguém me expliqua?
Não fosse a
reação sadia e imediata da comunidade, hoje teríamos uma escadaria de dar
inveja a um shopping center.
Restar-nos-ia falar, mas o espaço é curto, das cores berrantes (Tintas Renove para pisos e quadras) ridicularizando o casario do bairro. Colocar chapas de acrílico em fachadas que precisam respirar para eliminar o excesso de umidade é puro vandalismo.
O que estou
denunciando é o topo do topo da pirâmide de omissões, indiferenças e ignorância
dos gestores - sejam eles municipais, estaduais ou federais - para não falar em
motivações mais graves. O riquíssimo patrimônio cultural da Bahia está sendo
depredado quando não simplesmente destruído.
Alô!
Governador! Saiba que o turismo nunca se alimentará só de praias, aliás cada
dia mais poluídas.
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