PGR pede arquivamento em série de investigações que atingem Bolsonaro; Supremo dá protagonismo à PF
Desde setembro, a
Procuradoria-Geral da República solicitou dez encerramentos de apurações
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Luiz Vassallo
AAlém de inquéritos que investigam ações durante seu tempo na Presidência, Bolsonaro também voltará a responder por ações penais de quando era deputado federal, como as de injúria e incitação ao crime movidas pela ex-ministra Maria do Rosário.
Foto: Gabriela
Biló/Estadão / Estadão
Antes de Jair Bolsonaro (PL) deixar
o Palácio do Planalto e perder o foro privilegiado, a Procuradoria-Geral da República apresentou
novos pedidos de arquivamento de investigações criminais que envolvem o
presidente da República. Desde setembro, nas vésperas do primeiro turno, a PGR
solicitou dez arquivamentos de inquéritos e pedidos de investigação que
envolvem Bolsonaro. Em pelo menos cinco destes inquéritos relacionados ao relatório
final da CPI da Covid, as solicitações foram negadas pelo Supremo
Tribunal Federal (STF). Em três deles, a Corte deu à Polícia Federal o
protagonismo de parte das investigações.
Nos autos dos processos, senadores
da CPI da Covid e uma
associação de vítimas da pandemia têm rebatido a PGR e apelado à Corte para que
não enterre os inquéritos. Parte dos procedimentos nem sequer virou inquérito
formal e o Ministério Público não chegou a promover
diligências mais aprofundadas.
GR
pede ao STF arquivamento de três ações contra Bolsonaro
Na última segunda-feira, 7, a PF afirmou ao Supremo que fará as
diligências necessárias para concluir a investigação, e pediu a prorrogação dos
prazos dos inquéritos. Em ofício à Corte, o delegado Elias Milhomens de Araújo
disse que ainda não recebeu dados necessários da PGR e do Senado para dar
andamento aos casos.
No mesmo dia, a Procuradoria-Geral da República enviou ao STF mais um
pedido de arquivamento de inquérito contra Jair, Flávio e Eduardo Bolsonaro,
Onyx Lorenzoni, Osmar Terra, Bia Kicis, Carla Zambelli, todos indiciados pela
CPI por incitação ao crime. Neste caso, o pedido tem o endosso da PF, que
concluiu que o presidente, os ex-ministros e parlamentares não cometeram
crimes. A CPI sustentava que Bolsonaro cometeu delitos ao desencorajar o isolamento
social e medidas preventivas durante a pandemia.
"As falas questionadas, se eventualmente merecem crítica, devem
ficar sujeitas ao debate político e eleitoral, mas não penal, dado seu caráter
fragmentário e só incidente quando clara a violação ou colocação em risco do
bem jurídico relevante", afirmou a PGR. O relator do caso é o
ministro Luís Roberto Barroso, que ainda não decidiu se acolherá o
pedido.
Fake news e atos antidemocráticos
O presidente também é alvo de três inquéritos sob relatoria do ministro Alexandre
de Moraes. Na apuração sobre fake news, Bolsonaro é investigado por causa
de uma live em que atacou as urnas eletrônicas. "Repito: quem tirou o Lula
da cadeia? Quem o tornou elegível? É quem vai contar os votos lá no TSE na sala
escura. E devemos entubar e dizer que o ministro Barroso está certo? As urnas
são invioláveis?", disse Bolsonaro, na transmissão. Outro inquérito apura
as circunstâncias em que o presidente divulgou dados sigilosos de um inquérito
sobre uma suposta invasão hacker aos sistemas do Tribunal Superior
Eleitoral.
Em ambos os casos, a PGR também pediu o arquivamento das investigações,
o que foi negado por Moraes. Na busca por referendar suas decisões, o ministro
pôs o caso para votação no plenário virtual.
Em seu voto, Moraes afirmou que "a divulgação de dados de inquérito
sigiloso da Polícia Federal pelo Presidente da República, através de perfis
verificados nas redes sociais, teria o objetivo de expandir a narrativa
fraudulenta que se estabelece contra o processo eleitoral brasileiro, com
objetivo de tumultuá-lo, dificultá-lo, frustrá-lo ou impedi-lo, atribuindo-lhe,
sem quaisquer provas ou indícios, caráter duvidoso acerca de sua lisura".
O julgamento foi suspenso após um pedido de vista do ministro André
Mendonça.
A PGR também pediu ao Supremo o arquivamento da investigação sobre
suposta interferência política do governo na PF, aberta com base na denúncia do
agora senador eleito Sérgio Moro (União Brasil) quando ele
deixou o cargo de ministro da Justiça de Bolsonaro. A PF também se manifestou
pelo encerramento da investigação.
Após deixar o governo federal, o presidente também voltará a responder
por ações penais pelos crimes de injúria e incitação ao crime, referentes a uma
queixa-crime movida pela ex-ministra Maria do Rosário (PT).
Trata-se do caso em que, ainda deputado, Bolsonaro disse que a petista
"não merece" ser estuprada porque é "muito feia" e
"não faz" seu tipo. Estas ações chegaram a ser abertas pelo STF, mas
acabaram suspensas quando o presidente foi eleito, em razão da prerrogativa de
não responder a processos anteriores ao exercício do cargo.
O presidente pode ainda ter um reencontro com investigações sobre desvios de salários de gabinetes de seus filhos e de seu próprio gabinete à época em que era deputado. Foi durante o mandato presidencial que a quebra de sigilo bancário do MP do Rio identificaram que assessores do clã também sacavam seus salários quando estavam lotados no gabinete de Jair Bolsonaro na Câmara.
Na mesma investigação, foram identificados os cheques de R$ 89 mil
de Fabrício Queiroz para a primeira-dama Michelle
Bolsonaro. À época, Flávio Bolsonaro era investigado, e estes servidores
passaram pelo gabinete do senador à época em que ele era deputado estadual.
Como Bolsonaro já era presidente, também não poderia haver investigação. A
quebra de sigilo foi anulada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), mas o
Ministério Público estuda como reiniciar a investigação.
A Advocacia-Geral da União (AGU) defende Bolsonaro nestes inquéritos. Nos autos, o órgão tem afirmado que não há "justa causa" para investigar o presidente. No caso dos pedidos da CPI atendidos pelo STF para prorrogar investigações e passar o caso para a PF, a AGU afirmou que deve ser mantido o entendimento da PGR pelo arquivamento sob pena de "admitir estranha intervenção processual em que determinado indivíduo pleiteia medidas em nome da entidade (MPF), que goza de legitimidade processual para, em nome próprio, falar em juízo, em espécie de tutela ou curatela não prevista em lei". Em relação aos inquéritos de Alexandre de Moraes, a AGU também tem reiterado que "não há conteúdo ilícito em sua conduta que pudesse justificar" as investigações.
Procuradas, a AGU e a PGR não haviam se manifestado até a publicação
desta reportagem.
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