Em Mumbai, na Índia, há pelo menos 30 mil pessoas fazendo um trabalho que, sem sombra de dúvidas, provavelmente ninguém nesse mundo faria por vontade própria. E não é nem mesmo uma questão de vontade: dentro da cultura indiana, existem os Dalits, que são pessoas consideradas “intocáveis” por questões sociais e religiosas. Em muitas áreas do país, ser um Dalit é sinônimo de ser escravo.


Excluídos da sociedade, os Dalits não têm muitas escolhas e, por isso, acabam aceitando passar por situações humilhantes e desumanas por uma questão de sobrevivência. Hoje falaremos dos trabalhadores que passam os dias limpando sistemas de esgoto.


As imagens  que você vai ver a seguir foram feitas pelo fotógrafo Sudharak Olwe, que acompanhou a rotina desses trabalhadores bem de perto durante um ano inteiro. De acordo com ele, sem exceção, todas essas pessoas detestam o trabalho que fazem.


Não é difícil concordar que coletar excrementos humanos com as mãos é uma função que ninguém gostaria de ter, e diversas instituições que trabalham em defesa dos direitos humanos tentam acabar com essa exploração sofrida por indianos de baixa casta:

Em 2013, uma lei foi criada no país para que esse tipo de trabalho deixasse de ser realizado. Segundo a nova legislação, essa função não passa, na verdade, de uma “prática discriminatória” – além da questão sanitária, há também a noção de que as pessoas que fazem essas atividades são inferiores às demais.


O problema para os Dalits é que, muitas vezes, essa é a única forma de emprego que encontram. Outros são ameaçados por seus chefes e, inclusive, pela polícia indiana, de modo que ficam com medo de abandonarem o trabalho. Como se não bastasse, em muitas situações essas pessoas nem mesmo recebem salário: trabalham em troca de comida e de um lugar para dormir com suas famílias, geralmente em cubículos apertados.



“Se eu vou a um hotel procurar emprego, eles querem saber qual é a minha casta. Uma vez eu disse a eles que sou Valmiki (uma espécie de subcasta), e eles me deixaram trabalhar apenas limpando os banheiros”, revelou um adolescente indiano à ABC.

Na Índia, é comum que as pessoas façam suas necessidades em banheiros públicos – esses ambientes são diferentes dos nossos e, em termos de comparação, é mais fácil compará-los com as “casinhas” antigas, que tinham um buraco no chão embaixo de um “vaso sanitário” de madeira. Por dia, 7 mil toneladas de excrementos são gerados apenas em Mumbai.

De acordo com os relatos do fotógrafo Olwe, que foram publicados na BBC, esses trabalhadores geralmente precisam mergulhar em tanques enormes, do tamanho de um ônibus, lotados de excrementos. Além dos dejetos humanos, essas pessoas também lidam com restos de animais mortos, comida podre, cabos de aço e, inclusive, lixo hospitalar. Sem falar, é claro, dos itens que causam ferimentos, como pedaços de madeira e lâminas.