Mais de cinco anos se passaram desde que imóveis em cinco bairros de Maceió começaram a apresentar rachaduras. O solo no Pinheiro, Bom Parto, Bebedouro, Mutange e parte do Farol afundou por causa da mineração da Braskem. Desde então, moradores e comerciantes da região seguem inconformados e não aceitam a saída forçada de suas casas e estabelecimentos.
Em novembro, após cinco tremores de terra seguidos, a Defesa Civil de Maceió alertou para o "risco de colapso em uma das minas" próximo da lagoa Mundaú e os moradores do Bom Parto foram obrigados a sair de casa às pressas sob ordem da Justiça Federal, que autorizou até uso da força policial em caso de resistência.
O aposentado José Fernando teve que deixar sua casa, onde morava com a esposa, filhos e animais de estimação. Após a mudança, a família se separou.
"Minha família ficou dividida. A minha filha está morando com meu filho e eu estou com minha esposa em um apartamento que é quarto e sala". É lamentável e dá até vontade de chorar. A gente compra uma casa, remodela ela toda e depois é posto na rua. É de cortar o coração", conta.
A advogada Andrea Karla morava na mesma casa há mais de 40 anos, no bairro do Pinheiro. Ela teve que deixar o imóvel às pressas, de madrugada, após a chegado do Oficial de Justiça e de policiais. Deixou tudo para trás.
"É lamentável. Inclusive estamos chegando agora em um final de ano, vinha há 44 anos passando Natal no mesmo local e esse ano será o primeiro Natal sem casa. Nós estamos tristes tentando nos adaptar a nova realidade. Fui retirada de uma maneira muito grosseira, sabe? De madrugada, com a polícia, 60 pessoas para tirar uma pessoa, dona da casa, e dois adolescentes, e eu lamento bastante", relembra.
Um hospital que fica na área de monitoramento, o Sanatório, foi evacuado em meio ao risco de afundamento de terra de uma das minas da Braskem para extração de sal-gema. A unidade fica no bairro Pinheiro, vizinho ao Mutange, onde está localizada a mina 18, que se rompeu. Os pacientes que estavam no local tiveram que ser transferidos para outros hospitais da cidade.
"A gente recebeu um comunicado da Defesa Civil para se mudar imediatamente, então 90 pacientes em 12 horas foram transferidos para outros hospitais e 350 pacientes vêm fazendo hemodiálise", disse Julio Bandeira, diretor administrativo do hospital.
Uma Igreja Batista também foi interditada e os fiéis precisaram realizar os cultos em outro local. "A realização dos cultos a noite nas quartas-feiras ficou inviável para não colocar em risco a segurança das pessoas nós migramos. E aí há ocasiões que a gente realiza na casa de famílias da comunidade", explicou o pastor Wellington Santos.
O rompimento de parte da mina 18 da Braskem aconteceu no dia 10 de dezembro. Segundo a Defesa Civil, a cavidade foi preenchida com rocha e água da lagoa. O equipamento que monitorava e fazia as medições no local, foi levado pela água quando a mina afundou. Um novo equipamento foi instalado dois dias depois, mas somente nesta sexta-feira (22) que a Defesa Civil divulgou os primeiros levantamentos mostrando que o solo continua afundando.
Histórias deixadas para trás
As primeiras ordens de evacuação foram emitidas para moradores do Pinheiro, Mutange e Bebedouro em maio de 2019, quando o Serviço Geológico do Brasil (CPRM), órgão ligado ao governo federal, confirmou que a extração de sal-gema feita pela Braskem provocou a instabilidade no solo. Com o problema se agravando, a ordem também foi ampliada para parte do Bom Parto e do Farol.
Desde então, mais de 14 mil imóveis precisaram ser desocupados, afetando cerca de 60 mil pessoas e transformando áreas antes habitadas em bairros fantasmas.
As marcas da indignação foram deixadas por moradores nos muros dos imóveis, agora, totalmente desabitados, transformados em verdadeiros bairros fantasmas. Em algumas pixações, moradores contestam os valores das indenizações.
Os desabafos de tristeza estão por todos os lados. As famílias que tiveram que deixar tudo para trás deixaram frases nos muros que ajudam a contar a história de pessoas que foram separadas de seus parentes e de histórias interrompidas.
Moradores de área de risco convivem com o medo
Mesmo após o afundamento da mina 18 no início de dezembro, pelo menos cinco mil pessoas continuam morando em áreas afetadas pela mineração porque ainda aguardam os trâmites para inclusão no mapa de realocação, que prevê a retirada delas da área com risco. A Justiça Federal determinou a inclusão dos imóveis, porém a Braskem contestou a ordem judicial.
A doméstica Maria Aparecida é uma das moradoras que continua na área de risco.
“O meu maior medo é que aconteça um acidente com a gente aqui que tá de alto risco. Meu medo é esse. Eu não durmo direito. Meu maior é medo é esse que venha atingir a todos nós.", relatou a dona de casa.
O Ministério Público Federal (MPF) ajuizou uma ação pedindo o bloqueio de R$ 1 bilhão de verbas da mineradora para o pagamento das indenizações aos proprietários dos imóveis que foram incluídos nas novas áreas de monitoramento por causa do afundamento do solo, como determinou a Justiça Federal.
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